Na
Folha de São Paulo, o jornalista Josias de Souza sempre escreve sobre
política partidária e acompanha com atenção as campanhas políticas pelo
país. Num artigo publicado recentemente, porém, o colunista abordou com
lucidez e sabedoria o tema do homossexualismo. Ele condena a homofobia e
cita o Papa Francisco para reforçar seus argumentos. Confira.
O ano passado, instado a dizer o que
pensa sobre os homossexuais, o papa Francisco soara assim: “Se uma pessoa é gay,
busca Deus e tem boa vontade quem sou eu para julgar?''. Fiquei surpreso.
Incréu, jamais compreendi o descaso da Igreja para com as sagradas escrituras .
No versículo 34 do capítulo 13, o
livro de João anota: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros.
Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” Jesus
disse isso antes do início do calvário que o levaria à crucificação. Foi como
se ditasse um testamento.
A despeito das palavras Dele, a
Igreja sempre amou de forma seletiva. Imagine se Jesus retornasse para
sussurrar o mandamento nos ouvidos das batinas: “amai, irmãos, amai como eu vos
amei.” Seus operadores responderiam, crispados de bondade: “Só aos
heterossexuais, ó, Senhor. Só aos heterossexuais.”
Súbito, o papa convocou um Sínodo. E
incluiu os gays na pauta dos bispos. Nesta segunda-feira (13), veio à luz o
esboço de um texto que deve ser aprovado no sábado. Não chega a equiparar a
união civil entre pessoas do mesmo sexo ao casamento. Mas…
Mas anota coisas assim: “As pessoas
homossexuais têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã.'' Ou
assim: é preciso acolhê-las “aceitando e valorizando sua orientação sexual.''
Alvíssaras!
O homossexualismo, como se sabe, é um
dado da realidade. Existe a despeito da vontade da Igreja. Está presente,
aliás, no interior de bons seminários, conventos e mosteiros. Mas sempre foi
tratado pelo Vaticano como uma agressão à natureza, um atentado contra o
“crescei e multiplicai-vos”.
Levando-se o argumento às últimas
(in)consequências, também a Igreja estaria conspirando contra a natureza humana
ao impor o voto de castidade aos seus sacerdotes. Se o destino do homem e da
mulher é a procriação, o celibato teria de ser considerado tão “anormal” quanto
o homossexualismo.
No rascunho produzido durante o
Sínodo, anotou-se que há casos em que a união entre pessoas do mesmo sexo provê
“o mútuo sustento” e “constitui um apoio precioso para a vida de cada um dos
parceiros.”
A prevalecer esse entendimento na
Igreja, o papa Francisco vai acabar me fazendo acreditar em Deus. Até porque,
considerando-se os rumos da humanidade, está difícil de acreditar em qualquer
outra coisa.
*Josias de Souza escreve na Folha de São Paulo e no Portal UOL.
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