Na política, a falta de gestos e palavras também falam. Já há algum tempo se percebia a ausência do deputado Eduardo da Fonte na terra que produz o segundo maior volume de confecções do Brasil.
Eventos importantes aconteceram, como a visita da governadora Raquel, à cidade, sem que o chefão do PP desse a cara. Nem a presença do filho de Da Fonte, também deputado federal, arrefeceu as desconfianças sobre um possível clima ruim entre ele e o prefeito Fábio. Aliás, só reforçou a percepção de que a lua de mel entre o gestor municipal e o deputado federal estava passando por um momento de tensão atribuído, possivelmente, à escassez ou abundância de numerário (emendas parlamentares).
Da Fonte esteve nas fronteiras de Santa Cruz, na festa do morango de Brejo da Madre de Deus, mas nada de dar um pulinho na terra do padre Zuzinha, aproveitando a excelência das estradas que ligam as duas cidades.
Não faz muito tempo e os santacruzenses foram brindados com um carnaval fora de época: o anúncio de 5 milhões que o deputado Da Fonte conseguiu através de emendas parlamentares para irrigar o caixa do prefeito Fábio e assim, quem sabe, ele calaria os urubus da oposição que lhe cobram incessantemente uma obra importante iniciada no seu próprio governo.
Obra relevante e de grande impacto social e político, já que, segundo a oposição, até agora, a administração municipal vive de recauchutar iniciativas de governos anteriores. De fato, a emenda milionária turbinaria a máquina municipal, mas, dela não se tem mais noticias. Não se sabe se o dinheiro veio, se não veio, se veio e a “secretária” disse que a cidade não precisava mais. Bom lembrar também o contratempo do deputado Diogo Morais com duas pedras no seu sapato: a dolorosa primeira suplência (faltaram-lhe míseros 80 votos) e, posteriormente efetivado, a condição de deputado oposicionista, o que lhe fecharia as portas do Palácio do Campo das Princesas, que tanto freqüentou no reinado do PSB.
Possivelmente resida aí o disparo do torpedo que balançou o casamento Fábio-Da Fonte. De repente, um deputado sem ação política em Santa Cruz do Capibaribe, tira o talão de cheque e premia a cidade com uma “megasena” de 15 milhões. Nem São Francisco de Assis seria capaz de tamanha generosidade. E principalmente, sem visar a nenhum interesse eleitoral, tão somente o desejo nobre de servir a um povo, de quem não recebeu votos. Caiu no colo do prefeito simplesmente a metade do hospital que ele não quis para a terra das gameleiras, vindo do deputado São Felipe Carreras.
O amor político é lindo, mas o tempero das emendas parlamentares é que dá a liga para que o romance dure até que um deputado estadual órfão da máquina estadual busque a ajuda de um companheiro federal que lhe garanta duas coisas: uns milhões de emendas para alimentar suas bases e, consequentemente, “vingar-se” de um parceiro que tudo fez para lhe manter no ostracismo da suplência.
Agora, o prefeito Fábio anuncia o fim do romance político com o deputado Da Fonte. Primeiro, nenhuma surpresa, pelo que foi relatado acima e, segundo, porque um dos primeiros-ministros do governo Fábio, o vereador Flávio Pontes, abriu o jogo: ninguém dá ponto sem nó, ou seja, aquela alma política que destinou 15 milhões em emendas para a cidade quer reza, ou melhor, votos, justa e naturalmente. Ainda não foi oficialmente anunciado, mas a dupla de ataque do prefeito nos parlamentos estadual e federal deve ser agora o deputado federal que deu uma “Carreras” em Da Fonte, o Felipe, e, claro, o costureiro da peça, Diogo Morais, ambos do PSB, o que termina ensejando imaginações maldosas sobre os rumos partidários do prefeito. Não será surpresa se... Pelo menos por enquanto, é só Mainha no coração. Mas há sempre muito amor político para dar, conforme as conveniências e as jacas cortadas entre o agreste setentrional e o Cais do Apolo, 925.
No âmbito municipal, o fim do casamento causa apenas mudanças burocráticas na bancada do prefeito na Câmara Municipal, exceto para o vereador Carlinhos da Cohab, notório amigo de Da Fonte. Não há indicativo se ele continua no PP ou se segue com o prefeito para uma nova legenda. Carlinhos possivelmente se decepcionou com Eduardo no recente inferno astral que teve com o grupo mais próximo do prefeito.
Mas, deixando o deputado, ele sabe que não vai mudar o desejo que o prefeito tem, junto com seus assessores, de tentar fazer, novamente, o que não conseguiram na recente eleição para conselheiros tutelares. “Aquela entrevista” é uma espinha de peixe atravessada na garganta. Outros vereadores não terão nenhum drama de consciência a enfrentar nem receio de que sejam alvos da máquina que privilegia alguns, incluindo secretários. Os milhões o prefeito tem, porque vêm de Brasília e o deputado Carreras tem força política, uma vez que lidera uma grande bancada, ironicamente, endossado pelo pepista Artur Lyra. Resta saber se os cochichos de Da Fonte não envenenam o humor político da governadora, de quem Fábio se diz aliado, e ela corta os ”vôos” diários da Caruaruense para Santa Cruz. O deputado pode ponderar para ela: “se ele fez isso comigo, que fiz de tudo pela candidatura do pai dele, inclusive enfiei uma perua na goela do PSB municipal, imagine com a senhora”..
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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