Há quase seis décadas, o Brasil mergulhava em um tenebroso período de trevas quando, no dia 31 de março de 1964, os militares deram um golpe de Estado para calar a democracia do país. Passados 38 anos desde a redemocratização, os brasileiros encontram-se novamente com a sua história.
Quinta-feira (30) o governo Lula trouxe de volta a Comissão de Anistia, um instrumento fundamental para a compreensão do passado e construção da nossa cidadania. A cerimônia de reabertura do colegiado foi conduzida pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, às vésperas do trágico dia que escureceu o Brasil.
Na sessão solene, homenagens aos brasileiros que lutaram contra a ditadura e a análise de processos de pedidos de anistia feitos por perseguidos pelo regime militar. Em discurso emocionado, Almeida relembrou a tragédia que se abateu sobre o país, cujo caráter desumano foi diversas vezes reverenciado pelo governo anterior. “Alguém já se esqueceu de tudo isso? Tudo ficará por isso mesmo?”, perguntou Almeida, fazendo referência ao livro Retrato Calado, de Roberto Salinas Forte. A obra aborda os crimes cometidos pela ditadura.
Na sessão, foram analisados os pedidos de quatro postulantes, inclusive processos indeferidos pelo governo Bolsonaro: Romario Cezar Schettino, Claudia de Arruda Campos, José Pedro da Silva e Ivan Velente. Como se sabe, a comissão foi completamente desmantelada por Bolsonaro, um confesso apreciador do regime assassino que vigorou no país por 21 anos.
O ministro apontou os efeitos devastadores do regime de 1964, que além de calar a liberdade e matar civis, agravou o enorme abismo social entre ricos e pobres. “A redemocratização não alcançou parcelas expressivas da população brasileira: os trabalhadores e trabalhadoras que moram nas periferias e favelas, negros e negras, povos indígenas”, declarou. “E não nos enganemos: tudo isso tem uma ligação direta com os fatos ocorridos no período ditatorial e do qual ainda não demos uma resposta efetiva”, afirmou Almeida.
"Nunca mais!” esse foi o grito dos presentes na 1ª sessão da Comissão de Anistia que reiniciou os trabalhos de análise dos requerimentos de anistia a perseguidos pelo Estado brasileiro no período da Ditadura Militar.
O ministro destacou que o Brasil precisa encarar o próprio passado para construir o futuro. “Nosso sofrimento comum é, para o bem e para o mal, a nossa força. E, para que ela cresça, essa história precisa ser recontada, para que atrocidades não se repitam”, observou.
A Comissão de Anistia é, nas palavras do ministro, o respeito à Constituição Federal, às leis e aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. E também um instrumento para garantir o respeito às vítimas do regime sanguinário que aterrorizou o país pelas mãos do Estado.