Milly Lacombe*
Assim como o Brasil envelhecido e conservador, Neymar está perdido entre o masculinidade tóxica e o empreendedorismo predador. Acha razoável responder a uma crítica chamando mulher de feia, velha e louca e acha bonito investir em projetos que envolvam a destruição de áreas de proteção ambiental.
O que tem em Neymar além desses dois mundos, o do homem tóxico e o do capitalista destruidor? Tem o jogador que parece não gostar mais de jogar e o pai que não se recusa a pagar largas pensões para que as mulheres que dele engravidaram cuidem dos filhos que ele fez. Parece bastante coisa, mas é bem pouco na verdade. É o mínimo, aliás.
Neymar, assim como a masculinidade frágil de forma geral, não consegue escutar críticas sem espernear e quando esperneia a pirraça acontece em escala mundial dada sua fama e alcance. Essa masculinidade tão apequenada precisa invariavelmente dar a última palavra, falar mais alto, xingar mais forte, reagir mais virulentamente.
Trata-se de um garoto preso no corpo de um homem. Um garoto que se recusa a crescer. Um garoto que acredita que a vida é rasgar os pneus do amigo que fez uma brincadeira boba com seus sapatos. Um garoto que abre a câmera e sai falando qualquer absurdo machista que passe pela sua cabeça porque tem certeza que o mundo é seu playground e que vomitar misoginia é apenas mais um chute em direção ao gol.
Neymar poderia ter sido imenso e, nesse caminho, nos ajudado a viver numa sociedade mais justa. Optou por jogar sozinho. E, jogando sozinho, vai protagonizando espetáculos deprimentes de descontroles e desatinos sempre para proteger os mesmos valores decadentes que estão nos afundando em destruição. As pessoas mudam e Neymar pode um dia mudar. Seria uma transformação poderosa. Mas, para isso, ele precisaria querer abrir a cabeça e me parece que ele não quer. Assim, seguiremos testemunhando seus chiliques, fúria verbal e descontroles. Quase sempre - por motivos que Neymar precisará de tempo para compreender - direcionados mais violentamente contra mulheres.
*Milly Lacombe é jornalista. O trecho foi reproduzido de um texto publicado no Portal UOL.
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