Muito provavelmente, no pleito municipal de 2024, em Santa Cruz do Capibaribe, as três forças políticas que disputaram em 2020 vão se reencontrar. O prefeito vai defender sua gestão e tentar convencer a população de que merece continuar na administração. Não parece muito provável, nem tampouco estratégico, que Fábio Aragão vá nacionalizar a campanha municipal, reproduzindo aqui o clima da disputa entre racionais e terraplanistas. Aliás, o prefeito tem voto nas duas alas e nem no momento mais oportuno, em outubro do ano passado, ele revelou explicitamente sua opção presidencial.
Louve-se a esperteza política dele, em não entrar nessa bola dividida. A troco de quê? Sabendo que a população ”vive no município” e quer ver suas demandas mais urgentes serem resolvidas, o prefeito vai ficar de camarote vendo a oposição disputar quem é mais ou menos bolsonarista?
Espera-se, do grupo Azul, como em 2020, a defesa do seu legado, que não foi bem assimilado pelo eleitorado naquele momento, seja por não ser suficientemente convincente ou por equívocos de campanha, como ter colocado o então vice-prefeito, Dida de Nan, por exemplo, na cabeça da chapa. Cabe ao grupo, com a assessoria de especialistas em marketing eleitoral, detectar se o candidato apresentado era fraco ou se sucumbiu por causa do peso de ser o representante de uma gestão desgastada. Por que o grupo elegeu quase metade das cadeiras do legislativo municipal e ficou em terceiro lugar na majoritária?
O fato é que, na improbabilidade de uma composição política digna, que reserve ao grupo um espaço compatível com seu peso político, os azuis precisam fazer o inventário das obras e ações de que tanto falam e partir ao encontro do eleitorado, mostrando-lhe que o trono municipal deve ser devolvido, já que dizem ter feito tanto pela cidade. Oferecer-se para uma posição subalterna e nacionalizar a campanha certamente fará a alegria de quem deve ser o alvo número um da disputa, o prefeito Fábio.
Para o grupo que surfou na eleição de 2020, o Verde, depois de se apresentar como “NOVO”, a conjuntura não será a mesma, obviamente. Um dos grandes atrativos de então jaz agora no ostracismo político, defendendo-se de um “moda center” de processos jurídicos. Certamente vai arrefecer essa lorota de “diferente” e adotar um certo pragmatismo, se quiser mesmo desbancar o bom moço da chefia municipal. E já deu os primeiros passos nesse sentido ao atrair para o grupo um ícone da “velha política”, o candidato a prefeito do grupo azul, Dida de Nan. Até CPI e ”contas pendentes” no TCE os verdes vão ter. Não sofrerão mais o bullying da pureza. Mesmo assim, também fazem a alegria do gestor que vai para o “plebiscito”. Se o lema político era “dividir para governar”, os Carneirinhos adaptaram para “dividir para perder”. Equivocar-se-ão também se insistirem novamente no que parecia oportuno em 2020. A conjuntura é outra e o adversário estará com a máquina na mão, um tônico político capaz de transformar um “matuto” em candidato competitivo.
A cereja do bolo, para o prefeito, é uma candidatura 100% “patriota”, como se isso fosse agregar os pouco mais de 50% dos votos de direita da terra da confecção ao candidato cujo programa de governo se resuma a nove letras: Bolsonaro. Seria o caso do suplente de deputado federal, Robson Ferreira. As três vias anteriormente citadas têm voto no eleitorado terraplanista, então, é uma quimera política achar que se apresentar como ‘bolsonarista” vá garantir uma vitória, quando o que está em jogo é a rua pavimentada e não a discussão se a Serra do Pará é plana. Restando ainda um importante porém: quem vai ficar com o PL? Se depender dos Ferreira de Jaboatão, o Ferreira de Santa Cruz pode voltar para a China comunista, como fez recentemente.
O que o prefeito teme, de verdade, é a movimentação política de José Augusto Maia, principalmente porque, com ele na disputa, três ingredientes indigestos precisarão ser digeridos: primeiro, Zé vai, obviamente, municipalizar a disputa; segundo, vai se apegar à mística Taboquinha para sensibilizar os nostálgicos, que têm medo de altura, e não são poucos. Em 2022 foram quase 8.500; E finalmente, vai correr na mesma raia do eleitorado do prefeito. E ainda tem um quindim: para onde vai o eleitorado com o perfil dos professores, por exemplo? Para o prefeito que os “persegue” ou para os outros três grupos que vão passar a campanha “fazendo arminha” no lugar de debater a cidade e suas demandas? Considerando a disputa nacional, o eleitorado foi quase meio a meio. Se houve mudança, não foi para pior. A picanha de hoje está com o preço do osso, do ano passado. A eleição será plebiscitária.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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