O cenário eleitoral de Santa Cruz do Capibaribe para 2024 começa a ganhar contornos definitivos para o grupo que administra a cidade, os Foguetinhos, e para o que se configurou como grande ameaça em 2020, os Verdes, que no momento não podem ser chamados, apropriadamente, de Carneirinhos, uma vez que muita gente duvida que o empresário Alan Carneiro, a vedete política do grupo, volte às disputas eleitorais depois dos insucessos para prefeito e para deputado estadual. Mesmo assim, certo e evidente pode-se afirmar: a chamada segunda via terá candidato próprio e não fará composição com o grupo Azul. E a certeza disso vem com a chegada do ex-candidato a prefeito pelo grupo Boca Preta, Dida de Nan. Não é razoável imaginar que Dida ingresse no grupo e não esteja na chapa majoritária, mesmo que na condição de co-piloto. O mesmo Dida teve as portas fechadas no grupo do prefeito, que era o seu grande desejo. Sentindo a cadeira cobiçada pelo “matuto”, o vice-prefeito Helinho Aragão tratou de colocar as pretensões do sanfoneiro num lugar pouco atraente para quem foi tudo no grupo Azul, uma vaga na chapa de vereadores. Assim, Helinho matou dois coelhos com uma só cajadada: vingou-se do boato espalhado por Dida (“ouvi lá no campo de futebol que a chapa do prefeito não está definida”) e o jogou no meio das feras que vão disputar as eleições proporcionais, contando (as feras) com a simpatia explícita do prefeito e a força da máquina para turbinar a performance eleitoral. As mesmas feras que, se puderem, vão moer o esquema eleitoral de Carlinhos da Cohab, como tentaram agora para o Conselho Tutelar. Helinho deve ter tido um tête-à-tête com o prefeito do tipo: “chefe, anuncie logo a renovação da nossa parceria para acabar com as especulações”. Entre a cruz (Diogo) e a espada (Zé Augusto Maia), o chefe da municipalidade preferiu enfrentar a espada a perder os 15 milhões do Carreras, caso mexesse na chapa.
Dessa forma, é plausível concluir que, duas, das quatro cores que vão disputar o trono municipal no ano que vem, já estão definidas e consolidadas. Há quem aposte em cinco candidatos, acrescentando uma natural candidatura Azul, uma candidatura dos que se apresentam como “patriotas” e uma quinta do “renegado” José Augusto Maia. Porém, há uma clara divisão no agrupamento que tem o ex-presidente Bolsonaro como “muso inspirador”. Uma parte, capitaneada por Adilson Bolsonaro, sinaliza fortemente um apoio ao candidato Verde e outra, liderada pelo suplente de deputado federal, Robson Ferreira, que já expôs publicamente o desejo de ser candidato e, nesses últimos dias, tem sido visto confabulando com expoentes dos Boca Pretas e confraternizando com a militância Azul nas chamadas “malas”. Os gestos têm muito simbolismo na política e o flerte de Robson com os Bocas não deve ser apenas uma gentileza social. Difícil é imaginar como formar uma chapa com os nomes de Alessandra Vieira e Robson Ferreira, caso o empresário não relativize a afirmação de que não seria vice de ninguém. E resta ainda uma definição: quem dos patriotas vai ter mais tutano para ficar com o PL municipal e, naturalmente, mais cacife político?
Por último vem o personagem que embaralha as mentes de quem se propõe a prever um cenário para a disputa de 2024: José Augusto Maia. Caso o prefeito Fábio ainda se disponha a conversar com o ex-prefeito, este já iria ao encontro com uma certeza: nem cacique, nem muito menos índio. Não há na taba dos Foguetinhos qualquer lugar para acomodar as naturais pretensões do criador do Moda Center. Isso inclui até simples sugestões políticas e administrativas a título de contribuir com a administração municipal. O prefeito deve apostar num dilema familiar para que Zé recolha a viola e deixe para fazer uma seresta eleitoral em outra oportunidade. Ou simplesmente não acredita que ele cante para mais de meia dúzia se ousar colocar seu nome na urna eletrônica no ano vindouro. Não é inteligente subestimar o resultado eleitoral de 2022, quando o pai de Tallys e Augusto amealhou inacreditáveis 8 mil e poucos votos e o poderoso Eduardo da Fonte 10 mil. Considerando a estrutura, foi um “empate técnico” e um combustível para reflexões: “se eu entro no páreo, elejo meu primogênito, faço um furo na estrutura do foguete e, com minha palheta Taboquinha, executo um concerto eleitoral e arrisco a me tornar um azarão, como Bartolomeu Quidute, em Garanhuns, por quem não se dava um tostão e terminou desbancando as “vias” mais fortes.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.