Em sete dos dez Estados em que o PT (Partido dos
Trabalhadores) não encabeça a candidatura ao cargo de governador, o
partido apoia candidatos representantes da classe empresarial
brasileira.
O partido, fundado em 1980, tem sua origem atrelada
ao movimento sindical e a grupos intelectuais de esquerda, e costuma se
colocar nas eleições em que participa como representante da classe
trabalhadora, em disputa pelo poder contra a classe patronal e a elite
econômica brasileira.
Apesar disso, sete dos dez candidatos a
governador das coligações integradas pelo PT são políticos
representantes de entidades ligadas ao agronegócio, sindicatos patronais
ou instituições representantes do empresariado nacional.
Uma
das exceções é o Estado de Sergipe. Lá, o PT apoia o candidato do PMDB
(Partido do Movimento Democrático Brasileira), Jackson Barreto, servidor
da Receita Federal, ex-militante clandestino do PCB (Partido Comunista
Brasileiro) e atual governador do Estado. Barreto era vice-governador de
Marcelo Déda (PT), que morreu no ano passado.
Já no Estado do
Amapá, quem recebe o apoio do PT é o atual governador e candidato à
reeleição, Camilo Capiberibe (PSB), membro de um partido que não faz
parte da coligação que apoia a candidatura presidencial de Dilma
Rousseff.
O pessebista vem de uma família de classe média. Seus
pais eram militantes de esquerda e mudaram para o Chile durante a
ditadura militar brasileira (1964-1990). Por causa disso, Capiberibe
nasceu no país vizinho, mas cresceu no Brasil, onde deu início à sua
carreira política já no movimento estudantil.
Finalmente, no
Estado da Paraíba, o PT apoia Ricardo Coutinho (PSB), filho de um
agricultor e de uma costureira, formado em Farmácia, funcionário público
de carreira da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e ex-dirigente da
CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O UOL
procurou a assessoria do PT e a de seu presidente nacional, Rui Falcão,
para comentar as coligações do partido nas eleições estaduais, mas não
obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Sob a
condição de anonimato, porém, membros do partido afirmam que não é
escolha do PT os nomes dos candidatos que encabeçam as candidaturas das
coligações de que faz parte, e que é inerente ao sistema eleitoral
brasileiro compor alianças regionais que viabilizem acordos nacionais.
Todos os candidatos da elite econômica brasileira apoiados pelo PT
pertencem ao PMDB, PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ou PSD (Partido
Social Democrata), siglas que apoiam a reeleição de Dilma Rousseff (PT) à
presidência da República.
Veja, abaixo, quem são os candidatos da elite apoiados pelo PT nos Estados em que o partido não lançou candidatura própria.
Pernambuco: Armando Monteiro (PTB)
Nascido em 24 de fevereiro de 1952, Armando Monteiro Neto é formado em
administração e direito. Pertencente a uma família de industriais, dona
de siderúrgicas e usinas de álcool e açúcar, começou a vida pública em
1986, no Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material
Elétrico de Pernambuco. Foi diretor e depois presidente da entidade até
1992, quando assumiu a presidência da Fiepe (Federação das Indústrias do
Estado de Pernambuco), cargo que ocupou por quatro mandatos
consecutivos. Depois, entre 2002 e 2010, foi presidente da CNI
(Confederação Nacional da Indústria).
Ingressou na vida
político-partidária em 1990, quando se filiou ao PSDB. Ficou no partido
até 1997, quando mudou para o PMDB. Em 2003, filou-se ao PTB, onde
permanece até hoje. Foi deputado federal por Pernambuco por três
legislaturas (1999-2011).
Em 2010, candidatou-se e foi eleito senador de Pernambuco pelo PTB.
Alagoas: Renan Filho (PMDB)
Sócio de quatro empresas de comunicação
no Estado (segundo sua declaração de bens à Justiça eleitoral), o
peemedebista Renan Filho foi eleito prefeito do município de Mucuri em
2004, quando tinha apenas 24 anos. Foi reeleito para o cargo em 2008,
mas abandou o posto em 2011, quando assumiu uma cadeira na Câmara dos
Deputados, após ser eleito em 2010.
Também em Alagoas, nas eleições para o Senado, o PT compõe a chapa que apoia o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB).
Pará: Helder Barbalho (PMDB)
Herdeiro de um grupo de comunicação que reúne oito emissoras de rádio,
quatro retransmissoras de televisão e um jornal diário, Helder Barbalho,
filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), tem 35 anos e um patrimônio
declarado de R$ 2,34 milhões. A maior parte de suas posses correspondem a
participações acionárias em dez empresas de sua família.
Com o
apoio do grupo político comandado por seu pai, Helder Barbalho foi
eleito prefeito de Ananindeua (região metropolitana de Belém) em 2004
quando tinha apenas 25 anos, tornando-se, segundo ele mesmo afirma, o
prefeito mais jovem da história do Estado.
Em 2006 e 2010, o PT
lançou candidatura própria no Estado do Pará, da bancária do Banco do
Brasil Ana Júlia Carepa, que iniciou sua carreira no movimento
estudantil e era ligada a grupos de defesa dos direitos das mulheres.
