Depois de passar um ano alimentando a expectativa de ser o candidato do grupo Verde à prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe, inclusive esbanjando perspectivas para atrair a adesão do ex-vice-prefeito Dida de Nan, e assim formar uma chapa forte para enfrentar o favoritismo do prefeito Fábio, culminando com a apoteótica procissão a Recife, para entendimentos com o deputado Eduardo da Fonte, o empresário Alan Carneiro finalmente confirmou em entrevista o que quase todos esperavam: não iria concorrer conforme anunciara em carta de janeiro de 23. Também aproveitou a ocasião para informar que nenhum dos festejados nomes do grupo, Alan César, Valmir Ribeiro, Zeba Climério, aceitariam substituí-lo na desafiadora missão. Restava, pois, delegar ao baixo clero do grupo a condução dos rumos políticos para as eleições e o lançamento de uma pré-candidatura.
Corajosamente, o vereador Capilé abraçou a missão e começou a se movimentar para se viabilizar como pré-candidato. Logo procurou o onipresente deputado Eduardo da Fonte em busca de apoio. Chegou a conversar com ele, mas, pelos desdobramentos, ou pela falta deles, parece que o deputado se vacinou naquela procissão que recebeu em Recife, e perdeu a confiança num grupo que poderia trocar o V de verde, para V de vacilante. Pra piorar, Capilé logo percebeu que sua pré-candidatura seria “persona não grata” para nomes importantes do baixo clero, como a vereadora Nega, que demonstrou zero entusiasmo pela postulação do colega de bancada. Como diz o ditado popular, “além da queda (rejeição interna), o coice (relatório demolidor da CPI)”. Fala-se que Capilé teria reclamado do abandono dos companheiros e até procurado as fronteiras do grupo Vermelho para ser recebido como “filho pródigo”, fato que parece ter-se diluído como “perua”.
A sequência desastrosa e tabajara dos passos do grupo que quase destrona dois tradicionais segmentos políticos da cidade, que se revezam há décadas na administração do município, parecia indicar seu fim e a dispersão dos seus pré-candidatos a vereador em busca de um porto seguro nas já lançadas pré-candidaturas do prefeito Fábio e da ex-deputada Alessandra Vieira. Porém, para mostrar que o Verde é o Verde, eis que surge nas redes sociais uma foto de dois expoentes do grupo, os mesmos que recusaram o pepino que Alan Carneiro terminou despachando para as mãos do vereador Capilé. Os empresários Alan César e Valmir Ribeiro posam para o registro fotográfico, ladeados por outros integrantes do grupo, sugerindo que o Verde estaria de volta à arena política. Claro que o detalhe das camisas azuis foi só uma coincidência, nada de sinalizar uma candidatura a vice na chapa da ex-deputada Alessandra. Até porque a nobreza deles não permite a miscigenação com políticos tradicionais, principalmente para ser sub na chapa eleitoral. Sub do agora importante personagem Robson Ferreira nem se cogita, principalmente porque Robson não abriria mão da cabeça para “Lombardi”, se este aparecesse em destaque numa pesquisa.
A dupla supramencionada não escreveu carta de desistência, como o ex-candidato Alan, portanto, não precisa marcar entrevistas para uma segunda confirmação de segurança de que também vai desistir. Causou um breve redemoinho nas redes sociais, já desconfiadas da inconstância desses ventos, portanto, é prudente aguardar o fim do prazo para filiações partidárias, no início de abril, momento em que já se pode vislumbrar um cenário mais parecido com o que pode acontecer nas convenções. Se a foto não for uma bravata, chama a atenção um detalhe: consideremos que a dupla forme mesmo uma chapa, independente de ser A-V ou V-A, como fica a situação da grande vítima dos Verdes, o ex-vice-prefeito Dida? Foi cortejado e incensado por dias, meses até. Foi-lhe servida uma forte perspectiva de vitória sendo vice do quase prefeito Alan, microfones não lhe faltaram, sempre ciceroneado pelos futuros companheiros nos périplos radiofônicos, ávidos pelo “tchau” de Dida para seu antigo grupo. Dizem que o sanfoneiro estava presente na reunião que resultou na foto e não foi clicado porque precisou se ausentar antes. Aguardemos.
O Lombardi do PP
Jornalista importante da imprensa pernambucana anunciou que o recém-progressista Robson Ferreira seria recebido pelo ex-presidente Bolsonaro, por intermédio do senador Ciro Nogueira, para tratar de sua pré-candidatura à prefeitura de Santa Cruz. Só aí a “notícia” já chamaria atenção. Primeiro, por que o poderoso Da Fonte precisaria de um intermediário para agendar uma conversa de um aliado seu com o ex-presidente? Segundo, por que Robson sempre sugeriu que teria uma ligação direta com o “lá de cima”, ou seja, pouco se importava com Adilson Bolsonaro, no âmbito municipal, e com Anderson Ferreira, no âmbito regional? Finalmente, o suplente deixou o PL, partido de Bolsonaro, e migrou para o PP. Mas, uma outra possibilidade mencionada pelo jornalista aguçou as especulações e a incredulidade. No tal encontro seria discutida uma possível gestão do ex-presidente para tirar o PL, que Robson abandonou, para dar ao Robson que foi para o PP, passando por cima dos deputados Anderson e Abimael, além do sanfoneiro-hoteleiro Gilson Machado e do suplente de vereador Adilson Bolsonaro.
Não demorou muito para que o jornalista lançasse um “erramos” negando que tivesse falado da possibilidade de o PL ser tirado da ex-deputada Alessandra. Se Robson escutou o programa e alimentou alguma esperança, teve poucas horas para comemorar. Os fatos demonstram que tal possibilidade é muito improvável. Ora, se estando filiado ao partido do ex-presidente, Robson sequer conseguiu a presidência municipal, se nunca foi lembrado como potencial pré-candidato, se deu declarações desastrosas esnobando seu próprio segmento, a tal direita, e o grupo Azul, capitaneado pelo deputado Edson Vieira, se viu a engenharia que foi construída resultando na filiação da ex-deputada Alessandra ao PL, como poderia alimentar a ilusão de que Bolsonaro faria com o PL o que Paulo Câmara fez com o PSB local? Por enquanto, a pré-candidatura de Robson é um “lombardi” que precisa aparecer alicerçada numa chapa forte de pré-candidatos a vereador, ou corre o risco do nada ingênuo Eduardo da Fonte chegar e dizer: não há viabilidade, temos de nos juntar com o PL como sub, numa candidatura única, para tirarmos o “profeta” do trono. Melhor ganhar perdendo do que perder perdendo, cuja tradução, para a cultura popular, é: melhor um passarinho na mão do que dois voando. Aliás, é justamente o “passarinho” o problema da oposição.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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