No ano passado, uma bomba caiu no quintal do grupo Verde, cuja explosão explica hoje parte do medo dos caciques do grupo de enfrentar a candidatura à reeleição do prefeito Fábio Aragão. Ficou-se sabendo daquele processo absurdo que resultou na posse, por parte de um tal de Sebastião de Ciba Moco, da marca Moda Center. Vieram à tona as mais de setenta notificações enviadas pelo senhor Sebastião e a perda de prazos processuais, resultando numa condenação definitiva, sem possibilidade de recursos a instâncias judiciais em Brasília. Na época, cinco de dezembro, o condomínio lançou nota minimizando os possíveis valores a serem pagos ao senhor Sebastião pelo uso da marca e afirmou que caberia recursos processuais, ou seja, a situação já era irreversível, mas a nota prometia um terreno na lua, Inês já era morta.
Semana passada, mais especificamente terça-feira, 14 de maio, a vereadora Jéssyca Cavalcante, a mesma que denunciou a existência do processo, junto com o ex-vereador Ernesto Maia, soltou mais uma bomba, cujos estragos econômicos e políticos equivalem ao de um míssil. Baseado nos dados fornecidos pelo Moda Center, a pedido da Justiça, o senhor Sebastião apresentou o valor da “comanda” a ser paga: inacreditáveis 8 milhões de reais a serem socializados com os proprietários de cerca de dez mil boxes, o que dará, caso o valor seja ratificado, por volta de 800 reais por box. Já foi um absurdo o fato de os condôminos não terem conhecimento da tramitação desse processo. Junte-se a isso a existência de uma banca de advocacia muito bem paga, segundo o ex-vereador Ernesto Maia. Acrescente-se a patética perda dos prazos processuais, o equivalente a um concurseiro se preparar por dois anos e perder o dia da prova.
Agora, novamente através de uma nota quilométrica e constrangida, os gestores do centro de modas mais uma vez acenaram para os condôminos com a possibilidade de recursos judiciais, o que, segundo o advogado Tallys Maia, é uma tentativa de passar para a população que o Moda Center ainda pode recorrer a instâncias superiores, mas a situação jurídica já está firmada: processo transitado em julgado. Assim, como a primeira nota, essa segunda cria uma falsa expectativa aos condôminos porque a eles só resta uma coisa: paga ao senhor Sebastião os valores milionários pleiteados por ele, já que a marca que o mesmo registrou, num vacilo jurídico do MC, estava sendo usada, há anos, apesar das dezenas de notificações. Os valores que o Moda Center mencionou em dezembro, no máximo um milhão e meio, são muito aquém do que ficou-se sabendo agora.
O advogado Tallys Maia, além de garantir a impossibilidade de seguimento do processo, ainda afirmou que os 8 milhões calculados pela defesa do senhor Sebastião são realistas, não acreditando, segundo ele, em grandes diferenças com os valores constantes na sentença do juiz, quando ela sair, nessa última fase juridicamente chamada “liquidação de sentença”. Seria o resultado da soma de 4 milhões e 138 mil referentes aos royalts, que, atualizados, resultariam em 5 milhões, mais o acréscimo dos juros, o valor subiria para 6,7 milhões. Devido à procrastinação jurídica do Moda Center, mais 20% de multa foram acrescentados a este último valor na última instância de julgamento. Ou seja, conforme a citado advogado, os valores apresentados pelo senhor Sebastião dificilmente serão substancialmente alterados, para mais ou para menos.
Não se pode deixar de questionar: como aquele gigante da moda, nacionalmente conhecido, com um corpo jurídico e, principalmente, moderna e eficientemente gerido, livre da política partidária, chegou a uma situação dessas? Haverá consequências jurídicas e políticas para quem tinha ciência dessa situação e não permitiu que chegasse ao conhecimento dos atores principais, os donos de boxes? Tamanho absurdo resultará apenas na socialização desse prejuízo milionário? As despesas mensais dos condôminos não eram para proteger seu patrimônio, divulgá-lo, modernizá-lo e mantê-lo limpo e seguro?
Por muito pouco a disputa eleitoral de 2020 não foi conquistada pelo mesmo grupo que ganhou fama com a gestão do Moda Center. Um milagre impediu que o ciclo alternado entre Taboquinhas e Bocas Pretas fosse interrompido. A proposta era estender à administração da cidade o mesmo sucesso gerencial até então obtido à frente do MC, que agora se transformou num mico político, suficiente para inutilizar eleitoralmente, promissoras lideranças. Se onde passa um boi passa uma boiada, o grupo Verde ainda faturou negativamente com as duas gestões à frente da Câmara Municipal. A primeira resultou numa contundente CPI. A segunda, em curso, é tão vistosa que o seu comandante sequer vai disputar a reeleição. Logo ele que figurava como protagonista em qualquer lista de possíveis candidatos a prefeito de Santa Cruz do Capibaribe.
Diante de tudo isso, é fácil deduzir o pavor que os principais integrantes do grupo têm de se apresentar ao eleitorado novamente. Inês é morta e falecida, gerencial e politicamente, embora duas notas aos condôminos tentem negar. Sebastião vai encher as burras de dinheiro, no cash, no PIX ou parcelado a perder de vista. Quem sabe se o “cabe recurso” não seja recorrer a ele em busca de clemência, de generosidade, de desprendimento. Independe de indulgências e diferente do que as notas tentaram transmitir, a questão está liquidada. Seria mais nobre a abertura de espaços para novos gestores à frente do Moda Center, de forma voluntária ou “coercitivamente” através de uma assembleia (ou recurso jurídico que a lei permitir). Não se deve mirar o mensageiro ou os mensageiros, os denunciantes do processo, e sim as mensagens. Levar mais de setenta cutucadas e não acordar... O jogador Sebastião avisou dezenas de vezes onde iria bater o pênalti. Bateu e converteu. A gestão do Moda Center levou um frango e os condôminos vão pagar o pato.
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