O senador Fernando Collor (PTB-AL) afirmou, em discurso no plenário do
Senado, que o impeachment de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai,
foi uma ação legítima, realizada dentro das normas paraguaias. Collor
criticou a posição da diplomacia brasileira no episódio, que considerou
"açodada" e marcada por erros. Recomendou "moderação e bom senso" para
evitar um cenário de instabilidade na região.
Foto: André Coelho / O Globo
Collor enquanto aprova o método paraguaio de destituição de presidente, discorda dos métdodos e posição da diplomacia brasileira diante do caso
Collor enquanto aprova o método paraguaio de destituição de presidente, discorda dos métdodos e posição da diplomacia brasileira diante do caso
O senador Fernando Collor (PTB-AL), é o sujeito que mais entende de impeachment no planeta. Sofreu um na própria pele e passou anos refletindo sobre a questão, junto com jurisconsultos e advogados. Portanto tem muito peso a sua afirmação, direto da tribuna do Senado, nesta terça-feira (26), de que não houve golpe de Estado no Paraguai, com a destituição de Fernando Lugo.
Para ele interesses pessoais e ideológicos impedem a clareza da análise da crise paraguaia, que terminou com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo e com a ascensão do vice, Federico Franco, ao poder. Para o senador, é preciso respeitar os conceitos jurídicos do país vizinho.
- O Estado de Direito significa a existência de normas jurídicas. É o contrário da anarquia. Pressupõe a existência e o respeito às regras – disse.
Fernando Collor, que foi afastado da Presidência da República por meio de um impeachment em 1992 e hoje preside a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), disse não ver ilegalidade no afastamento de Lugo. Segundo ele, a constituição do Paraguai prevê o impeachment e que o presidente do país poderá ser submetido a julgamento, por mau desempenho de suas funções ou, ainda, por prática de delitos comuns ou de responsabilidade.
A exemplo do Brasil, cabe ao Senado julgar os acusados. No entanto, complementou o senador, a constituição não prevê um rito para o processo.
- A norma foi cumprida. Não há golpe de Estado ou quebra da legalidade – argumentou.
Collor disse que o golpe é a ação fora da norma legal, comumente com o uso da força física. Ele também registrou que a Suprema Corte do Paraguai rejeitou o pedido de Lugo para anular o julgamento, garantindo o mandato do atual presidente até agosto do ano que vem.
DIPLOMACIA
Na visão de Collor, a reação diplomática do Brasil foi “açodada”, ao fazer críticas ao processo paraguaio. Segundo o senador, o processo tem a ver com problemas da legislação interna daquele país. Para Collor, esse tipo de reação não vai contribuir para a relação com o país vizinho, cujo novo presidente já manifestou a intenção de visitar o Brasil. O senador lembrou que isso pode ajudar na situação dos chamados brasiguaios – que são brasileiros que cultivam terras paraguaias.
Para Collor, por razões estratégicas a diplomacia brasileira tradicionalmente interferiu no processo político paraguaio, mas sempre de maneira mais discreta. Dessa vez, segundo ele, parece que o governo brasileiro "foi tomado de surpresa" pela medida adotada pelo Congresso do Paraguai. "Ou seja, a diplomacia brasileira não antecipou o cenário e não antecipou uma ação preventiva como o fez no passado por inúmeras e discretas vezes", disse.
Collor pediu uma atuação mais efetiva da diplomacia brasileira junto ao Paraguai, no sentido de amenizar a crise. Para o senador, um aprofundamento da crise pode fazer com que Lugo assuma uma posição mais radical e até dificulte os interesses do Brasil na região. Ele lembrou o recorrente sentimento antibrasileiro por parte de alguns paraguaios e a hidrelétrica de Itaipu, construída em parceria com o Paraguai, que gera parte da energia consumida no Brasil.
O senador considerou "erro" o tratamento da questão no âmbito da Unasul, porque o Brasil perde, assim, "sua capacidade individual de manobra".
Para ele, a suspensão do Paraguai nas próximas reuniões de cúpula do Mercosul e ameaças de retaliações econômicas significam "acuar o novo governo e podem prolongar a crise".
- Ainda cabe à diplomacia brasileira uma iniciativa de moderação e bom senso – concluiu o senador.
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