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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Depois de 75 cutucadas, o gigante MC acordou, para ouvir a sentença

        


 Normalmente, o pai se esquiva de assumir a paternidade do menino até que finalmente seja alcançado pelo oficial de justiça para fazer os devidos testes biológicos e assim esclarecer quem, afinal, vai prover mensalmente os alimentos e o afeto necessários à sobrevivência e desenvolvimento do rebento. Na política, o fenômeno é o inverso. Independente de DNA, todo mundo quer dar o sobrenome e faz questão de se apresentar como pai da “criança”. Nesse caso, não há teste, apenas narrativas verossímeis ou absurdas. Mas, como o propósito é eleitoral, vale mais quem conta uma história melhor, verdadeira ou não. A não ser que a “cara do filho seja o focinho do pai”, não deixando brechas para estelionatos eleitorais. Todo mundo sabe quem construiu a primeira UPA de Santa Cruz do Capibaribe. Já em relação à tese de que agora a cidade tem uma “Nova UPA”, cabe à estratégia de marketing eleitoral provar ou negar, no período em que o eleitor deixa de ser figurante e até vê seu candidato sorvendo um dindim (dudu), cujo saquinho foi inflado a plenos pulmões por dona Maria.

        A paternidade daquele empreendimento gigante que fica ao lado do Altas Horas Outlet (não me arrisco a  citar o nome, dado o perigo do pagamento de royalts) é de um filho, cujo DNA, voltou a ser disputado. Uma disputa muito natural já que Santa Cruz se transformou em outra cidade, econômica e socialmente, depois que esse estabelecimento começou a funcionar. È uma mercadoria valiosa para quem deseja reconquistar a cadeira número um da municipalidade. Falo reconquistar porque essa criança se vê diante de dois pais que já comandaram a terra das gameleiras: Ernando Silvestre ou José Augusto Maia? Não é muito improvável que vejamos os dois disputando nas urnas quem verdadeiramente concebeu aquela maravilha da indústria e do comércio. Mas, o que vem ao caso agora, são os frutos que este filho rendeu à cidade, além da prosperidade econômica, além da geração de emprego, além de movimentar a economia de toda uma região. Foi dali que surgiu uma leva de gestores eficientes, modernos, capazes, que terminou se apresentando nas disputas eleitorais, projetados pelos mandatos de síndicos do empreendimento.

         Dificilmente se vê a viabilidade de uma terceira via eleitoral numa cidade marcada por uma tradicional polarização política. Mas aconteceu em Santa Cruz, surpreendentemente.  E o que viabilizou esse sucesso eleitoral foi justamente as administrações “modernas” do já mencionado empreendimento da moda. Foi um eficiente trampolim para se chegar à política e por um triz não resultou na conquista da prefeitura municipal. Foi a partir de 2010, que os “menudos” assumiram o comando, isolando os dois “dinossauros” antecedentes e formando uma verdadeira dinastia da boa e eficiente gerência. Para isso, claro,  contaram com uma competente e bem remunerada assessoria jurídica. Passados 13 anos de gestões eficientes, apareceu um filho, cuja paternidade é um verdadeiro constrangimento: Santa Cruz do Capibaribe e região ficaram sabendo que o empreendimento de moda havia perdido, há anos, a marca que ostentava em sua fachada e que era usada em todas as mídias de propaganda. Pior, o centro de comércio de confecções perdeu prazos processuais, não podendo mais recorrer à justiça para recuperar uma marca consolidada com o tempo e fruto do trabalho de milhares de condôminos. 

        Mas isso ainda não é o fundo do poço. O “hacker” da patente teve o cuidado de mandar, periodicamente, notificações avisando que detinha a marca e ela só poderia ser usada mediante pagamento. E não foram duas, três, quatro notificações, foram dezenas. Fala-se em 75 notificações. Mesmo assim, os eficientes gestores, assessorados por uma bem paga banca de advogados, perderam os prazos processuais. Nada mais ridículo. È como se o concurseiro, depois de anos de preparo, depois que surge o tão sonhado concurso, no órgão que tanto almejou, tivesse perdido o prazo de fazer a inscrição. No caso aqui mencionado, tem uma agravante: trata-se de gestores administrando em nome de milhares de condôminos, que nem no mais delirante dos sonhos, imaginariam o tamanho do pesadelo que vinha se avolumando há anos, sem que tivessem a mínima suspeita, afinal, quem imaginaria que tal incompetência pudesse acontecer justamente sob a eficiência e gestão implantados a partir de 2010? Ficaram sabendo através das redes sociais, porque, na imprensa, esse mico monumental demorou a aparecer. E apareceu como eufemismo e não como hipérbole, como deveria ser.

         Agora, o suspense e a ansiedade de quem tem um box lá no empreendimento disputado por Ernando e Zé Augusto: quantos milhões deverão  pagar a um esperto que deu um bote numa marca consolidada e pela qual não trabalhou? Em favor dele, relembremos que teve a iniciativa de notificar 75 vezes a turma da gestão moderna, que se projetou politicamente a ponto de enveredar pela política oferecendo a mesma modernidade e capacidade. E, ironicamente, foram os matutos da zona rural que impediram. Tanto que foram buscar um “matuto” para suprir, em 2024, os matutos que faltaram em 2020. E agora, com que cara vão se apresentar aos condôminos e se reapresentar aos eleitores? Qual vai ser o discurso? Se alguém perguntar sobre as 75 notificações e sobre a perda dos prazos processuais, vão enrubescer, como sugeriria aquele personagem do Jô Soares?  Vão encontrar pela frente uma legião de verdes, que não será cor partidária, mas a ira de quem faz da noite um dia comum, sentado em uma máquina de costura, sem saber que o extenuante serão servirá para pagar uma milionária indenização a quem “gritou” para ouvidos “moucos”. Muito fácil rasgar uma carta. Difícil vai ser se livrar desse mico. 


Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.

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