Os setenta anos de Santa Cruz do Capibaribe propiciaram uma série de homenagens à emancipação política da cidade, dentre as quais, lançamentos de livros sobre sua ainda juvenil autonomia. Foi através de um deles que ficamos sabendo que a terra da sulanca já teve uma linha de trem, partindo de nada para lugar nenhum. Teve até regabofe exclusivo num dos mais chiques restaurantes da cidade que quase termina em indigestão. Se ainda não resultar em futuros traquejos políticos via redes sociais. Certamente a cidade ganhará uma publicação que conte causos e casos pitorescos e folclóricos da sua vida social, política e econômica e um lugar especial será reservado ao expoente do grupo Verde, empresário Alan Carneiro, que, por um triz, não está agora sentado na cadeira de prefeito da cidade.
Em janeiro do ano passado, do nada, o quase prefeito de 2020, publicou uma carta anunciando sua renúncia à vida pública no quesito disputa de eleições. Ninguém entendeu o porquê e passaram o ano comentando o acessório, o que estava escrito, e não o essencial, por que a carta foi escrita. Questão familiar? De saúde? Eram ainda os primeiros dias da governadora Raquel, já sabia que não seria prestigiado, a despeito de ter sido o primeiro a apoiar a então candidata? O fato é que o próprio Alan “corrompeu” a carta ao deixar prosperar as especulações sobre uma possível candidatura em outubro próximo. Não só deixou prosperar, como alimentou a possibilidade de “rasgar” a epístola. Quando a governadora veio a Santa Cruz, o empresário cuidou de se postar perto da filha de João Lyra, de forma que fosse captado pelas lentes e celulares. Até discursou no evento que se propunha a elaborar propostas ao plano plurianual do Governo do Estado.
Já no segundo semestre, a festa foi o ataque especulativo aos quadros políticos do grupo Azul, principalmente ao ex-vice-prefeito Dida de Nan, que estava magoado com os antigos companheiros, supostamente por ter sido esquecido depois da campanha de 2020, quando a própria turma do Verde questionou suas capacidades. No cálculo das estrelas da nova política, Dida seria o nome ideal para suprir as pouco mais de três centenas de votos que permitiram o milagre da eleição do prefeito Fábio. O “matuto” poderia amealhar os votos das comunidades rurais. Dida virou tão estrela que a agenda mal acomodava tantas solicitações de entrevistas. Sempre, claro, levantando a bola para ele chutar contra o gol que defendeu em 2020, por decisão de uma maioria, que se sobrepôs à preferência do cacique Azul. No périplo radiofônico, estava sempre “escoltado” pela dupla Capilé-Alan César, futuros companheiros de grupo. Uma indicação fortíssima de que jamais os Verdes se misturariam com os Azuis. Uma habilidade política que também deverá figurar nos anais folclóricos da cidade. O clima era de velório para o grupo Azul, com a perda de nomes importantes e a perspectiva de um efeito manada em direção ao Verde. Tudo isso e apesar da carta do empresário Alan Carneiro.
A cereja do bolo veio com o rompimento das núpcias Fábio-Da Fonte, provocado pelo “concubino” Carreras e seu cofrinho multimilionário. Magoado, Da Fonte lançou-se na empreitada de reunir as oposições para enfrentar o prefeito, dando a Alan a cabeça de chapa, tendo como vice uma das estrelas do grupo Azul e contando ainda com a adesão da chamada direita patriótica. Não seria problema acomodar os interesses eleitorais dos Ferreira de Jaboatão, de Mendoncinha, dos Coelho, do próprio Da Fonte, já que uma causa maior os unia, abreviar a temporada do prefeito Fábio no palácio municipal e a cidade tem um tesouro de mais de 60 mil eleitores. O desistente da carta de janeiro de 2023 até foi a Recife, levando uma procissão mais numerosa do que a quantidade de boxes do centro de modas (por questões de patente, o nome do centro não foi mencionado). A expectativa nos meios políticos foi grande, porque os ares eram de uma junção oposicionista forte para enfrentar o favoritismo do prefeito.
Mas, o quase prefeito de 2020, Alan Carneiro, arrefeceu o ímpeto e marcou uma data para desistir da desistência, ou seja, Alan disse que a carta foi de vera, causando enorme frustração, inclusive nos seus próprios companheiros. Pra piorar a situação, ou melhorar para outros atores políticos, o empresário disse também que nenhum dos tão falados expoentes do grupo aceitaria o abacaxi de ser candidato a prefeito e que, sendo assim, decidiram entregar a criança a quem nunca consideraram como opção política, o vereador Capilé. Foram além, delegaram-lhe poderes para conduzir possíveis negociações políticas, fechamento de chapas e lançamento de candidatura a prefeito. O vereador deve estar com muitas pulgas por trás da orelha ao receber tamanha deferência política. Deve se aconselhar com o cego, que desconfia de esmola grande. Levando-se em conta a coragem das estrelas Verdes, não corre o risco de ser cristianizado na campanha? Vai deixar de lado uma reeleição para vereador e entrar numa majoritária sabendo que o arsenal dos adversários está azeitado?
Eis a situação política do grupo Verde, provocada principalmente por sua maior estrela, que deixou seus companheiros esperando na antessala, mesmo sabendo que o Não seria Não. Agora o grupo tem decisões difíceis a tomar. Lançar Mauro Xampu como candidato, já que Pelé simulou uma contusão, e terminar muito longe do placar de 2020, ou aceitar compor com o grupo Azul, indicando o vice. Decisão difícil deixar de almoçar no Teike para comer um PF no Bom Prato.Fizeram o “velório” do Azul quando Dida deixou o grupo, mas o “defunto” é o Verde, como estamos vendo agora. O lado positivo é que Capilé, se efetivamente tiver o comando das decisões, pode fazer o que deveriam ter feito sempre, política. O prefeito Fábio torce que não. Sabe que a parada de enfrentar a oposição unida, juntando azuis, verdes e patriotas não é como pegar o Sport numa final de Copa do Nordeste.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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