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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

2026 É LOGO AQUI


 Passados quase dois anos do mandato da governadora Raquel Lyra, a pergunta que se faz é: como a gestora chegará politicamente para disputar a reeleição em 2026, considerando que sua aprovação popular não é das melhores, que não tem uma base sólida na Assembleia Legislativa, que não segurou os aliados que a ajudaram a derrotar a ex-deputada Marília Arraes e, principalmente, sabendo que seu adversário será o “Pablo Marçal” da esquerda (comparação apenas no aspecto midiático, na espuma da fama)? Some-se a isso o fato de ela estar filiada ao moribundo PSDB e ter na sua aliança política partidos insignificantes como o PSD (zero deputados) o PDT, o PV e o MDB, que devem mais reverência a João Campos do que mesmo a ela, detentora de uma máquina formidável que é o governo do Estado.

        Mesmo o resultado das eleições municipais não será um alento político para Raquel. Em Recife, a vitória acachapante de João Campos vai moer até o bolsonarismo. Juntos, o candidato da governadora e o candidato do ex-presidente, não chegam sequer a ameaçar um segundo turno, o que já seria uma vitória, tamanho o favoritismo do prefeito do PSB. E não se discute aqui o mérito desse favoritismo e sim a incapacidade da oposição de provocar qualquer tensão num pleito onde o eleitorado já está consciente de que vai votar em João e eleger Victor Marques. Não se trata de reeleger um prefeito que é um potencial candidato a governador, mas de reconduzir alguém que já está “formando o secretariado” para 2027.

        È normal e tradicional que o candidato da máquina agregue quase todos os prefeitos do estado. Terminado o pleito, mesmo com a vitória de um oposicionista, a migração dos gestores da base do derrotado para a base do vencedor é natural como a água que escorre conforme a gravidade.  Mas esse pode não ser o caso da reeleição da governadora. Sua influência nesse pleito que se aproxima não decide a eleição de ninguém. Aliás, ela corre o risco de ver seu candidato perder na cidade simbolicamente mais importante, Caruaru. Em nenhum  dos grandes municípios do estado, o candidato a prefeito lidera porque pertence à base da governadora. E pra piorar, os aliados sorridentes de agora, chamados inclusive no diminutivo, evidenciando o carinho e a intimidade política, podem debandar para o barco de João Campos, sem nenhum constrangimento.

     Da aliança que a elegeu em 2022, ela também não pode contar com a chamada “direita”, aquela que abriga o bolsonarismo, como o PL de Anderson Ferreira, do Coronel Beira, do deputado Abimael... Dependendo dos movimentos políticos de Raquel até o pleito de 2026, é mais provável que essa turma corra também para a candidatura do filho de Eduardo Campos, que, dado seu caráter político, não teria nenhuma dificuldade em recebê-la. Depois do vexame que o sanfoneiro fanfarrão Gilson “Rachado” vai passar em Recife, arrastando consigo o bolsonarismo, não tem como o PL pensar em candidatura própria, exceto se o estoque de óleo de peroba não for suficiente.

        Não se sabe o porquê de a governadora não ter segurado um nome importante da geografia eleitoral para 2026, o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho. Espaço administrativo na máquina estadual havia à vontade, como também para a chapa majoritária em 2026. Acrescente-se o secretariado fraco e não político que formou, obrigando-a a fazer diversas mudanças já no primeiro ano de mandato. E a cereja do bolo indigesto, a briga com o presidente da ALEPE, Àlvaro Porto. De concreto mesmo, do ponto de vista político, restou-lhe a bancada do PP liderada por Eduardo da Fonte, que, provavelmente, nem pleiteará uma vaga de candidato a senador. Deve investir em mais uma reeleição e manter seu poder de fogo.

          O grande desafio de Raquel não é só dar visibilidade às ações administrativas, que são muitas e importantes para a população, mas furar o balão do “governador” João Campos. Duplamente. Primeiro entre os prefeitos e depois entre o eleitorado. E esse primeiro furo precisa se dar até abril de 2026, momento em que o prefeito de Recife decide, oficialmente, se deixa a prefeitura. Claro que já “deixou” nas conversas internas, animado com a baixa popularidade da governadora, mas se ela se recuperar perante a população, o socialista terá, no mínimo, um dilema: deixar a prefeitura e arriscar o governo. Ele é muito jovem e não perderia muito se esperasse para 2030, sem uma derrota para Raquel no currículo.

        Terminado o pleito dos prefeitos, é hora de a governadora mostrar serviço, levar até o conhecimento da população as obras e iniciativas que divulga em suas redes sociais. Isso serve também para animar possíveis aliados políticos. João já tem a chapa formada: ele para governador, Silvio Costa Filho e Humberto Costa para o Senado e Miguel Coelho para vice. Ela tem duas vagas de senador para negociar apoios políticos, mas corre o risco de preencher com “qualquer um” se a certeza de uma derrota estiver nas mesmas perspectivas de agora. Até a força política de Priscila Krause, para se manter na vice, é questionável. Ela teria autoridade suficiente para manter o Desunião Brasil com Raquel? O prazo que resta à governadora, para melhorar a popularidade, é dezembro de 2025.

        Sabe-se que o estado tem um considerável volume de investimentos, destacando-se a reforma de estradas. Investimentos significativos estão sendo feitos também na saúde a no aparelhamento das forças policiais. A governadora se comunica bem nas redes sociais e mantém uma relação amistosa com o presidente Lula. Amistosidade que não parece oportunismo político. Isso pode ter alguma influência em 2026. Até o líder do PSB dentro do PT, Humberto Costa, ficou chateado com a manobra de João  Campos para barrar o PT na vice, em Recife. Se chegar fragilizada no início de 2026, resta a Raquel Lyra, aproveitando esse beicinho de Humberto e a simpatia de Lula, dar “O pulo da gata”, única forma de forçar o golpista do PSB a adiar seus planos de governar o estado de Pernambuco.


 Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.

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