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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Cafetões da fé

Religião se discute. Mais, ainda: Cristianismo se discute. Discute-se providencialmente quando ele está sendo vagarosa e progressivamente minado justamente por aqueles que deveriam sustentá-lo por meio da verdadeira e original pregação das “Boas Novas” -- conforme quis Aquele que, num acinzentado dia de dor, caminhou para o Gólgota. E Cristianismo se discute, sobretudo, quando o Senhor é brutalmente arrancado de seu áureo e sanguinolento altar cruciforme e substituído pelo falso brilho de um Mamon entronizado entre dourados cifrões de sangue.

Nos cambaleantes inícios da década de 90, surgiu no Brasil, recém-desembarcada dos EUA na maleta pastoral d’algum discípulo de Judas -- “Porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.” (João 12:6) --, a famigerada “Teologia da Prosperidade”. Para além de constituir-se numa versão antípoda daquela velhacaria (a marxistóide Teologia da Libertação) de frades teologicamente promíscuos, a nova doutrina tinha como missão extrair de Cristo as mesmíssimas coisas que Satanás quisera extrair de Jesus quando do episódio da tentação no deserto: próspera fartura (“manda que estas pedras se tornem pães”), saúde imunizada (“lança-te de aqui abaixo”) e poder político-social (“mostrou-lhe todos os reinos do mundo”).

Imediatamente abraçada pela generalidade eclesiástica do Neo-Pentecostalismo tupiniquim (completamente diverso do Pentecostalismo Clássico, note-se), a Teologia da Prosperidade foi malignamente de encontro às sôfregas massas que, sempre débeis..., prontamente aderiram às falsas panacéias triunfalistas de um “evangelho” que deu as costas à Cruz, permutando a riscada “cédula que era contra nós” (Colossenses 2:14) pelo feio e amassado papel moeda dos jubilosamente reinstalados vendilhões. O templo, casa de oração, voltou a ser covil de ladrões.

Pregando riqueza em níveis que praticamente envergonhariam o próprio Midas (o marketing é a alma no negócio, certo?), os “cafetões da fé” ocuparam redes de tv com sua despudorada adoração às “trinta moedas” -- símbolo-mor da traição por dinheiro. Se dantes todo cristão sincero e verdadeiro era, em potência, um Estêvão apedrejado e um João Batista decapitado, à partir de então a condição de discípulo do Ressuscitado passou a ser, em ato, a de um Bill Gates herodiano. Afinal de contas, o “Jesus” neo-pentecostal é um pajé macunaímico. É um milagreiro xamanístico sempre pronto a negar o sofrimento e a dor enquanto apanágios da Vera Fides [Verdadeira Fé], sempre disposto a amaldiçoar o martírio físico e espiritual enquanto sinal de contradição da esperança no Reino que, definitivamente, “não é deste mundo.” (João 18:36)

Sabem de uma coisa? Sozinho, o filme “Marcelino Pão e Vinho” -- amenizador espiritual da Espanha franquista -- faz/fez muito mais pela Cristandade do que todas as “igrejas” internacionais, mundiais e universais deste Brasil semi-desguaranizado. Amalgamada ao “jeitinho brasileiro”, qualquer falsa teologia, por mais notoriamente demoníaca que seja, torna-se ainda mais corrupta e corruptora. Parafraseando Vaz de Caminha, nesta terra em se pervertendo tudo dá. E o resultado disso tudo? Eis um povo fraco, escravizado, submisso não apenas ao leviatã estatal, mas também à serpente dos falsos ídolos. A Santa Ceia foi substituída pelo pão churrasqueiro dos pseudos apóstolos apóstatas. A Liturgia, reverente e silenciosa, foi trocada pelo circo dos ultra-exorcismos e roletas las-veguianas das catedrais de néon. Em suma, resta o milenar alerta profético: Saí do meio deles, ó povo meu! (Jeremias 51:45) 

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