Nos anos 80, havia um poeta
armorial em Pernambuco que cunhou a expressão: “nordestinados”. O escritor
paraibano Ariano Suassuna foi mais além e disse certa vez que não havia região
mais trágica que o Nordeste, em razão dos inúmeros conflitos humanos e
existenciais dos nordestinos consigo próprio, os outros e a natureza. E
surgiram ensaístas que até “inventaram” o Nordeste, a partir das imagens do cangaço,
do messianismo e das secas. O ciclo da literatura regionalista dos anos 30
ajudou muito, partindo daqueles estereótipos, a vender uma imagem de Nordeste
pobre, místico, violento e atrasado, dominado secularmente pelos coronéis. O
Brasil passou a conhecer a nossa região, por esses estigmas e a trata-lo na
poesia, na música, no teatro e no cinema como a terra do absurdo. Foi preciso
esperar a estética do movimento Mangue para revisar a imagem de conformismo,
passividade e ignorância que essa representação discursiva ajudou a fixar.
Não há nada de errado com o Nordeste
que não possa ser consertado com políticas públicas e uma sábia e justa
política de desenvolvimento regional. Mas isso depende também de um projeto de
Nação, Povo e Identidade cultural. O
arremedo de uma política regional que nasceu com Celso Furtado e a SUDENE foi
rapidamente abortado pelos militares. Os governos neoliberais de Fernando
Collor de Melo e Fernando Henrique Cardozo desrregionalizaram a economia como forma
de integração competitiva do país aos mercados globalizados. O Governo LULA foi
uma exceção, com grandes obras estruturadores, transferências voluntárias,
investimentos e a criação de novas universidades. O atual (des)governo não tem
nenhum compromisso (nem simpatia) com a região nordestina. Na qualidade de
capataz do capitalismo internacional, seu objetivo é destruir o que resta de
políticas regionais, sociais, e ambientais, para entregar nossas riquezas –
subavaliadas- ao mercado.
Não sou nordestinado. Tenho
minhas raízes culturais, mas possuo asas para voar bem alto. Orgulho-me dessas
raízes e acho que se pode reconstruir a nossa identidade telúrica e social, num
registro planetário para ser cidadão e cidadã do mundo.
Resistir, resistir e resistir
a essa iníqua política de terra (região) arrasada.
P.S. As desigualdades
regionais no Brasil começaram com a nova divisão nacional do trabalho, no
início da República. Estabeleceu-se um regime de exploração neocolonial do
Sudeste sobre o Norte-Nordeste. Regime este mais agravado com a estrutura
tributária brasileira, que manda cobrar o ICMS na origem e não no destino.
Tornamo-nos meros transferidores de tributo para os estados do Sul-Sudeste do
país.
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