O filme "Sociedade dos Poetas Mortos" completa exatos 35 anos em 2024, desde o seu lançamento.
É cinema da melhor qualidade, que marcou a vida de muitas pessoas, de 1989 até os dias atuais.
Longa tem a direção do australiano Peter Weir, cineasta que assinou outros excelentes trabalhos, como "A Testemunha", com Harrison Ford, o "Show de Truman (Jim Carrey) e o mais recente "O Caminho da Liberdade".
Sociedade, estrelado por Robin Williams em sua melhor forma, permite muitas leituras.
É uma crítica ao autoritarismo da escola e da sociedade em geral.
Numa escola tradicional dos Estados Unidos, adolescentes são submetidos a uma rígida disciplina, são pressionados a manter uma tradição de muitos anos com o objetivo final de ingressar na Universidade, como engenheiros, advogados ou médicos, de preferência.
Chega um professor novo no colégio, John Keating e quebra o protocolo, subverte as regras, contrariando a direção e outros docentes.
Seus jovens alunos, porém, ficam encantados.
Começam a gostar de poesia, passam a apreciar Shakespeare e outros autores clássicos.
As aulas de Keating são divertidas, deixam os estudantes felizes.
Aprendem a pensar e são tomados por desejos de libertação.
Seguindo os caminhos do professor, quando aluno da escola, fundam a Sociedade dos Poetas Mortos.
Um pequeno grupo se reúne numa gruta, longe dos olhos da direção e dos professores mais rígidos, para ler poemas de autores consagrados e também de sua própria autoria.
Neil Perry, um dos alunos, integrante da sociedade, tem paixão pelo teatro e deseja fazer artes cênicas.
O pai, porém, pra lá de autoritário, proíbe o garoto de fazer o que gosta e quando o rapaz o desobedece tira-o do colégio para mandá-lo para uma escola militar.
Objetivo é torná-lo médico, dar ao filho as chances que ele não teve.
Pressionado, triste, Neil tira a própria vida.
A notícia logo chega à Academia de Elite, deixando seus colegas transtornados.
O pai do suicida, responsável pela tragédia, transfere a culpa para o professor, que na sua visão influenciou negativamente os estudantes.
Direção da escola também se exime de qualquer culpa e resolve fazer de Keating o "bode expiatório".
Embora ficção, "Sociedade dos Poetas Mortos" tem muito a ver com a realidade.
Nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Brasil, em muitos lugares os colégios eram excessivamente rígidos, a educação funcionava como uma camisa de força.
Jovens mais sensíveis, principalmente os inclinados às artes, sofreram traumas terríveis nesses lugares.
Os métodos pedagógicos retratados no filme foram mais comuns na primeira metade do século XX. Mas ainda hoje existem resquícios desse modelo, até mesmo em alguma escola perto de nós.
Keating foi derrotado? É errado dar liberdade e ensinar a pensar?
Foi injusto colocar a culpa nele, pela morte do garoto?
A resposta a essa pergunta pode ter sido dada no próprio filme, com uma improvisada rebelião dos adolescentes, na despedida do professor.
Boa parte deles desafia o atônito e autoritário diretor, ao subir na carteira escolar e saudar o mestre, chamando-o de capitão.
Ele sorri, agradece e fica a mensagem que ecoa até hoje.
Em algum lugar haverá lugar para a filosofia de Keating, sua prática pedagógica será valorizada e o lema da Academia Americana poderá um dia ser esquecido, depois de desmoralizado.
"Tradição, honra, disciplina e excelência". Na verdade isso é puro fascismo, hipocrisia, uma camisa de força que na tela ou na vida pode levar outros a desistirem da caminhada.
Principal trabalho na carreira de Robin Williams, "Sociedade dos Poetas Mortos" ficou na memória, marcou a vida de muitos. Como o garoto do filme, o ótimo ator americano também tirou a sua própria vida, quando estava na meia idade.
"Sociedade" é um dos melhores filmes de temática educacional já realizados (e olha que têm outros muitos bons). Três décadas e meia depois continua atual, encerrando grandes lições, servindo de bússola para professores de mentes arejadas. Vale a pena ver e rever.