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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Delatores negam que as doações a Bruno Araújo tenham sido propina


Imagem: Diego Nigro - JC Imagem
Em meio a enxurrada de informações a cerca dos desdobramentos da Operação Lava Jato a classe política se vê envolta em um verdadeiro bombardeio diário de acusações de crimes como, corrupção ativa e/ou passiva e lavagem de dinheiro.

Com a divulgação da lista de políticos que serão investigados por supostos envolvimentos ilícitos com a empresa Odebrecht, praticamente todos os partidos, com políticos de quase todos os estados tiveram seus nomes expostos e muitos deles lutam para provar que doações recebidas em períodos eleitorais aconteceram dentro da lei, sem o cometimento de nenhum crime.

Um desses políticos é o ministro Bruno Araújo. Deputado federal eleito em 2014, Bruno tem afirmado na mídia que até o momento, nada do que foi levado à tona através de vídeos de delações o incriminam. Tal linha também é seguida pelo  blogueiro Reinaldo Azevedo, que em seu blog, nesta terça-feira, traz trechos de falas que isentam Bruno de culpa de qualquer acusação. 

Confira abaixo o que escreveu Reinaldo Azevedo:

A tarefa de jornalista e de analista não é torcer. Também não é se comportar como justiceiro. Há um esforço permanente e nefasto para demonizar a política, levada a efeito por alguns vigaristas, cuja moralidade está se revelando aos poucos, não é mesmo? Este post vai tratar da delação que cita Bruno Araújo (PSDB-PE), atual ministro das Cidades. Antes, algumas considerações e lembranças.

Cumpro aquela que entendo ser a minha função. Quando os delatores dizem que pagaram caixa dois a esse ou àquele político, dou o devido destaque. Mas também relevo o conteúdo das delações quando estas negam que a pessoa A ou B tenha oferecido contrapartidas.

Isso é fundamental. Já chamei atenção para as delações de Benedicto Júnior (sobre Geraldo Alckmin e Eduardo Paes), Pedro Novis (sobre José Serra) e Mário Amaro da Silveira (sobre Kátia Abreu). Todos eles disseram ter feito, sim, doações às respectivas campanhas dos políticos citados. Mas também asseveraram que não se tratou de uma troca.

Se o Ministério Público não conseguir provar o contrário, não poderá acusar esses políticos de corrupção passiva, por exemplo. Mas anotem aí: mesmo assim, o órgão vai tentar. E espero que o Judiciário cumpra a sua função: recusar a denúncia. Só que isso é um desserviço para o país porque fica parecendo que a Justiça atua em favor da impunidade.

Vamos ver... - João Pacífico diz conhecer Bruno desde que este era adolescente. Afirma ter relações pessoais com a família do agora ministro das Cidades. Diz que as doações da empresa a Araújo foram feitas em razão as relações pessoais, mas também porque se tratava de uma aposta de que viria a ser um político de destaque. Aí pergunta um dos procuradores:

PROCURADOR – Concretamente, ele auxiliou a Odebrecht nesses quase seis anos de mandato?

JOÃO PACÍFICO – Olhe, eu o apresentei ao Cláudio Melo Filho [outro ex-diretor da Odebrecht] (…)

E Pacífico cita trechos da delação de Melo Filho, mas é interrompido pelo procurador.

PROCURADOR – Concretamente, o senhor se lembra de algum pedido que foi feito, se ele [Bruno] trabalhou em favor da Odebrecht, em benefício da Odebrecht, alguma Medida Provisória, algum ato legislativo.

JOÃO PACÍFICO – Não, não, não!

O ex-diretor nega com palavras e gestos, descartando peremptoriamente qualquer troca. E acrescenta.

JOÃO PACÍFICO – Se isso aconteceu, foi através de Cláudio Melo Filho. O que eu fiz foi apresentá-lo [Araújo] a Cláudio Melo.

PROCURADOR – Ouviu falar alguma coisa por intermédio de Cláudio Melo?

JOÃO PACÍFICO – Não, não!

Então é o caso de recorrer ao depoimento de Cláudio Melo Filho.

MELO FILHO - Eu mantive com ele [Araújo] uma relação fraternal, institucional, profissional.

MELO FILHO - Depois disso, em 2012, eu fui agraciado com a medalha Honra ao Mérito Legislativo, e a indicação foi do próprio deputado. Várias vezes, nós almoçamos juntos, conversamos, nos encontramos em ambientes sociais aqui de Brasília. E gostávamos muito de falar de política (…). A gente sempre falava de política, de Brasil e do meu Estado natal (Bahia). Essa foi a minha relação. Da parte dele, não houve nenhuma solicitação de nada em termos de campanha porque ele tinha a relação dele através do João Pacífico.

PROCURADORA – O João Pacífico relatou ao senhor em que o Bruno poderia ajudar ou estava ajudando os interesses da Odebrecht no Norte ou Nordeste?

MELO FILHO - Não!

ADVOGADO - Qual o interessa da companhia em contribuir com o deputado Bruno Araújo?

MELO FILHO - Bruno é um jovem talentoso politicamente, pelo menos no meu conceito; foi líder do partido dele ainda jovem, quer dizer, tem uma penetração no partido e no Congresso.

PROCURADORA – O senhor já tratou de algum assunto com ele sobre a Odebrecht?

MELO FILHO - Não!

PROCURADORA - O senhor, no seu relato aqui, informa que também conversou com o deputado Bruno Araújo sobre renovação de contratos de energia do Nordeste.

MELO FILHO - Também conversei sobre isso. Ele é pernambucano. Então, sobre esse tema, eu conversei com parlamentares que eu conhecia, que eram do Nordeste. Bruno foi um deles.

Caminhando para a conclusão - Acho que já está bom, não? Pacífico diz que a Odebrecht fez duas doações — R$ 300 mil cada —, pelo caixa dois, para campanhas eleitorais de Bruno. Mas nem ele nem Melo Filho relatam qualquer contrapartida do parlamentar pernambucano e agora ministro. Nada!

Note-se: Marcelo Odebrecht, que tem hoje poder de vida e morte sobre os políticos, disse com todas as letras: há políticos honestos que receberam pelo caixa dois – e, pois, o dinheiro não era propina. E há desonestos que levaram propina pelo caixa um, com doações registradas.

A Justiça garante a todos os mesmos direitos. E, por isso mesmo, tem de tratar desigualmente os que foram tornados desiguais em razão dos crimes que cometeram. O que vai acima relata, sim, caixa dois, mas não corrupção.

Jornalista tem de jogar para os fatos. Não para a torcida.

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