Após décadas de atraso econômico, dependendo economicamente da agricultura de subsistência e do constante movimento migratório para o sudeste do pais, sobretudo São Paulo e Rio de Janeiro, assim como outras regiões que pudessem absorver a força de trabalho desqualificada que abundava aqui, neste promissor torritório, surge uma riqueza redentora: a “sulanca”; com ela toda uma região encontra uma fonte de renda que mudaria todo o panorama econômico na qual estava inserida há muito tempo, de região historicamente afeita a agricultura de subsistência nos transformamos em terra de acolhimento de muitos migrantes, local propício para pessoas empreendedoras e trabalhadoras, com forte expansão da indústria de vestuário e segmentos afins, não olvidando que esse progresso não contou com incentivos dos poderes públicos, devendo-se atribui-lo ao valoroso povo da região.
Com o progresso econômico, a região mudou de cara, assumindo ares de modernidade, conquanto persistam problemas estruturais básicos. Não muito diferente de outras regiões que conseguiram driblar as dificuldades e sobressair economicamente, Pão de Açúcar colheu muitos frutos positivos desse movimento, mas não devemos deixar de levar em consideração que somos carentes de políticas públicas e que problemas típicos dos grandes centros se tornaram uma realidade cotidiana para nós.
Nesse contexto a violência assumiu proporções assustadoras, sendo comum a sensação de insegurança e os relatos habituais de delitos praticados cada vez mais frequentemente, trazendo a tona nuances do lado nefasto do progresso; a comunidade do distrito, mesmo preocupada, assistia a tudo inerte, imobilizada, esperando a tomada de atitude por parte do poder público, não havia ferramentas visíveis que pudessem ser colocadas em prática e transformar o panorama da comunidade nessa questão (segurança pública). Urgiam posturas firmes e agregadoras que tivessem o poder de unir a comunidade ao poder público na busca de solução, cada qual assumindo seu papel.
Assim, diante dessa dificuldade, o Padre Erandir (“o pequeno, grande homem”), dando demonstração de amor ao distrito e o comprometimento cidadão que todos deveriam ter - mas que poucos colocam em prática, inicia uma série de reuniões unindo a comunidade e o poder público para discutir o problema e buscar soluções. Nós, munícipes, sobretudo os comprometidos com a melhoria da qualidade de vida em Pão de Açúcar, devemos agradecer e louvar a atitude do padre.
Não imaginemos que seja inútil as reuniões que vem acontecendo, as discussões estabelecidas tem o potencial de amadurecer soluções possíveis e pontuais para a violência que o distrito enfrenta, devendo haver o descarte de qualquer medida milagrosa apontada ou colocada em prática por “eventuais heróis” que surjam, não existe desfecho pronto para o problema, o distrito tem particularidades que devem ser analisadas com atenção e que o diferenciam de qualquer outra comunidade, inclusive da sede do nosso município; segurança pública, há muito, deixou de dizer respeito apenas ao poder público, a Constituição Federal vigente - no artigo 144 - lei basilar do nosso sistema jurídico, norteia inicialmente o trato com a segurança pública nestes termos: “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos...”.
Assistimos ansiosos os trabalhos de duplicação da BR 104, o que trará mais progresso e facilidades para expansão da nossa economia, certamente trazendo mais investimentos e com estes o incremento dos problemas comuns enfrentados no pólo de confecções, o que no nosso caso – no que diz respeito a segurança pública , levando em consideração nossa posição geográfica, merece maior atenção; segundo o guia quatro roda, Pão de Açúcar esta localizada a 97 Km de Campina Grande na Paraíba e a 45 Km de Caruaru (duas das principais cidades do interior nordestino), 178 Km de Recife, 14 Km de Santa Cruz do Capibaribe, 8 Km de Toritama e a cerca de 11 Km da sede do município de Taquaritinga do Norte, ou seja, estamos no centro de uma região de economia forte, mas que enfrenta graves problemas de insegurança, sendo comuns a prática de crimes típicos de grandes centros, a exemplo de roubos, furtos, tráfico de drogas e homicídios; com a duplicação da BR 104, na junção com a já duplicada BR 232, disporemos de uma via que facilitará o acesso até mesmo a outros centros do país e do exterior, através da capital pernambucana, não sendo prudente crermos que esse acesso fácil nos trará aumento das taxas de criminalidade já preocupantes.
A organização da sociedade civil (através de conselhos de moradores, associações, organizações não governamentais ou outra modalidade agregadora) torna-se imperiosa pois terá condições de agregar os anseios da comunidade e dar-lhes visibilidade, devendo-se evitar a partidarização política, religiosa ou de qualquer outra natureza, porquanto se haverá legitimidade e eficácia se conseguirmos infundir nesse movimento um verdadeiro espírito de cidadania e democracia, unindo todos nesse objetivo comum.
Ou nos organizamos para assumir nosso papel, discutindo e criando alternativas, cumprindo nossos deveres, mas sobretudo cobrando nossos direitos ou assistiremos – cada vez mais temerosos e reflexões – a continuar o da degradação da qualidade de vida em Pão de Açúcar (da nossa região, nosso estado e do nosso país), desperdiçando as reais possibilidades de construirmos um local digno para se viver, aproveitando todas as oportunidades de crescimento humano e econômico advindas de nossa privilegiada localização e da maior riqueza já vista nessa região – a produção e o comércio de confecções.
Unamo-nos e aproveitemos a maior ferramenta de transformação de um país: “a forma da união popular”; caso contrário, estaremos fadados a enfrentar nossos problemas através de medidas paliativas, que mudam ao sabor dos ventos, cunhadas através de políticas públicas sem respaldo popular e, portanto, sem contemplar as reais necessidades da comunidade.
* Jucelino Tavares Ferreira – Agente de Polícia Civil, Bacharel em Direito pela Associação Caruaruense de Ensino Superior (ASCES), com Especialização/Pós-Graduado em Segurança Pública e Cidadania pela ASCES em convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública.
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