Certamente seria muito interessante que alguém pesquisasse a gênese da chapa Alan Clemente, pré-candidato a prefeito, e professor Kelvin, pré-candidato a vice-prefeito. O primeiro, filiado estrategicamente ao partido Novo, numa espécie de “vacina” contra uma possível rasteira do deputado Eduardo da Fonte, segurando o “bastão” do grupo Verde, depois da fraquejada dos eminentes; o segundo, indicado, acredite-se, pelo deputado chefão do PP, de quem se temia um daqueles golpes da capoeira, adaptados, claro, à política. Das duas, uma, ou a viagem surrealista foi além da imaginação de Salvador Dali, ou olharam para o deputado e enxergaram nele o esperto e inteligente filho da Dona Florinda, o Quico. Sem falar da corrupção de um princípio básico da física: um corpo não ocupa dois espaços ao mesmo tempo, ou seja, o Da Fonte que poderia rifar a pré-candidatura do Verde era o mesmo que iria indicar o pré-candidato a vice.
Como o deputado Da Fonte poderia tirar
Robson Ferreira do PL, depois dos 30 mil votos que teve, sendo 10 mil apenas em
Santa Cruz, ostentando a condição de primeiro suplente da chapa do PP à Câmara
Federal, podendo ser deputado federal por pelo menos quatro meses e propor uma
perícia na Serra do Pará, para comprovar que ela é plana, sem lhe oferecer algo
substancioso em troca? Algo do tipo pré-candidato a prefeito. Convencê-lo
apenas com a chefia insignificante do PP municipal, para que ele coordenasse a
possível chapa Clemente-Kelvin? Não faria sentido, como não fez e a convenção
de segunda-feira, passada, dia 5 de agosto, mostrou. Todos sabem o quanto
Robson é querido no meio político, por seu desprendimento, desapego a cargos,
por seu sacerdócio em agregar pessoas e cores políticas em busca do bem comum
do eleitorado. Por isso ficou muito evidente a torcida contra, a secada, a
figa, para que lhe fosse negada uma legenda e ele tivesse a possibilidade rodar
a cidade com sua proposta mais importante: uma foto com Bolsonaro.
Necessário também que quem tem uma
opinião mais refinada, pelo convívio diário com a análise política, faça pelo
menos um cafuné nos dois professores, que se empolgaram com a “corda” que
receberam. Tanto que, o que seria pré-candidato a prefeito cuidou logo de
instagramar o carro-chefe da sua campanha: uma placa na PE 160, delimitando os
limites de Santa Cruz com Pão de Açúcar, para que, assim, os empresários não
confundissem as fronteiras e despejassem investimentos no município vizinho,
Taquaritinga, pensando estar investindo em Santa Cruz. Já basta a compra de
sítios, chácaras e fazendas na Terra do Café. Se sua filiação foi uma vacina
para não ter a pré-candidatura rifada, pesquisaram o vírus errado. Sequer vai
poder se apresentar como candidato a vereador, por obra do seu próprio grupo,
que viria “forte”, como o Fortaleza, mas nem vai poder se apresentar porque não
tem elenco, ou seja, o Verde não vem. Já o que seria pré-candidato a vice
preparou uma sopa com os melhores ingredientes para demonstrar que na política
o que parece ser uma “raposa”, na verdade é uma rolinha, dócil e inofensiva,
incapaz de reagir ao ataque dos pardais, que lhe roubam os ninhos.
Robson ganhou, é fato, ao ter sua
candidatura homologada, mas está muito longe de levar. Não tem mais tempo para
continuar blefando e pode se ver no verdadeiro lugar que os analistas lhe
atribuem: disputando a terceira via com Anderson Silvestre. Isso porque não
reconhecem o mérito dos seus 30 mil votos, atribuindo tal fenômeno à vinculação
com o nome do primeiro presidente não reeleito da história, Bolsonaro. Ou seja,
para os analistas, essa montanha de votos seria auferida por qualquer pessoa
que se apresentasse, naquela ocasião, como nome do Jair em Santa Cruz. Faz
muito sentido, apesar dos 500 votos do suplente Adilson, do Jerimum, não eleito
mesmo se “batizando” com o nome do próprio ex-presidente. O agora homologado
candidato a prefeito já perdeu várias batalhas na briga para patentear o
bolsonarismo. Talvez precise de uns conselhos com um especialista, o Sebastião.
Não conseguiu o controle do PL, não contou com a solidariedade do “homem lá de
cima”, com quem sugeria uma interlocução privilegiada, não impediu nem tomou de
volta o PL dos Vieira, não contou com a ajuda do sanfoneiro fanfarrão, o
Machado, e, pelo que foi divulgado agora Santa Cruz não estará no roteiro do
ex-presidente Bolsonaro, nesse primeiro périplo por Pernambuco, pós-convenções.
Pelo fato de ser a “cidade mais
bolsonarista de Pernambuco” e pelo prestígio que Robson insinuava ter com Jair,
a passagem dele para comprar uma “brusinha” seria meio óbvia, como o
agradecimento eterno da Seleção Brasileira de 1994 à cidade de Recife, ponto
inicial da reação nas eliminatórias e, consequentemente, na conquista do Tetra.
Sem foto com Bolsonaro, sem um vídeo de alguns segundos, pelo menos, mesmo que
constrangedores, a candidatura homologada de Robson já começa na defensiva.
Some-se a isso o fato da dupla do PP, Dafontão e Dafontinho, não terem
comparecido à convenção na Câmara Municipal, como fizeram na cidade-mãe de
Santa Cruz, Taquaritinga. Sim, a dupla esteve lá, Alan I e Alan III, para dar a
força que não tiveram no Verde, suficiente para se lançarem na disputa, como em
2020. A presença da dupla até seria um “sinal” de que o Verde não acabou. Mas a
percepção da cerimônia é que o candidato homologado vai ter muitos desafios
pela frente, além do mais aparente, atrapalhar o grupo Azul, que fisgou o PL e,
consequentemente, estocar o trio Anderson Ferreira, Adilson e Abimael.
Ao final da disputa e, se Robson
sobreviver até lá, teremos seu verdadeiro tamanho eleitoral e a sustança da
base política para apoiar o próprio Robson e Eduardo da Fonte em 2026, para
estadual e federal, respectivamente. Pelo tamanho do risco e pela confiança que
os proporcionais têm no deputado, imaginou-se que ele iria imitar os Verdes e
não apresentar candidatura majoritária, liberando os pré-candidatos a vereador
para que apoiassem o candidato da sua preferência, sem perigo de retaliação.
Terminou contrariando a “torcida organizada” ávida por enfiar uma fatia de
melancia branca na goela política de Robson, num evidente sinal de empatia, o
mesmo que ele teve com os verdes naquele famoso áudio lombardino. Lembrando que
Da Fonte prometeu para perto das convenções uma entrevista em que explicaria o
rompimento com o prefeito Fábio. Blefou também. Assim como o fez ao garantir
que seu PP não chegaria nem perto do partido que abrigasse a filiação do
prefeito Fábio.
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