Um áudio divulgado pelo jornalista Júnior Albuquerque, no programa Ernesto Maia, da rádio Comunidade FM, expôs um clima de tensão entre pré-candidatos do grupo Taboquinha à câmara de vereadores de Santa Cruz do Capibaribe. Já se sabia de uma atmosfera ruim que poderia estar atingindo o vereador Carlinhos da Cohab, apenas não estava explícita. Clima ruim que não começou agora, mas lá atrás, naquele entrevero que o vereador teve com o prefeito Fábio Aragão. Evento que marcou uma linha divisória na relação entre dois. De cordeirinho acanhado e obediente, temeroso do tom bélico do vereador, o prefeito puxou o freio e enquadrou Carlinhos. O freio foi tão forte que o parlamentar cogitou a possibilidade de não mais disputar eleições. Não se sabe exatamente os motivos, mas todo mundo falava que tinha a ver com espaços na gestão do prefeito, partilha de currais eleitorais, ciúmes de colegas de bancada e a ação de alguns secretários.
O fato é que ali o vereador percebeu que teria novos adversários com que
se preocupar na disputa pela reeleição e estes novos adversários não estavam
nos grupos rivais apenas, e sim dentro do seu próprio terreiro taboquinha. È o
que se convencionou chamar de “fogo amigo”, ou seja, um fogo que não vem da
trincheira do inimigo à frente. Fogo este que o estilo do próprio vereador pode
ter motivado. Os meses subsequentes deram a impressão de que “bombeiros”
poderiam ter extinto as chamas e a convivência minimamente pacífica tinha
voltado. Mas a recente montagem das chapas com as prováveis pré-candidaturas a
vereador parece ter reavivado a brasa da rivalidade interna que estava
ocultada. E agora não há mais nada que um pré-candidato possa fazer se se sentir
incomodado com a legenda a que está filiado. È ir em frente ou desistir.
No áudio em questão, estava a voz do ex-vereador Doutor Nanau, conhecido
nas redes sociais pela longevidade que dedica aos grupos políticos que se
alternam na gestão do município. Importante destacar que o ex-vereador foi o
secretário de saúde da gestão passada, dos Bocas Pretas, pasta responsável pela
UPA, que o vereador Carlinhos chamou de “chiqueiro de poico”, num dos disparos
de metralhadora que costuma fazer no seu programa das manhãs de sábado. E até
recentemente, 5 de abril, o ex-secretário era o sub da irmã do prefeito, Simone
Aragão, na referida secretaria, que agora administra a “Nova UPA”. Um verdadeiro
angu político. Recentemente desincompatibilizado, doutor Nanau vai disputar uma
vaga de vereador diretamente com Carlinhos da Cohab, na mesma chapa e é tido
como forte candidato. Rola nas redes sociais que o doutor Nanau teria dois
generais eleitorais (cabo eleitoral é para os outros): o vice-prefeito Helinho
Aragão e o chamado supersecretário Marcelino Cumaru. Não há evidências que sim,
mas não há, tampouco, afirmativas que não.
Então, numa chapa com o vereador
Flávio Pontes, o ex-prefeito Toinho do Paraná, o ex-secretário doutor Nanau, o
vereador Carlinhos se vê ameaçado eleitoralmente e admitiu no último programa
que pode estar sendo cozinhado em banho Maria. Não só admitiu como deu nome a
alguns “bois”. A principal queixa do vereador é que se diz fiel ao grupo desde
sempre, principalmente naquele episódio de 2020 quando, segundo dizem, teria
ficado ao lado do pai do prefeito na disputa com o PSB pela candidatura que resultou
depois no mandato do prefeito Fábio.
Enquanto muitos chamavam seu Fernando de “enfadado” e estão agora lotados na
gestão municipal. Especificamente ao ex-secretário, Carlinhos o considera um
pula-pula, cujo amor político se dissolve como um efervescente Sonrisal e uma
nova paixão surge, independente da cor, contanto que tenha uma caneta para
assinar o ato e posteriormente publicar no diário oficial.
Goste-se ou não do vereador, há que se reconhecer o mérito da sua
queixa. Seu comportamento político é reprovável, talvez esteja fazendo uma
colheita do que plantou, mas nesse episódio razão ele tem. E até se compreende
seu desabafo porque quem deveria
apaziguar está silente endossando os “pula-pula”. Não se tem o mínimo resquício
de que o prefeito Fábio esteja mediando a situação. Para tranquilizar Carlinhos
e reconhecer sua fidelidade ao pai e ao grupo e também para acolher o doutor
Nanau, já que a soma política é sempre o objetivo para garantir a vitória. Não
há da parte de nenhum personagem do grupo Vermelho uma iniciativa pacífica, há
sim, um silêncio desesperador para o parlamentar. Como se agora ninguém fizesse
mais questão de esconder que o objetivo é fazer com ele o que o Leão do Pici fez
com o Gatinho da Ilha do Retiro. E a situação não é tranquila para o vereador.
Dizem que das duas vagas certas da chapa , uma estaria assegurada para Flávio Pontes e a outra seria
para o vencedor do “vale tudo” entre Carlinhos, doutor Nanau e Toinho do
Paraná.
Se observarmos, os “ETs” têm mais prestígio na gestão do que o vereador
Carlinhos. Gilson Julião, Emanuel Ramos,
Irmão Soares não estão tensos com a chegada do processo eleitoral e não sofrem
internamente qualquer “fogo amigo”. Carlinhos já ficou no povão lá na vila do
Pará enquanto seus colegas estavam no palanque com o prefeito, já ficou sozinho
no episódio Takegate e agora não apareceu no lambe-lambe tirado em Brasília
durante a marcha dos prefeitos. São sete homens, mas o único destino em foco é
Carlinhos da Cohab. Ele que se prepare, o fogo crepita, estão de olho no seu
horário semanal aos sábados na rádio Vale, A Voz do “Pavão”. E não é apenas o
doutor Nanau, supostamente turbinado pelos personagens supracitados. Para fechar, um detalhe pitoresco. Além da
artilharia de Carlinhos na direção de doutor Nanau, um personagem das redes
sociais puxou sua garrucha e também disparou na direção do ex-secretário,
atribuindo-lhe essa modalidade política do pula-pula. Trata-se do popular
Bigode, um especialista na prática. Um caso eloquente do “sujo” falando do “mal
lavado”. Oficialmente, pelo menos até 6 de outubro, Bigode é Boca Preta,
considerando o voto que digitou em 2020, mas já foi Zé Augusto e agora nas
redes sociais é Vermelho, esperando apenas o “divórcio”, ou seja, digitar o
número do prefeito Fábio na urna para entrar eleitoralmente no grupo.
Administrativamente já entrou porque essa entrada precede àquela quando se
trada de “pula-pula”.