Pela primeira vez na história da Terra do Café, a disputa para prefeito do município vai se dar entre quatro candidaturas competitivas: Allyson Dias, Jânio Arruda, Gena Lins e Jobson da Internet vão inscrever seus nomes nas urnas para tentar conquistar a simpatia do eleitorado da cidade serrana. Pode-se dizer que é o fim do FLU X FLU tradicional entre os grupos Calabar e Gravatinha, rivalidade que vem desde a eleição de 1988, ininterruptamente, com ambos os grupos se alternando na gestão municipal. Mas pode não ser bem assim.
Sempre houve uma dúvida sobre a capacidade e a coragem do ex-prefeito
Jânio Arruda de entrar mais uma vez na disputa. Seria a oitava, com duas
vitórias: 88 e 96. Daí para frente só derrotas para o arquirrival Calabar. Aliás,
dentro do seu próprio grupo, nem era dúvida, era galhofa mesmo, nem muito bem
disfarçada. Jânio seria “liso” e ultrapassado e deveria abrir a oportunidade
para o surgimento de novas lideranças. O cômico é que o “liso” pode ser uma
trava para uma das pré-candidaturas, a de Jobson da Internet. De cara, o
estreante Jobson e sua robusta pré-campanha têm o desafio de suplantar Jânio
dentro do eleitorado tradicional e fiel do grupo Gravatinha.
Para desfazer qualquer dúvida da sua disposição para mais uma batalha,
Jânio finalmente oficializou o nome do seu pré-candidato a vice, o ex-vereador
Professor Jurandir Tavares, sepultando assim o desejo do pré-candidato Jobson
da Internet de surfar sozinho no eleitorado boca-preta. Nitidamente há uma
tensão entre as duas pré-candidaturas que sinaliza a impossibilidade de uma
junção lá na frente no período das convenções. Com o agravante da
incompatibilidade entre Jânio e os dois ex-prefeitos oriundos do Calabar,
Evilásio Araújo e Zeca Coelho, que estão
com Jobson.
Mas, por que não seria o fim do FLA X FLU se haverá quatro candidaturas
fortes? Porque as pré-candidaturas dissidentes de Jobson e Gena,
respectivamente do Gravatinha e do Calabar, apesar de competitivas, têm o
desafio de primeiro se viabilizar dentro das cores políticas das quais saíram.
Mas, como falar para dentro dos grupos se estão acompanhados por ex-rivais?
Como Gena vai falar para o eleitorado Calabar tendo a companhia de dois ferozes
oposicionistas do grupo, vereadores Guilherme Cumaru e Ronaldo César? E como
Jobson vai se dirigir ao eleitorado gravatinha, tendo Evilásio como vice e
Zeca, cassado pelos próprios gravatinhas, como candidato a vereador?
O constrangimento é tão evidente que os dois dissidentes cuidaram de
adotar novas cores no padrão visual da pré-campanha. Gena adotou o branco e
Jobson o roxo. Haverá, claramente, uma mudança de discurso para tentar
conquistar o eleitorado neutro, que é muito pouco. A política das pequenas
cidades é como o futebol, passional, emotiva, apaixonada, a grande parte do
eleitorado tem “lado”, independente do candidato ou das propostas. Então, sobra
uma margem muito pequena para se pregar o “novo”, o “diferente”. Margem pequena
para ser dividida entre dois dissidentes da disputa tradicional que poderá
ainda prevalecer em 2024.
Certamente reside aí a esperança de Jânio. Brigar internamente com
Jobson e obter uma boa margem de frente e torcer por uma disputa acirrada entre
Allyson e Gena dentro do Calabar. O mesmo pode-se dizer da pré-campanha do
candidato da situação. Por isso que, incomodados e pressentindo as estratégias,
há da parte das duas pré-candidaturas dissidentes as sugestas de que Jânio pega
leve com Allyson ou que poderia lá na frente haver um flerte entre os dois.
Ledo engano e, novamente, estão subestimando a raposa azul. È xadrez político,
mas visto como bola de gude por estrategistas equivocados. Ou conscientes, mas
que falam o que os “reis” querem ouvir ou devem ouvir para que as estratégias
sobrevivam até outubro. Depois das eleições arranja-se qualquer desculpa para o
insucesso.
Com as já consolidadas chapas de Allyson Dias, Gena Lins e Jobson da
Internet, Jânio fez agora o movimento definitivo nas peças do tabuleiro
eleitoral, anunciando seu pré-candidato a vice e assim dando contornos nítidos
e definitivos das opções que estarão à disposição do eleitorado. Mas cabe aos
dois dissidentes, mesmo fortes, evitar que, mesmo com quatro candidaturas, os
eleitores foquem os olhos na que sempre
vence, desde 2000, e na que sempre ameaça vencer, impondo sempre uma derrota
suada. Este é o trabalho dos dois pré-candidatos desafiantes, evitar que a
disputa seja pela terceira e quarta posições. Para o eleitor, quatro opções de
cores. Isso é salutar, isso é a democracia em pleno vigor e que saia das urnas
um resultado legítimo, limpo e que não possa ser contestado por maus
perdedores.