O que era uma possibilidade, materializou-se.
Oficialmente, a disputa pela prefeitura de Taquaritinga do Norte terá quatro
vias, uma a mais que na surpreendente eleição passada. Quando se fala em
terceira via, considera-se a postulação de alguém que se lança na disputa com
alguma possibilidade de, no mínimo, exibir uma respeitável performance
eleitoral. O então candidato Fábio de Jairo rompeu a barreira dos mil votos,
beliscou uma fatia da votação Calabar e ainda elegeu um vereador, que hoje
preside o poder legislativo local. Agora serão quatro candidatos e nenhum pode
ser considerado como figurante.
Apostava-se numa desistência de
Jânio Arruda, asfixiado por um "ataque especulativo" do dissidente
Jobson da Internet e um cartel de derrotas para o Calabar, mas o ex-prefeito
resistiu. Também havia a expectativa de um possível acordo entre o candidato do
União Brasil com o vice-prefeito Gena Lins para a formação de uma chapa única
para enfrentar o candidato da situação, Allyson Dias. Jânio esfregou as mãos de
ansiedade, torcendo por esse acordo, assim correria sozinho no eleitorado
Gravatinha, mas as fotos postadas em redes sociais não se transformaram numa
junção Gena-Robson, alimentada, segundo disseram, pela frustração com o público
presente nas convenções, principalmente do chamado grupo Roxo.
Das quatro candidaturas, uma não
tem muito o que perder, a do ex-prefeito Jânio Arruda, acostumado com os
dissabores eleitorais desde o ano 2000, mas ainda esperançoso com a performance
de 2020. Dessa disputa sairá o tamanho eleitoral de Jânio, depois de tantas
jornadas e agora com um candidato dissidente no seu grupo. Porém, mais do que
Jânio, é Jobson da Internet que está na obrigação de superar a votação do ex-prefeito,
já que é claramente a campanha do milhão contra o tostão, e não apenas em
termos de estrutura. Jobson está acompanhado de três ex-prefeitos, sendo assim,
não será muito honrosa uma votação inferior à de Jânio
È
treta
Conforme dito acima, o aroma de uma
possível junção dos grupos Branco e Roxo, representados, respectivamente, pelo
vice-prefeito Gena Lins e pelo empresário Jobson da Internet, chegou a
impregnar narizes mais sensíveis, acostumados com os simbolismos de campanhas
eleitorais. O agora saudoso Sílvio Santos, olhando os “sinais”, certamente
perguntaria: “é namoro ou amizade”? Nem uma coisa, nem outra, terminou sendo
inimizade, política, evidentemente, já que houve um estranhamento entre os dois
grupos por causa do chamado “kit convenção”, atribuído a jovens da campanha do
vice-prefeito Gena Lins, composto de cachaça, vodka e outros ingredientes, para
dar uma animada no evento que lança os candidatos.
A esposa do candidato Jobson da
Internet reprovou firmemente o tal kit atribuído à “Juventude Genial”: “Espero
que essa coligação reveja tudo o que foi colocado e que não volte mais a se
repetir”, foram as palavras de Simone, esposa do candidato do União. Claro que
o anúncio do tal kit foi uma falha da pré-campanha de Gena Lins, mas a
repercussão terminou respingando nele, o responsável pela campanha.
Politicamente incorreto, mas a ressaca causada pelo tal kit foi enterrar de vez
a possibilidade de um entendimento entre os dois candidatos com vista a uma
candidatura única.
Além desse episódio do kit,
insatisfações internas teriam existido, com candidatos proporcionais fazendo
beicinhos para a possibilidade de uma junção. Uma equação muito difícil de
fechar, afinal, depois de se rebelar contra Jânio, depois de sugar lideranças
do ex-prefeito, depois dos dispêndios da pré-campanha, depois de juntar no
mesmo barco, “cassado” e “cassadores” e convencer o ex-prefeito Evilásio a
pensar pequeno, como seria a engenharia para uma junção com o Branco? Como
chegar para Evilásio e dizer-lhe que nem pequeno ele poderia pensar? A própria
desistência de Jobson para ser vice de Gena, mesmo que com uma promessa para
2028, já seria pensar minúsculo, uma vez que não se imagine que, uma vez
obtendo sucesso nas urnas, o atual vice-prefeito se conformasse com apenas
quatro anos de mandato.
È
hepta
Se há um político que merece um
prêmio por resiliência, esse político é o ex-prefeito Jânio Arruda da Silva,
que já disputou sete vezes a prefeitura de Taquaritinga do Norte, estando agora
na oitava tentativa. Nesse quesito, ganha até para o presidente Lula, que
disputou seis vezes e só não empatou com Jânio porque a candidatura de 2018 foi
barrada pela justiça eleitoral. A resistência de Jânio reside no fato de que um
político pode perder algumas, como Lula em 1989, 1994 e 1998, mas depois emplacar
uma sequência de vitórias, incluindo a eleição de “postes” ou alternando com
derrotas, mas o caso de Jânio é o inverso: reinou em 1988, 1992, 1996 e a
partir da eleição de 2000 não conseguiu mais sucesso nas urnas, mesmo sentado
na cadeira de prefeito que os Gravatinhas, incluindo Erivaldo e Jobson,
“tomaram” de Zeca, em 2008.,
Foi apostando nessa sequência de
insucessos que Jobson imaginou suplantar Jânio dentro do Grupo Gravatinha e
assumir a candidatura e o controle do grupo, apostando num desgaste
irreversível do ex-prefeito diante da militância. Mas, além da condução
desastrosa e desrespeitosa, o candidato do União precisaria de um argumento
muito forte para convencer Jânio a esquecer a espetacular votação de 2020. Como
se fosse uma microcirurgia, Jobson queria usar uma alavanca (aquele instrumento
leve e pequeno usado para cavar buracos
de cerca) no lugar de uma agulha para fazer a sutura política. Ansiedade de
calouro, captada, evidentemente, por Jânio, que bateu o pé, oficializou a
candidatura, formou chapa proporcional com dois vereadores e se lançou
literalmente na disputa, percorrendo ruas e feiras livres.
Jânio fez um cálculo, muito
acertado, e seus concorrentes sabem disso, principalmente Jobson. Pode ser que
a dinâmica da campanha imponha fatos novos e pressionem o candidato do PSD, mas
o fato é que a batata quente está nas mãos do candidato do União, ou seja, com
a estrutura que tem, está obrigado a fazer primeiro o dever de casa, vencer no
eleitorado Gravatinha, superando Jânio, e só depois pensar na cadeira de
prefeito. Não chegar em primeiro lugar é “normal”, no mínimo se projeta para
disputas futuras, mas se perder para o ex-prefeito vai ficar difícil conservar
o elenco e o projeto de mil maravilhas
gestado por computação gráfica.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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