Até pouco tempo atrás pouca gente no Brasil tinha ouvido falar em Raduan Nassar.
Mas o escritor, filho de libaneses, natural do interior de São Paulo, foi o principal destaque da imprensa nacional, semana passada, quando ao receber o Prêmio Luís de Camões, em reconhecimento à sua produção literária, fez críticas fortes aos três poderes da República: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Com relação ao Supremo Tribunal Federal, Raduan chegou a dizer que o órgão máximo do Poder Judiciário era coerente hoje com a posição adotada em 1964, quando deu respaldo ao golpe militar.
Raduan Nassar, no entanto, não deve ser conhecido por conta desse episódio com um viés político e por ter sido confrontado pelo ministro da cultura do Governo Temer, Roberto Freire, que chamou o escritor de “adversário”.
O autor de “Lavoura Arcaica”, romance elogiado no Brasil e traduzido para diversos países, como a Espanha, França e Alemanha, merece o reconhecimento nacional e internacional pela sua história de vida e pelos livros que escreveu.
Foram apenas três: além do citado “Lavoura Arcaica” publicou “Um Copo de Cólera (também romance) e “Menina a Caminho (contos).
Depois abandonou a literatura e foi criar bichos numa fazenda, inclusive galinhas, gosto que herdou de sua mãe libanesa.
Apesar de ter publicado pouco, é tido pelos professores de literatura das universidades brasileiras e pela crítica especializada como um autor de muita qualidade. Alguns o colocam na categoria de gênio.
Não foi à toa, portanto, que recebeu o importante prêmio Luís de Camões.
Todos os que entendem de literatura reconhecem em Nassar um escritor acima da média e muitos chegam a compará-lo a Guimarães Rosa, um dos maiores autores da literatura brasileira de todos os tempos.
O escritor completa 82 anos em abril deste ano e certamente não está preocupado com glórias, dinheiro ou posição social.
Na cerimônia em que criticou os poderes da República, simplesmente disse o que pensa, expressou suas crenças, com a independência de quem não precisa de governos e o preparo intelectual de uma existência.
Anos atrás, foi notícia nos principais veículos de comunicação do Brasil – foi tema de uma reportagem até do Globo Rural, da TV Globo – por ter doado uma fazenda de 640 hectares em São Carlos, no interior paulista, ao governo para construção da Universidade Federal no município.
A região de São Carlos é tida como a mais pobre do interior de São Paulo e a atitude de Raduan visou desenvolver os municípios em volta, através da geração do conhecimento, uma riqueza difícil de se destruir.
*Fotos: 1) Raduan Nassar, Observatório da Língua Portuguesa; 2) Campus da Universidade Federal na antiga fazenda doada pelo escritor.
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