Nas falas e revelações do ex-ministro Sérgio Moro e do presidente Bolsonaro, na sexta-feira, alguns deslizes chamaram a atenção.
O ex-juiz, o homem público que mais detonou a democracia brasileira, desde lhe foi dado poder quase que ilimitado, defendeu o estado de direito, esquecendo "o que fez no verão passado" e o fato de ter participado de um governo de viés fascista.
Moro, o herói, o caçador de corruptos, revelou em seu depoimento um pequeno delito, uma ilegalidade.
Disse que o único pedido feito ao presidente, para assumir o cargo, era ter uma pensão paga pelo estado, caso algo lhe acontecesse.
Mesmo que fosse justo, isso seria ilegal e logicamente isso não fica bem para quem foi juiz e Ministro da Justiça.
Por fim, já depois da entrevista coletiva de Bolsonaro, Sérgio Moro fez jus à sua biografia: enviou à Globo, para divulgação no Jornal Nacional, uma troca de mensagens entre ele e a deputada Carla Zambelli – uma conversa pessoal – expondo à parlamentar de forma antiética, como aliás fez no verão passado ao grampear a então presidente Dilma e o ex-presidente Lula.
E olha que Moro foi padrinho de casamento da parlamentar. Imagine se fosse inimigo dela.
Decididamente, caráter não é o forte do ex-juiz e ex-ministro. Felizmente, ele agora não passa disso: um ex. Embora a Globo e outros setores estejam dispostos a continuar incensando-o.
BOLSONARO – O presidente, eu sua fala, também meteu os pés pelas mãos. Falou da vida pessoal, que não nos interessa, contou uma história ridícula de ter aberto mão do aquecimento da piscina do Palácio, citou desnecessariamente os filhos, chegando ao cúmulo de revelar que um deles comeu quase todas as mulheres do condomínio em que morava.
Imaginem vocês, caros leitores, se o Lula quando foi presidente do Brasil tivesse cometido um desatino desses. Ainda hoje, com certeza, além de chamá-lo de ladrão estariam acusando-o de desequilibrado moral.
O líder político da extrema direita também estranhamente meteu a vereadora Marielle Franco na conversa, sem lamentar seu assassinato, coisa que nunca o fez.
Ele se queixou que a Polícia Federal, com Moro no ministério, se empenhou mais em descobrir quem matou a parlamentar de esquerda do que em desvendar o caso da facada que lhe deu a eleição.
Nas entrelinhas é como se tivesse dito que a morte de Marielle foi de menor importância, comparada a um atentado ao homem que depois de tornou presidente da República.
Moro, que mesmo desempregado virou pré-candidato a presidente em 2022, em seu depoimento fez um elogio aos governos de Lula e Dilma, segundo ele mais respeitosos com a Polícia Federal do que Bolsonaro. O presidente ignorou essa provocação na coletiva.
Bolsonaro me pareceu mais firme, em seu pronunciamento, mais objetivo. Falou mais para o povão. O ex-ministro discursou mais para a classe média, as elites, foi mais minucioso e indireto, tendo a mídia se encarregado de amplificar suas revelações.
Os dois são como que as duas faces da mesma moeda e agora têm em vista a mesma coisa: a eleição de 2022. Eles se merecem e o povo, se tiver juízo, daqui a dois anos corrige a merda que fez em 2018.