Há poucos dias, numa entrevista ao “Podcast do Baibante”, inquirido pelos entrevistadores Mão de Fogo e Risadinha, o ex-prefeito José Augusto Maia foi taxativo: confirmou a candidatura a prefeito de Santa Cruz do Capibaribe em 2024. Nenhuma novidade na revelação, diriam muitos, mas a afirmação do fundador do grupo Taboquinha não foi apenas uma mera verbalização de um jogo de palavras sobre o ambiente político. O tom foi firme e decidido, sem a intercalação de “mas”, ”porém” “entretanto”... José Augusto parecia meio ansioso para ser questionado sobre essa candidatura. Isso dá um indicativo muito forte de que a fumaça já virou fogo e os cálculos eleitorais a serem feitos têm de considerar agora, além das três forças que disputaram em 2020, uma quarta chapa liderada pelo ex-prefeito.
Ao expor as “humilhações” por que passou, juntamente com seu filho Tallys, Zé Augusto dá um indicativo muito forte da irreversibilidade da candidatura e, consequentemente, da impossibilidade de, a essa altura, chegar a um entendimento com o prefeito. Não porque não queira, mas pela falta de gestos políticos de Fábio Aragão. A corda está tão esticada, que um recuo suscitaria questionamentos: a troco de que ele desistiria da disputa? Destaque-se que o termo “humilhações” não é da lavra de Zé Augusto e nem precisaria ser. A percepção é geral. Foi esse o tratamento dispensado por Fábio aos dois personagens.
Além da clareza e objetividade das palavras de Zé, consideremos também as recentes entrevistas do seu filho Tallys, seguindo o mesmo tom e assertividade do pai na direção da candidatura no ano que vem. Muito diplomático, Tallys expõe abertamente a falta de consideração política do prefeito, sem esconder uma vírgula. Calma e didaticamente, detalha com todas as minúcias a passagem desses quase três anos do mandato do prefeito e seu desdém político para com a dupla de pai e filho.
È na serenidade de Tallys que está embutida a certeza da postulação de Zé Augusto, muito mais do que no explícito “sou candidato”. O filho sempre ressaltando a lealdade ao pai e se dispondo a qualquer papel: candidato a vereador, para fortalecer a chapa, ou, se for o caso, coordenador da campanha, sem entrar na disputa. Isso mostra claramente que o andor de Zé já percorreu uma distância que mais se aproxima da chegada que do ponto de partida.
Até então, excetuando-se as recentes entrevistas, os questionamentos ficavam no “vai ser” ou “não vai ser” candidato, se conversará ou não com o prefeito, se aceitaria um convite do gestor para uma conversa, se a presença do filho Augusto na bancada do prefeito não desestimularia uma ruptura com Fábio e seu grupo Foguetinho. A novidade foi a revelação de Zé de que sua candidatura é prioridade de Marília Arraes e do próprio Solidariedade e, como tal, vai receber suporte do fundo partidário, para entrar na disputa com pretensão de vitória e não uma participação olímpica do tipo “o importante é competir”. Com todas as adversidades a enfrentar, principalmente no fortalecimento político do seu grupo, o ex-prefeito quer entrar , ser um ator tão importante quanto foram os vermelhos, os verdes e os azuis em 2020. A preocupação é contagiar a militância Taboquinha e demonstrar perspectivas de vitória, além, é claro, de desfazer o pensamento coletivo segundo o qual, sua candidatura seria apenas para dificultar a reeleição do prefeito Fábio.
Além de toda sua experiência política, dos mandatos que exerceu como parlamentar, municipal e federal, da passagem pelo executivo como vice-prefeito e prefeito por dois mandatos, o “criador do Moda Center”, como se auto intitula, demonstra disposição e apetite pela vida pública, acha que, além do que “já fez”, tem muitas ideias e iniciativas a sugerir ou executar. Como o prefeito o desdenhou, quer transformar, ele mesmo, as sugestões em realizações. Mas, um pequeno ingrediente parece ter sido fundamental na sua decisão de voltar a encarar as urnas, a votação que teve no ano passado.
Com uma campanha franciscana, Zé Augusto amealhou inacreditáveis (para os adversários políticos) quase 8.500 votos, um “Davi” se comparado a “golias” como Eduardo da Fonte. A sua candidatura deve mexer profundamente na disputa e o mais prejudicado com ela é, na percepção unânime de quem acompanha a política, o detentor atual da cadeira de prefeito. No estágio que está, a candidatura parece sem volta. Mas, deixemos 5% para a improbabilidade de um gesto do prefeito, como deseja o outro filho, Augusto Maia. Dentro desses 5% está também o valor da indignidade de aceitar uma migalha de última hora, caso algum estrategista do prefeito o convença do risco. Mas, Tallys já disse, nas rádios Vale e Comunidade: não aceita. E Tallys fala por Zé. Para este pai, a disputa embute também um componente de honra. Nem precisa dizer qual.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.