Neste ano, o partido decidiu apoiar Helder Barbalho dentro de um arranjo
que garantiu a manutenção da aliança nacional com o PMDB.
Amazonas: Eduardo Braga (PMDB)
Dono de uma fortuna declarada de R$ 27,3 milhões, o peemedebista é
proprietário de uma rede de concessionárias e assumiu seu primeiro cargo
público em 1982, após ter sido eleitor vereador de Manaus pelo PDS
(Partido Democrata Social, hoje chamado PP, Partido Progressista),
partido que apoiava o regime militar brasileiro e era originário da
Arena (Aliança Renovadora Nacional).
O empresário, que também
investe no agronegócio (letras de crédito e cabeças de gado), já passou
por seis partidos políticos. Além de vereador pelo PDS, foi deputado
estadual pelo PMDB (1987-1991) e federal pelo PDC (1991-1992). Foi
vice-prefeito e prefeito da capital amazonense pelo PDC (1993-1996) e
governou o Amazonas duas vezes, pelo PPS (2003-2007) e pelo PMDB
(2007-2011). Já teve passagens pelo PSL e pelo PPL. Atualmente, é
senador pelo PMDB.
O candidato tem contra si um inquérito no STF
(Supremo Tribunal Federal) por crime eleitoral e mais dez processos no
Tribunal de Justiça do Amazonas, sendo quatro deles por suspeita de
improbidade administrativa.
Tocantins: Marcelo Miranda (PMDB)
Nascido em Goiânia em 10 de outubro de 1961, Miranda é membro de uma
tradicional família de políticos e agropecuaristas de Goiás e Tocantins.
Estrou na política em 1990, quando foi eleito deputado pelo PFL
(Partido da Frente Liberal, atual DEM, Democratas) para ocupar um cargo
na Assembleia Legislativa goiana. Foi reeleito ao cargo mais duas vezes.
Em 2002, ainda no PFL, foi eleito governador do Tocantins, sendo
reeleito em 2006, já pelo PMDB. Em 2009, porém, teve seu mandato cassado
por unanimidade pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que apontou os
crimes de abuso do poder, compra de votos e uso indevido dos meios de
comunicação social nas Eleições de 2006.
Em 2010, foi eleito
senador, mas foi impedido pela Justiça de assumir o mandato por entender
que ele se encontra inelegível em virtude da condenação de 2009. Além
do processo em que foi cassado do governo, Miranda figura em mais de 500
processos nas diversas esferas e tribunais do Poder Judiciário.
Para o Senado, representando o povo de Tocantins, o PT apoia a reeleição da líder da bancada ruralista, Kátia Abreu (PMDB).
Maranhão: Lobão Filho (PMDB)
Nascido em 17 de setembro de 1964, o empresário peemedebista é um dos
donos do Sistema Difusora de Comunicação, emissora de TV afiliada do SBT
no Estado do Maranhão e também de uma rede de distribuidora de bebidas.
Antes de filiar-se ao PMDB (2010), foi membro do PFL (depois renomeado
para Democratas) por oito anos, desde 2002.
Seu patrimônio
declarado à Justiça eleitoral neste ano é de R$ 9.881.256,03, valor 284%
maior do que o que foi declarado em 2010 (R$ 2.570.010,32), quando se
elegeu suplente de senador.
É filho e herdeiro político do
senador e atual ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, eleito
deputado federal pela Arena em 1978 e pelo PDS em 1982. De 1991 a 1994,
foi governador do Maranhão pelo PFL. Passou a integrar a base aliada do
governo em 2007, quando ingressou no PMDB. Em janeiro do ano seguinte,
foi nomeado ministro das Minas e Energia pelo então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Rio Grande do Norte: Robinson Faria (PSD)
Nascido em 12 de abril de 1959, é membro de uma família proprietária de
usinas de sal no Estado do Rio Grande do Norte. Deu início à sua
carreira política em 1986, quando foi eleito deputado estadual pelo PFL
(atual Democratas). Depois disso, cumpriu mais cinco mandatos na casa
legislativa potiguar.
Em 2010, foi eleito vice-governador de seu
Estado na chapa da governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Em 2011, porém,
rompeu com o governo e passou a integrar o bloco de oposição a Rosalba.
No mesmo ano, deixou seu então partido, o PMN (Partido da Mobilização
Nacional), para filiar-se e ajudar a fundar o PSD no Rio Grande do
Norte.
Antes de se dedicar à política, Robinson Faria trabalhava
nas empresas do pai, o industrial Osmundo Faria. Juntos, em 1970, eles
deram início às atividades da salina Amarra Negra, então a maior do
Brasil. Em 1974, Osmundo tinha o apoio do então ministro do Exército,
general Dale Coutinho, para assumir o cargo de governador do Rio Grande
do Norte em 1975. O general, no entanto, morreu meses após manifestar
seu apoio ao industrial. No ano seguinte, então, o governo militar optou
por designar Tarcísio Maia, pai do senador Agripino Maia (DEM), para o
cargo.