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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Robson conseguiu o óbvio, mas, e o plano de governo?

 

     


Certamente seria muito interessante que alguém pesquisasse a gênese da chapa Alan Clemente, pré-candidato a prefeito, e professor Kelvin, pré-candidato a vice-prefeito. O primeiro, filiado estrategicamente ao partido Novo, numa espécie de “vacina” contra uma possível rasteira do deputado Eduardo da Fonte, segurando o “bastão” do grupo Verde, depois da fraquejada dos eminentes; o segundo, indicado, acredite-se, pelo deputado chefão do PP, de quem se temia um daqueles golpes da capoeira, adaptados, claro, à política. Das duas, uma, ou a viagem surrealista foi além da imaginação de Salvador Dali, ou olharam para o deputado e enxergaram nele o esperto e inteligente filho da Dona Florinda, o Quico. Sem falar da corrupção de um princípio básico da física: um corpo não ocupa dois espaços ao mesmo tempo, ou seja, o Da Fonte que poderia rifar a pré-candidatura do Verde era o mesmo que iria indicar o pré-candidato a vice.

    Como o deputado Da Fonte poderia tirar Robson Ferreira do PL, depois dos 30 mil votos que teve, sendo 10 mil apenas em Santa Cruz, ostentando a condição de primeiro suplente da chapa do PP à Câmara Federal, podendo ser deputado federal por pelo menos quatro meses e propor uma perícia na Serra do Pará, para comprovar que ela é plana, sem lhe oferecer algo substancioso em troca? Algo do tipo pré-candidato a prefeito. Convencê-lo apenas com a chefia insignificante do PP municipal, para que ele coordenasse a possível chapa Clemente-Kelvin? Não faria sentido, como não fez e a convenção de segunda-feira, passada, dia 5 de agosto, mostrou. Todos sabem o quanto Robson é querido no meio político, por seu desprendimento, desapego a cargos, por seu sacerdócio em agregar pessoas e cores políticas em busca do bem comum do eleitorado. Por isso ficou muito evidente a torcida contra, a secada, a figa, para que lhe fosse negada uma legenda e ele tivesse a possibilidade rodar a cidade com sua proposta mais importante: uma foto com Bolsonaro.

       Necessário também que quem tem uma opinião mais refinada, pelo convívio diário com a análise política, faça pelo menos um cafuné nos dois professores, que se empolgaram com a “corda” que receberam. Tanto que, o que seria pré-candidato a prefeito cuidou logo de instagramar o carro-chefe da sua campanha: uma placa na PE 160, delimitando os limites de Santa Cruz com Pão de Açúcar, para que, assim, os empresários não confundissem as fronteiras e despejassem investimentos no município vizinho, Taquaritinga, pensando estar investindo em Santa Cruz. Já basta a compra de sítios, chácaras e fazendas na Terra do Café. Se sua filiação foi uma vacina para não ter a pré-candidatura rifada, pesquisaram o vírus errado. Sequer vai poder se apresentar como candidato a vereador, por obra do seu próprio grupo, que viria “forte”, como o Fortaleza, mas nem vai poder se apresentar porque não tem elenco, ou seja, o Verde não vem. Já o que seria pré-candidato a vice preparou uma sopa com os melhores ingredientes para demonstrar que na política o que parece ser uma “raposa”, na verdade é uma rolinha, dócil e inofensiva, incapaz de reagir ao ataque dos pardais, que lhe roubam os ninhos.

     Robson ganhou, é fato, ao ter sua candidatura homologada, mas está muito longe de levar. Não tem mais tempo para continuar blefando e pode se ver no verdadeiro lugar que os analistas lhe atribuem: disputando a terceira via com Anderson Silvestre. Isso porque não reconhecem o mérito dos seus 30 mil votos, atribuindo tal fenômeno à vinculação com o nome do primeiro presidente não reeleito da história, Bolsonaro. Ou seja, para os analistas, essa montanha de votos seria auferida por qualquer pessoa que se apresentasse, naquela ocasião, como nome do Jair em Santa Cruz. Faz muito sentido, apesar dos 500 votos do suplente Adilson, do Jerimum, não eleito mesmo se “batizando” com o nome do próprio ex-presidente. O agora homologado candidato a prefeito já perdeu várias batalhas na briga para patentear o bolsonarismo. Talvez precise de uns conselhos com um especialista, o Sebastião. Não conseguiu o controle do PL, não contou com a solidariedade do “homem lá de cima”, com quem sugeria uma interlocução privilegiada, não impediu nem tomou de volta o PL dos Vieira, não contou com a ajuda do sanfoneiro fanfarrão, o Machado, e, pelo que foi divulgado agora Santa Cruz não estará no roteiro do ex-presidente Bolsonaro, nesse primeiro périplo por Pernambuco, pós-convenções.

      Pelo fato de ser a “cidade mais bolsonarista de Pernambuco” e pelo prestígio que Robson insinuava ter com Jair, a passagem dele para comprar uma “brusinha” seria meio óbvia, como o agradecimento eterno da Seleção Brasileira de 1994 à cidade de Recife, ponto inicial da reação nas eliminatórias e, consequentemente, na conquista do Tetra. Sem foto com Bolsonaro, sem um vídeo de alguns segundos, pelo menos, mesmo que constrangedores, a candidatura homologada de Robson já começa na defensiva. Some-se a isso o fato da dupla do PP, Dafontão e Dafontinho, não terem comparecido à convenção na Câmara Municipal, como fizeram na cidade-mãe de Santa Cruz, Taquaritinga. Sim, a dupla esteve lá, Alan I e Alan III, para dar a força que não tiveram no Verde, suficiente para se lançarem na disputa, como em 2020. A presença da dupla até seria um “sinal” de que o Verde não acabou. Mas a percepção da cerimônia é que o candidato homologado vai ter muitos desafios pela frente, além do mais aparente, atrapalhar o grupo Azul, que fisgou o PL e, consequentemente, estocar o trio Anderson Ferreira, Adilson e Abimael. 

        Ao final da disputa e, se Robson sobreviver até lá, teremos seu verdadeiro tamanho eleitoral e a sustança da base política para apoiar o próprio Robson e Eduardo da Fonte em 2026, para estadual e federal, respectivamente. Pelo tamanho do risco e pela confiança que os proporcionais têm no deputado, imaginou-se que ele iria imitar os Verdes e não apresentar candidatura majoritária, liberando os pré-candidatos a vereador para que apoiassem o candidato da sua preferência, sem perigo de retaliação. Terminou contrariando a “torcida organizada” ávida por enfiar uma fatia de melancia branca na goela política de Robson, num evidente sinal de empatia, o mesmo que ele teve com os verdes naquele famoso áudio lombardino. Lembrando que Da Fonte prometeu para perto das convenções uma entrevista em que explicaria o rompimento com o prefeito Fábio. Blefou também. Assim como o fez ao garantir que seu PP não chegaria nem perto do partido que abrigasse a filiação do prefeito Fábio.

 Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.