Por Michel Zaidan Filho
Em sua copiosa
e extensa trilogia, "A sociedade em rede", o sociólogo espanhol
Manuel Castels classificou os movimentos ambientalista e feminista
como"identidades de projeto", com isso querendo dizer que se tratavam
de movimentos que apontavam para o futuro da sociedade humana.
Particularmente o segundo, foi visto por ele como uma luta que antecipava
sociabilidades, valores e atitudes mais generosas e tolerantes.
Naturalmente, a novidade deste pensamento ia muito além das formas de relacionamento
familiar e sexual até então existentes. Famílias monoparentais, homoeróticas,
comunitárias etc. Bem longe do modelo nuclear e patriarcal que conhecemos.
A infeliz decisão do governo brasileiro, em recente encontro de
cúpula da ONU, em acompanhar os países islâmicos no tocante à educação das
mulheres, seus direitos reprodutivos, à sua sexualidade e o direito ao próprio
corpo é um retrocesso paradoxal, se se tem em contra que nem os judeus têm uma
posição tão antiquada e conservadora como essa. Pode se entender a influência
religiosa (pentecostal e neo pentecostal) sobre a decisão do governo nesse
item. Mas é impensável que uma sociedade multicultural, multiétnica e
religiosa, como a nossa, possa ser regida por uma ética e um pensamento tão estreito,
sectário e fundamentalista, como este.
Nós já
avançamos muito em relação ao patriarcalismo e a misoginia (e também à
homofobia) no âmbito da cultura brasileira. Persegue-se os homossexuais,
as lésbicas e transformistas, mas isso já está tipificado como crime de ódio
pelo Supremo Tribunal Federal. As mulheres são sujeito de direito e têm a
capacidade civil e jurídica de disporem do seu corpo, como quiserem. Não é mais
possível voltar à época colonial (ou da idade das cavernas), no que respeita
aos direitos de gênero e orientação sexual no Brasil. A
despeito de todas as restrições ao ensino dessa matéria nas escolas
públicas brasileiras, não é dado a ninguém perseguir, discriminar ou incitar a
violência contra as minorias sexuais e as mulheres(como aliás, contra ninguém).
Foi uma grande
luta social e sexista superar a herança "sado-masoquista" da nossa
civilização luso-tropical, trazida com a escravidão africana no Brasil. Essa
nefasta herança contaminou os lares, as cabeças e as práticas familiares e
sexuais das pessoas, originando uma doente e perigosa misoginia entre
nós. Ou seja, a idéia de que a mulher é inferior e serva da luxuria masculina.
E seu papel social é procriar e atender aos apetites sexuais dos machos. Ainda
bem, que esse papel mudou. A mulher é, hoje, prefeita, governadora, senadora,
ministra e presidente da República. Não há mais porque manter essa idéia
atrasada de que Deus fez a mulher de uma costela de Adão e que ela o desviou
do bom caminho.
Precisamos defender como unhas e dentes a laicidade do estado brasileiro e não permitir que concepções religiosas ou éticas tão obscurantistas e antiquadas queiram influenciar as políticas públicas relativas às questões de gênero e orientação sexual.
Precisamos defender como unhas e dentes a laicidade do estado brasileiro e não permitir que concepções religiosas ou éticas tão obscurantistas e antiquadas queiram influenciar as políticas públicas relativas às questões de gênero e orientação sexual.
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