Quase todo mundo sabe, principalmente os professores, que o dinheiro do Fundeb - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - deve ser utilizado com os profissionais de ensino e despesas ligadas às escolas.
Quando foi noticiado que a Prefeitura de Saloá ia bancar algumas atrações juninas, na festa da cidade, com dinheiro da educação, já se podia imaginar que alguma medida poderia ser tomada contra a má utilização dos recursos públicos.
E aí não deu outra: a questão foi parar na justiça e o magistrado que analisou o caso proibiu o show que seria realizado no município vizinho nesta última sexta-feira.
O prefeito de Saloá, Júnior de Rivaldo, aparece num vídeo que circula nas redes sociais nitidamente contrariado. E apoiadores do prefeito usaram uma palavra suja para criticar a oposição, responsabilizada pelo cancelamento da apresentação.
Roberto Magalhães, quando governador de Pernambuco, teve que atender uma decisão judicial que contrariava sua gestão. Procurado pela imprensa respondeu: "Decisão judicial se cumpre".
O exemplo de Magalhães, um político correto, que além de governador foi prefeito do Recife e deputado federal, sem nunca deixar uma mácula em seu trabalho político, devia ser seguido pelos gestores de hoje.
Ora, tem prefeito por esse Brasil afora querendo pagar mais de 1 milhão por duas horas de show de Gusttavo Lima, quando paga R$ 2 mil por mês por 30 dias de trabalho de um professor.
Embora a situação do Brasil seja caótica, com um governante completamente despreparado para o cargo que ocupa, ainda existem leis e juízes dispostos a dar um basta nos absurdos.
E nossa democracia, apesar de vir sendo atacada com frequência, ainda funciona. Além do Judiciário temos o Legislativo para fiscalizar e parlamentares ou mesmo ex-parlamentares de oposição para cobrar.
O caso de Saloá, como ficou evidente acima, não é isolado. O já citado Gusttavo, o cantor Zé Neto e outros sertanejos estão envolvidos em rolos por aí que chamaram a atenção da imprensa nacional e do judiciário e de agora por diante vai ficar cada vez mais difícil usar dinheiro público a jorro para bancar festas.
Aqui mesmo em Garanhuns, num passado não tão distante, tivemos problemas relacionados à contratação de artistas. Dirigentes da Associação Comercial da cidade chegaram a sofrer algum tipo de punição, sem que na verdade todos os malfeitos tenham sido devidamente esclarecidos.
Ninguém aqui está dizendo que não devem ser realizadas festas, shows. Diversão e cultura devem caminhar juntos e é muito bom, na época junina, assistir um show de Flávio José, Maciel Melo, Elba Ramalho ou Alceu Valença.
Mas que se use para pagar esses ou outros artistas dinheiro da Secretaria de Turismo do Estado, da Empetur ou mesmo do Ministério do Turismo, que têm verba específica, legal, para promover eventos.
Se tirar recurso da educação para shows pode faltar o do professor ou da merenda. Mexendo no dinheiro da saúde pode prejudicar até mesmo a compra de medicamentos.
Um bom gestor pode realizar obras de pedra e cal e festas. Mas tudo dentro da lei, respeitando o dinheiro que é do povo.