Em entrevista à rádio CBN Recife, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE) expôs sua discordância a respeito da decisão do partido de permanecer na base do governo Temer. Daniel lamentou a decisão e a maneira como foi tomada a decisão. Segundo ele, “o partido está mais do que rachado e dividido neste momento” e “ficar neste governo podre, da maneira como ele está, é o caminho da perdição completa”.
Abaixo, os principais trechos da entrevista. Em anexo, segue o áudio completo.
Sobre a decisão do partido de permanecer na base do governo Temer:
“Lamento a decisão que não foi tomada e terminou sendo tomada. Digo que não foi tomada porque a Executiva não deliberou, não foi permitido que fossem colhidos os votos dos integrantes da Executiva, dos deputados, dos senadores. Foi muito mais uma decisão de cúpula do que qualquer outra coisa. A vontade da bancada continua muito forte em sair do governo, inclusive o líder da bancada dos deputados na Câmara, (Ricardo) Trípoli (PSDB-SP) disse que encaminhará voto para a abertura de investigação contra Temer. Então o partido está mais do que rachado e dividido neste momento. E acho que ficar neste governo podre, da maneira como ele está é o caminho da perdição completa”.
“Acho que o PSDB está errando e essa justificativa de que é pelo bem do país, pelo bem da economia, não se justifica. Até porque, eu me lembro, este era o argumento do PT quando tentava segurar Dilma. Quando a gente está falando de questões éticas, de combate à corrupção, quando a gente está falando das questões morais, nenhum argumento pode prevalecer. Até porque não é Temer ou qualquer outro homem que, sozinho, vai conseguir fazer a economia brasileira andar. A economia anda por vários fatores e, como alguns dizem, apesar do governo. Então acho que nós podemos manter o ritmo de retomada econômica brasileira, mas sem estar participando desse governo com cargos e sem nos envolvermos com esse lamaçal que está em Brasília”.
Sobre a possibilidade de parlamentares deixarem o partido:
“Sempre há essa possibilidade. Não vou dizer que já há alguma coisa concreta nesse sentido. No momento, inclusive, acho que a bancada de deputados está consciente de que ajudará mais fazendo pressão dentro do partido do que simplesmente saindo, até porque a pressão que ocorre por parte dos deputados do PSDB é que força essa discussão. Mas é evidente que se o partido não reencontrar seu caminho você tem uma janela em abril e aí pode acontecer tudo, inclusive a saída de alguns parlamentares, mas não é essa nossa prioridade no momento.
Foco no país, não em partidos:
“Eu tenho dito que esta não é a hora de pensar em partidos, é a hora de pensar no Brasil. Eu, com sinceridade, e digo lamentando, não com felicidade, mas com sinceridade, eu não estou preocupado com PT, com PSDB, com PMDB, estou preocupado com o Brasil, com essa lama de corrupção que a gente tá vendo aqui em Brasília, com a falta de respeito à legalidade, à justiça, ao que é correto. Essa, sem dúvida, é uma das maiores crises que o Brasil já viveu. Uma crise profunda que atinge a oposição e o governo. Então não é hora de estarmos pensando ou em projeto eleitoral, ou em projeto partidário. Vamos ter uma reunião junto com alguns deputados que estão pensando da mesma forma que eu, nós vamos tentar ir buscar uma posição coletiva que pressione o governo e o PSDB a entregar os cargos e passar a discutir exclusivamente as pautas de interesse do país. Nós não podemos nos envolver com essas tentativas de controlar a justiça, de parar a Lava jato, de negar fatos ou de criar um ambiente de criminalização das investigações. A gente vê alguns discursos do PT, do PMDB e até do PSDB, discursos que querem inverter a lógica. Parece que agora o criminoso é quem está investigando e não quem utilizou dinheiro público de forma ilegal”.
Sobre a divisão dentro do PSDB:
“Dentro da bancada de deputados federais eu sinto que há uma leve maioria a favor da saída do governo – e não dá para a gente regionalizar. Dentro da bancada de São Paulo nós temos deputados expoentes que falam em saída do governo, outros que falam em ponderação. Agora, a decisão também colocou à mesa governadores, prefeitos e talvez nesse ambiente, de governadores e prefeitos, tenha pesado um pouco a posição de ficar. Mas não é correto dizer que a maioria do PSDB quer ficar, porque não foi colocado em voto. Ontem, a reunião foi feita de forma equivocada. Você ouvir a todos, não colocar em voto e dizer que não é hora de decidir é a mesma coisa que você decidir por ficar sem fazer isso de forma democrática. Então foi um caminho muito ruim, enfraquece o partido, mas a luta continua, porque não é uma luta pelo PSDB, é uma luta por aquilo que é correto e pelo país”.
Sobre como o grupo dos deputados que discordam da decisão do partido deve agir:
“Primeiro, a gente atuar de forma coesa e em bloco. É muito ruim o parlamentar, numa Casa com 513 deputados, ter uma atuação isolada, sozinho. Nossa busca de influenciar as votações é pequena, então, primeiro que esse grupo comece a trabalhar de forma articulada e em conjunto. E depois deixar muito claros quais são os motivos que nos fazem querer que o partido saia do governo e porque a gente entende, inclusive, que deve ser aberta a investigação contra o presidente Temer. Esse tema irá a voto, a PGR deve apresentar denúncia e inevitavelmente nós iremos nos posicionar através do voto. Individualmente cada parlamentar vai ter que fazer isso. Então também temos que conquistar apoios para que as investigações ocorram. Seria uma desmoralização completa se o Congresso nacional não aprovar uma investigação contra o presidente Temer depois de tudo o que a gente sabe”.