*Dr. Paulo Lima
Sinceramente, não está me cheirando à coisa boa, as reações da polícia frente às manifestações dos jovens pelo passe livre nos ônibus.
De logo saliento que não concordo com depredações e vandalismo, seja em nome de que causa for, pois o direito à livre manifestação, acolhido como cláusula pétrea no corpo da nossa Lei Maior, tem limites traçados pela própria Constituição, no Capítulo reservado à garantia dos direitos fundamentais, já que garante a todos a livre manifestação e o direito de se reunir, desde que pacificamente e sem armas.
E uma pedra atirada de forma certeira e contundente pode se tornar uma arma mortífera. Quem tiver dúvidas a respeito é só ler as mensagens traçadas pelos incisos IV XVI do art. 5º.
O que não está me cheirando bem, no entanto, é a forma de como a polícia vem agindo. Sorrateira e sub-repticiamente e, não raras vezes com truculências e ameaças. Lembra-me os tempos do nazismo e para não ir tão longe, os anos negros da ditadura, parafraseando o meu amigo MANOEL AYRES.
Para ser mais claro, de logo afirmo que não tem qualquer cabimento a prisão e a acusação que foi posta sobre os ombros do jovem estudante BRUNO TORRES, um dos líderes do movimento “passe Livre”, o qual, até o presente momento, quando estou escrevendo este artigo, se encontra recolhido ao COTEL como se fosse um bandido qualquer! O pior e o mais absurdo de tudo, no entanto, é uma das acusações que querem lhe impingir, qual seja, de ter cometido, dentre outros, o crime de corrupção de menores.
Ora, senhores, façam-me um favor!
Afinal, de que têm medo os donos do poder? Porque têm medo da abertura de uma CPI para abrir a caixa preta das empresas de ônibus? Porque não deixar que se manifestem leves, livres, e soltos, como diz a canção, os jovens do “passe livre”? Parece-me que é esta a pergunta que não quer calar.
Não podemos esquecer que um projeto de poder necessita prioritariamente que ser alicerçado no anseio popular, na esperança da população de que aquele projeto vai lhe trazer benefícios, pois, como diz o ditado,o povo não é besta e, na hora certa saberá perfeitamente distinguir quem pensa no bem comum e quem está olhando para o próprio umbigo.
Acredito que não é um bom caminho o que está sendo trilhado atualmente pela Polícia do Estado e se tivesse oportunidade eu daria um conselho ao Governador: fique de olho na polícia e deixe os nossos jovens agirem com liberdade!
Lembre-se do seu avô, Miguel Arraes, um homem que prezava acima de tudo a liberdade – talvez porque tenham lhe tomado brutalmente esta dádiva de Deus – durante preciosos anos de sua admirável existência. Aliás, queria deixar aqui um registro: em todas as oportunidades que tive votei em Arraes, à exceção de uma única vez, quando me deu um branco na cabine de votação e, para não atrapalhar a fila acabei votando em outro.
Lembre-se que por trás desses jovens existem pais e avós, que também tiveram o seu tempo de rebeldia na juventude e, muitos deles lutaram contra a ditadura, justamente porque não se conformavam com a repressão de um Estado policialesco.
Chame a sua polícia - esse Secretário não está mais dando conta do recado - e lhe dê um puxão de orelhas, pois ao contrário vai ser envolvido no efeito “Orloff”, ou melhor, “Sérgio Cabral”, e vai acabar tomando um tiro no pé - quem avisa amigo é - com perdão da rima.
Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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