Em seu périplo midiático nesse mês de agosto, o ex-vereador, ex-candidato a vice-prefeito, ex-vice-prefeito e ex-candidato a prefeito, Dida de Nan, apresentou os “motivos” das suas mágoas com os companheiros de grupo Azul: um suposto abandono de três anos após o pleito de 2020 (vide entrevista à rádio Polo, em 14/08) e o fato de que alguns companheiros foram contra sua candidatura, preferindo o nome de Joselito Pedro como cabeça de chapa (conforme entrevista à rádio Comunidade em 23/08). Sobre a primeira queixa, o ex-prefeito Edson Vieira, no programa dos vereadores de oposição, na rádio Vale, aos sábados, elencou uma série de encontros que teve com Dida após as eleições. Encontros não negados pelo ex-candidato. Se, quem cala consente, os encontros ocorreram e, portanto, a primeira queixa torna-se inválida. Sobre o fato de que alguns companheiros não queriam sua candidatura, incluindo o ex-prefeito Edson Vieira, nada mais pueril da parte de Dida. Ora, a disputa é a essência de um partido político. Se tem mais de um pretendente, algum tipo de escolha haverá. E não prevaleceu a vontade do “cacique” Edson e sim o desejo da maioria. Concluído o processo de escolha, todos, os “contra” e os a “favor”, engajaram-se na campanha do “matuto”. Mas, excetuando-se o grupo do qual ainda faz parte, o Azul, que deu a Dida a vaga mais cobiçada por um político de Santa Cruz, a candidatura a prefeito, quais suas perspectivas nos demais agrupamentos políticos já formados e naqueles que podem surgir daqui para o pleito? A resposta é óbvia: nenhum deles dará ao sanfoneiro de Poço Fundo a cabeça da chapa. Restando-lhe duas possibilidades: ser vice de alguma chapa ou aceitar a oferta do vice-prefeito Helinho Aragão e ser candidato a vereador. De cara, o “patriota” Robson Ferreira já descartou veementemente a possibilidade de ser vice de alguém. Não se concebe que, tendo a corajosa atitude de romper com o prefeito Fábio, o ex-prefeito José Augusto Maia aceite sentar no banco do carona e Dida no volante do caminhão eleitoral. A decisão de Zé Augusto de se lançar no pleito só se justifica se for para ser candidato e prefeito. Portanto, Dida NÂO será candidato a prefeito com os taboquinhas de Zé Augusto, NÂO será com os patriotas de Robson Ferreira, nem com os foguetinhos do prefeito Fábio Aragão.
Restariam duas opções para o “valorizado passe” do ex-candidato a prefeito pelo grupo Azul: formar seu próprio núcleo político, possibilidade em que nem o próprio Dida acredita ou então aquilo em que todo mundo aposta, se juntar com os verdes, os mesmos que questionaram sua cognição durante a disputa de 2020, no mesmo posto que ocupou como azul, vice-prefeito de Santa Cruz, caso as “virgens” consigam repetir em 2024 a surpreendente performance eleitoral de 2020. Esse parece ser o desejo que Dida mal consegue esconder, mas que suas palavras e gestos políticos evidenciam. Os verdes deixariam de compor uma aliança com um grupo que tem ex-prefeitos, ex-deputados, sete vereadores, uma ex-candidata a vice-governadora, um ex-prefeito que pode assumir uma cadeira na ALEPE para firmar um compromisso apenas com Dida, supondo que com isso estaria resolvendo a fragilidade eleitoral na zona rural? Só a ilusão e o orgulho de uma pureza gasosa optariam pela segunda opção. Lembrando que as nuvens políticas podem mudar rapidamente e baixar a crista de Capilé e Alan César. Lembrando também que é pouco provável que os azuis se sintam contemplados com Dida na vice dos verdes.
O que se depreende, nas entrevistas, é que Dida já “saiu” do azul, que o brilho dos seus olhos já são verdes como as esmeraldas, que seu coração pulula pelos carneirinhos, mas lhe falta o “tônico” que o ajude a por em prática a decisão que já tomou, a chamada “desculpa”, para que não carregue na mente o peso de abandonar uma convivência de cinqüenta anos, conforme ele mesmo sempre destaca e no rosto um sorriso acanhado próprio de decisões assim. Até aqui, não teve, de nenhum azul, a mercadoria que tanto deseja para colocar no seu caminhão e rumar para outras plagas políticas. E não deve ser fácil pra ele sair de onde teve as maiores oportunidades de sua carreira política. E certamente ainda teria, caso a decisão fosse fruto de uma serena reflexão e não das “cordas” que estão lhe lançando e que, ingenuamente, pode engolir. Nessa novela mexicana, franqueza mesmo teve o vice-prefeito Helinho. Ofereceu uma vaga de candidato a vereador no “foguete que não dá ré” (mas está sujeito a turbulências), e disse que a chapa da situação está fechada, ou seja, para vice foguetinho, Dida, não.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.