Até quarta-feira, dia 10 de julho, ninguém sabia exatamente por que motivo o senhor Alan Carneiro “bi-desistiu” de voltar a disputar a prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe. A divulgação da tal carta, em janeiro de 2023, deixou todo mundo com uma interrogação na cabeça: por que uma pessoa que bateu na trave para ser prefeito de uma das maiores cidades do interior de Pernambuco, do nada, divulga uma carta abdicando das disputas eleitorais, sem um motivo aparente? O mais lógico, em qualquer lugar, inclusive em Chorrochó, BA, seria fazer como fez o senhor Fernando Aragão. No outro dia após o pleito de 2016, já estava "em campanha" para 2020.
Mas isso não foi o pior. Exceto o radialista
Geraldo Silva, ninguém, nem o próprio Alan I, acreditou naquela lorota escrita.Tanto
que ele alimentou por um ano a possibilidade de imitar o ex-presidente FHC:
"esqueça o que eu escrevi". Foi preciso um segundo momento para
confirmar que a carta era pra valer e, portanto, como símbolo do Verde, passou
a navalha na expectativa de muita gente, principalmente de quem mudou de grupo
político acreditando que Alan teria tutano para tirar a prova dos nove contra
Fábio Aragão e, posteriormente, Helinho Aragão. Mas, até ali, todo mundo
compreendendo suas ocultas razões, certamente de cunho particular, que não
convinha trazer a público. Até que inesperadamente, numa entrevista aos
radialistas Cilas Tenório e João Bosco, na Rádio Comunidade, o senhor Alan,
tomado por uma franqueza inusual e surpreendente, revelou o verdadeiro motivo
de não se apresentar na disputa de outubro pelo maior cargo da municipalidade:
MEDO. Claro que, como verde, usou o eufemismo "passar o bastão", numa
tentativa de convencer ninguém da sua fraqueza política.
Foi essa condução desastrosa e
patética do senhor Alan I a responsável pelo definhamento de um grupo político
que se mostrou tão promissor logo na estreia do desafio eleitoral, em 2020. Na
ocasião em que confirmou que estava “passando o bastão”, descobriu também que
se encontrava sozinho para esse revezamento, ou seja, comunicou que ninguém da
cúpula verde aceitara substituí-lo na missão de superar novamente o grupo Azul
e abreviar a jornada do Vermelho à frente do leme municipal. Sendo assim, sobrou
para o baixo clero, primeiro com Capilé, “cassado” uma semana depois pela falta
de entusiasmo dos caciques e pelo fogo amigo de uma colega parlamentar, e
depois com o professor Alan Clemente e seu entusiasmo juvenil. Este, porém,
recebeu um inequívoco endosso dentro do grupo Verde. Parecia que, finalmente,
uma cobaia se efetivaria como candidato, com dupla missão: uma formal,
representando a presença do grupo na disputa, e outra eleitoral, como escudo
para a covardia dos empresários. Uma votação pífia seria creditada ao
candidato.
O grupo sonhava também com o apoio do
deputado Eduardo da Fonte e seu poderoso PP ocupando o posto de vice do
professor Alan, estrategicamente filiado ao Novo, numa precaução contra uma
eventual rasteira muito comum nas disputas eleitorais. Essa ilusão chegou até a
empolgar outro professor, filiado ao partido de Da Fonte. Empolgação turbinada
por analistas e postagens em redes sociais, sem muita sintonia com a lógica da
política e de políticos raposas velhas como o chefão do Progressistas. Uma
aposta pueril, uma vez que o PP tinha o “abacaxi” Robson registrado nas suas
fileiras. E esse abacaxi não foi tirado do PL sem a promessa de uma
contrapartida, uma posição de protagonista na eleição vindoura. Tratava-se de
um suplente de deputado federal, com trinta mil votos no Estado, sendo dez mil
apenas em Santa Cruz, ou seja, no município, Robson tem, até a próxima eleição
nacional, o mesmo tamanho do mandachuva do PP.
Para coroar essa chanchada do Verde,
eis que o professor Alan, talvez sentindo o cheiro de queimado ou pressentindo
que seu bastão seria tomado, logo após lançar sua principal proposta de
campanha, uma placa na divisa entre Santa Cruz e Pão de Açúcar, resolve também
entregar o bastão (nesse caso, não por covardia e medo) e ser mais um nome do
grupo na galeria dos desistentes, deixando a meia dúzia de pré-candidatos a
vereador na rua da amargura e da incerteza. Sem falar no outro grupo de
proporcionais aprisionados no PP por causa da indecisão do senhor Alan I.
Aliás, o próprio Valmir Ribeiro atribui a Alan Carneiro e sua hesitação a perda
do controle do PSD e do MDB, estando agora reféns de Robson Ferreira e Eduardo
da Fonte, já que o controle do Novo é tão firme quanto as pré-candidaturas do
próprio grupo.
O dia D está chegando, cinco de agosto,
prazo final para todas as definições partidárias. Já está precificado que o
“Verde não vêm” ou vem raquítico. Vai depender, mais uma vez, da decisão dos
“diferentes”. Podem engolir o sapão Robson, num esforço para não prejudicar os
pré-candidatos a vereador, tanto do Novo quanto dos aprisionados no PP; podem
lavar as mãos e entregar à própria sorte quem acreditou na perspectiva
eleitoral do grupo ou podem, finalmente, abrir fogo contra a dupla do PP, como
se ela fosse a responsável pela marmelada em que os verdes se transformaram.
Lembrando que o grupo saiu da eleição de 2020 com cinco parlamentares eleitos e
hoje se encontra com três. Um não vai disputar a reeleição, outro está à mercê
do G 14 (grupo que “atropelou” o devido processo legal contra um parlamentar) ou
de uma decisão judicial e outra não se sabe se vai disputar. Passando esse
tormento de 2024, é melhor entregar o grupo a quem entende de política,
Anderson Silvestre ou Barbeirinho. Nesse grupo, tudo pode acontecer, inclusive,
tudo.