O padre Ramiro
Por Roberto Almeida
Como se não bastasse a violência contra uma criança, que começou a ser abusada desde os seis anos de idade, engravidou aos 10 e teve de fazer um aborto (autorizado pela Justiça), ainda temos de nos deparar com as atitudes irresponsáveis de terroristas como Sara Winter, o radicalismo ignorante de deputados falsamente cristãos e fundamentalistas que dizem defender a vida, mas, ao contrário, na prática estão a favor do mal.
A bestialidade parece ter tomado conta do Brasil, os demônios estão à solta. Há até quem acredite que o país está tomado pelo satanismo. Que a besta fera do apocalipse já está entre nós.
Como se fosse pouco os desatinos citados tem muito mais: a Arquidiocese de Olinda e Recife divulgou nota em que condena o aborto, como se a ciência dos médicos não valesse nada e a aplicação da Lei fosse errada.
A CNBB, através do primor Walmor Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, foi na mesma linha, o que levou o jornalista Ricardo Kotscho, de formação católica, a se afastar de um grupo de oração do qual fazia parte há 40 anos.
Pior mesmo só atitude do padre Ramiro José, do Mato Grosso, que condenou pelas redes sociais a menor estuprada, escrevendo essa pérola: “Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também? 6 anos, por 4 anos e não disse nada. Claro que estava gostando. Por favor kkkk, gosta de dar, então assuma as consequências”.
Antes dele, na mesma linha, uma professora de São Paulo, uma tal Eliana Nuci de Oliveira questionou por que a menina do Espírito Santo nunca contou que era violentada. Ainda insinuou que a garota, que contou à polícia que era estuprada pelo tio desde os 6 anos, foi paga para ter relações sexuais.
Curioso é que o médico recifense Olímpio Moraes já foi excomungado pela Igreja Católica mais de uma vez, por realizar procedimentos legais que possivelmente salvam vidas de crianças.
Este padre Ramiro, var ser excomungado? A professora paulista sofrerá alguma reprimenda dos religiosos, da parte dos deputados que dizem defender a vida? De todos os que são contra o aborto e não dizem nada a respeito do assassinato diário dos pobres na periferia, dos crimes de pedofilia e de homofobia?
O que é mais grave, um adulto estuprar uma criança de seis anos ou um aborto diante de uma gravidez de risco?
Os valores no Brasil estão invertidos. Os mesmos que são tão radicais contra o aborto, mesmo que previsto em lei, apoiam a pena de morte, acham que bandido bom só morto, fecham os olhos às milícias, à injustiça social, ao fim dos direitos sociais, às investidas contra a democracia e tudo que está levando este país de volta a um passado sombrio, aos idos de 1964 ou mesmo a era pré-Getúlio.
O mundo já viu esse filme. Na Itália, no Japão, na Espanha, na Alemanha.
Começaram tirando a liberdade, invadindo países, calando a imprensa. Depois mataram milhões, sem piedade. Ciganos, judeus, deficientes, velhos, homossexuais e até mulheres e crianças completamente inocentes.
Fascismo e ignorância levam a isso. Em qualquer lugar. Os demônios se soltam. E às vezes o estado de loucura e insensatez demora a acabar.
O padre e a professora citados foram punidos. Ela perdeu o emprego, o sacerdote foi afastado da paróquia. Pelo menos isso.
É preciso dar um basta nos radicais, nos estúpidos, nos que fazem mal as pessoas e a sociedade.
Chega de violência. Contra as mulheres, os pobres, os negros, as crianças.
A minha arma é apenas a palavra escrita. Mas está serviço do bem comum, do amor, das artes, da vida plena, que é um direito de todos e não apenas dos escolhidos por hipócritas e fariseus.
Devemos, como na bíblia, como na canção do cantor popular pedir: "Pai afaste de mim este cálice, de vinho tinto de sangue".
A professora Eliana
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