Se o deputado Eduardo da Fonte que deu entrevista ao radialista Márcio Felipe não for o mesmo bravateiro que prometeu impedir coligação do PP com qualquer partido que filiasse o prefeito Fábio Aragão, está fechado o caixão da possibilidade de uma junção dos progressistas com o grupo Boca Preta. Segundo declaração do deputado, “a chance de apoiar o grupo de Edson Vieira é a mesma chance de apoiar Fábio Aragão”, ou seja, zero, porque o prefeito foi quem despachou o deputado, como ele está despachando agora os azuis. A fala do deputado termina precipitando o movimento pré-eleitoral porque dá uma certa nitidez ao cenário político, já que era dele que se esperava alguma declaração sobre as articulações políticas e a oposição dependia dela.
De Eduardo da Fonte esperavam-se três
decisões: levar o PP para uma junção com os azuis, lançar uma pré-candidatura
do empresário Robson Ferreira ou apoiar o nome do partido Novo, aparentemente o
professor Alan Clemente. Com a primeira possibilidade descartada, não foi
possível concluir na fala do deputado que o professor teria o apoio do PP à sua
pré-candidatura. Da Fonte elogiou Alan Clemente, reconheceu nele credenciais
para a disputa majoritária e chegou até a dizer que o integrante do Verde tem
melhor currículo que o prefeito Fábio, algo que em política não diz muito. È só
comparar o professor e intelectual Fernando Henrique Cardoso com o “analfabeto”
Lula e ver como terminaram os respectivos governos em 2002 e 2010. Mas Da Fonte
precisava dessa diplomacia para não assumir abertamente, pelo menos por
enquanto, o rumo que os progressistas tomarão em seis de outubro.
Pelo que declarou o deputado, não se pode assegurar seu apoio ao
professor Alan, principalmente se observarmos a movimentação recente do
empresário Robson Ferreira através de fotos e vídeos em grupos de watts da
cidade e região. Sabe-se que as palavras do empresário tem o prazo de validade
de dias, no máximo uma semana, mas é preciso sempre relembrar. Robson amealhou
dez mil votos na eleição de 2022, ficando na primeira suplência do PL. Ao sair
para o PP, seduzido por Da Fonte, o empresário praticamente deu adeus à
possibilidade de assumir o mandato em Brasília, mesmo que por alguns meses. O
“acordo” Da Fonte-Valdemar Costa Neto não garante que Robson não perca a
suplência. Sendo assim, a troco de que ele saiu do PL para se filiar ao PP,
senão com a garantia de poder ser candidato a prefeito?
Agora, como Da Fonte pode apoiar um
nome de segunda linha do Verde, que se filiou ao Novo sem conhecimento do
deputado, partido que não tem sequer uma chapa proporcional de pré-candidatos a
vereador? Um pré-candidato que abomina hipocritamente a política tradicional,
onde o chefão do PP acumula poder? Tudo isso descartando os dez mil votos de
Robson? Que “desistiu” da pré-candidatura por sentir corpo mole dos verdes para
no final não estar na chapa majoritária? È esse nó que o deputado Eduardo precisa
desatar, mas é fato que os verdes não podem fazer vetos porque não controlam
partidos e os nomes fortes potenciais
pré-candidatos a vereador estão filiados ao PP. Como não cravou o apoio ao
professor Alan, é natural que o deputado vá sugerir a chapa Robson-Alan
Clemente e os verdes terão de fazer um balé bem convincente para recusar.
Quanto aos azuis, resta claro que vão marchar sozinhos com a candidatura
da ex-deputada Alessandra Vieira. Não há mais amarras para se definir o nome do
possível vice, que não foi feito até agora justamente pela difícil
possibilidade de uma junção com o PP, definitivamente sepultada por Da Fonte.
Com os verdes virou impossível depois do míssil nuclear disparado pelo
radialista Ernesto Maia e pela vereadora Jéssyca Cavalcante, que expuseram a
nudez gerencial dos “diferentes” e embalsamou de vez uma possível nova
candidatura Alan Carneiro, forçado a desistir. Caberá aos bocas pretas definir
as estratégias e demonstrar o que conquistaram para a campanha eleitoral ao se
filiarem ao PL, apostando na dupla Bolsonaro e Michele. Por enquanto, a
pré-campanha tem sido temperada pelos discursos de “quem fez”, “quem não fez”,
“quem tem obra”, “quem reciclou obra” propagados tanto pela militância quanto
por pré-candidatos. Na fundamental definição do vice, os bocas podem optar pela
“função apelativa”, com a missionária Sizerônica; pela “função emotiva” com
Dida de Nan ou pela “função metalinguística” com Joselito Pedro.
Se Da Fonte pensar pequeno e aceitar
a vice na chapa do professor Alan, estará contrariando a lógica que costuma
prevalecer na política e, principalmente, será alvo de questionamento sobre a
“raposa política” que aparenta ser, afinal, controla uma forte bancada na ALEPE
e vai arriscar sair da eleição de Santa Cruz como terceira via? Um ponto
importante a ser definido é a presença do prefeito de Recife, João Campos,
reforçando os azuis, em deferência ao ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho.
João teria coragem e contrariaria a dupla Diogo-Carreras? Miguel teria
prestígio para tanto? Tudo isso e mais a prometida entrevista de Eduardo da
Fonte, onde ele vai explicar o rompimento com o prefeito, ficam para os
próximos pouco mais de dois meses. Por enquanto, fiquemos com a sugesta pesada
do vereador Carlinhos em direção ao professor Alan Clemente. Reticências ou
ponto final?
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