Herdeiro político de Eduardo Campos, o governador Paulo Câmara (PSB), deve em 2018 disputar a reeleição. Em 2014, quando foi lançado, era um mero desconhecido da maioria dos eleitores e só conseguiu decolar sua candidatura depois do acidente de avião que matou seu padrinho político.
A avaliação feita por muitos é que a comoção com a morte de Eduardo Campos foi o principal fator que levou à vitória estrondosa de Paulo Câmara, contra Armando Monteiro (PTB), candidato que esteve à frente das pesquisas até dois meses antes da eleição.
Não há dúvida que a exploração política em torno do nome de Eduardo ajudou muito na vitória de Paulo, mas não foi só isso que fez o socialista triunfar nas urnas.
Quando ainda com o poder nas mãos e atuante, com o prestígio em alta e a máquina pública nas mãos, o neto de Miguel Arraes fez talvez a mais ampla aliança política em torno do candidato do PSB.
Mais de 15 partidos políticos estiveram com Câmara, dentre eles o PMDB de um inimigo histórico, Jarbas Vasconcelos, e o DEM de outro adversário, Mendonça Filho.
Eduardo, porém, conseguiu cooptar as principais lideranças do Estado, a maioria dos deputados estaduais e prefeitos.
Todo esse conjunto de forças unido ao PSB pesou muito inclusive no programa eleitoral de rádio e televisão, uma vez que Paulo Câmara teve o dobro de tempo de Armando Monteiro, o que lhe permitiu mostrar bem todas suas propostas, explorar ao máximo o legado de Arraes e Eduardo, além de ficar conhecido dos eleitores em apenas dois meses.
No final da campanha, já derrotado, Armando participou do debate na TV Globo cabisbaixo, trombudo, tentando desconstruir a imagem do adversário, enquanto Paulo estava leve e confiante, a ponto de mostrar contradições no discurso do petebista.
Apesar de inexperiente, Câmara ganhou o debate decisivo e atraiu milhões de eleitores, aumentando de forma significativa a diferença em cima de um oponente que já estava nocauteado.
Ganhar a eleição foi fácil para Paulo Câmara após a morte de Eduardo, porque a partir da tragédia tudo conspirou a seu favor.
Outra coisa diferente, no entanto, vem sendo governar Pernambuco em meio a uma crise nacional que parece não querer findar.
Sem recursos, cometendo erros políticos, o socialista completa dois anos de mandato com poucas obras realizadas e frustrando muitos dos seus próprios eleitores de dois anos atrás.
Para 2018 será difícil manter uma aliança tão ampla quanto a de 2014 e dois partidos de peso – o PSDB e o DEM – estão se bandeando para a oposição, pela vontade dos seus principais líderes no Estado, como o ministro Bruno Araújo, o ex-governador João Lyra Filho, a deputada Priscila Krause e o também ministro Mendonça Filho.
O PMDB pode ficar dividido na próxima eleição estadual e há boas possibilidades do Solidariedade e do PR também romperem com Paulo Câmara.
O governador, é claro, tem seus trunfos e apesar da crise ainda poderá usar o peso da máquina para atrair os partidos, deputados e prefeitos.
Tudo indica, porém, que teremos um quadro mais dividido do que na última eleição estadual, com benefícios para quem vier disputar pela oposição.
Essa divisão entre governo e oposição começa pelas prefeituras de maior porte, onde os adversários de Paulo Câmara conseguiram alguns avanços, em alguns municípios graças a erros dos socialistas.
Assim, por erro de estratégia o PSB perdeu aliados em Caruaru e Palmares, quando apostou suas fichas em candidaturas do partido que foram derrotadas por Raquel Lyra, do PSDB e Altair Júnior, do PMDB.
Ressentidos com o governador, a tucana e o peemedebista têm tudo para ficar ao lado da oposição.
Em Jaboatão e Olinda, dois dos maiores colégios eleitorais do Estado, o governo também jogou mal e seus candidatos perderam.
Os candidatos do Palácio das Princesas em Olinda e Jaboatão foram Antônio Campos e Heraldo Selva, ambos do PSB, mas os vitoriosos foram Professor Lupércio, do Solidariedade, e Anderson Ferreira, do PR.
O PSB, contudo, venceu bem em Recife, Cabo, Paulista e Petrolina, este último maior colégio eleitoral do Sertão. Também conquistou o maior número de prefeituras de municípios de menor porte. Os socialistas foram vitoriosos também em Arcoverde, com Madalena Brito, que foi dos primeiros gestores a abandonar Armando, em 2014, para se aliar ao pupilo de Eduardo Campos.
Em Belo Jardim, outra cidade de porte médio do Agreste, Hélio dos Terrenos (PTB) até o momento é o prefeito, porque João Mendonça (PSB) teve sua candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral e ainda se espera uma decisão final do TSE.
José Patriota, do PSB, foi reeleito em Afogados da Ingazeira, mas em outros municípios de porte médio o Partido Socialista perdeu, caso de Timbaúba, onde deu Ulisses Filho (PSDB) e Salgueiro, com Clebel Cordeiro, do PMDB, além de Garanhuns.
Na terra das sete colinas Izaías Régis (PTB) foi reeleito com 70% dos votos e junto com Raquel Lyra deve formar uma frente no Agreste para apoiar Armando Monteiro ou outro nome que vier a ser escolhido pela oposição para enfrentar Paulo Câmara.
Tudo indica que em 2018 haverá uma disputa mais equilibrada do que a de 2014.
O governador é um candidato forte, terá ao seu lado ainda o maior número de prefeitos e deputados, porém com o desgaste do poder e a perda de aliados do porte de Mendonça Filho, João Lyra e Bruno Araújo, poderá ter o caminho da reeleição dificultado para daqui a dois anos.
Não dará, na próxima disputa, para usar o nome de Eduardo como cabo eleitoral. Desta vez o socialista vai ter a sua administração julgada e se, ao final de quatro anos, não tiver correspondido, se a oposição for competente poderá tomar o poder das mãos do ex-secretário da Fazenda do Estado.
É preciso estar atendo, ainda, a como estará o quadro nacional daqui a dois anos, quem serão os candidatos a presidente da República e em que palanques estarão os governistas e oposicionistas.
Com tudo isso em jogo e os personagens em cena, devemos ter mais uma eleição empolgante. Quem viver verá.
*Foto: IG - Poder Online