Ao discursar na tarde desta sexta-feira (17), durante assinatura de ordem de serviço de esgotamento sanitário em Paulista, no Grande Recife, o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), fez questão de agradecer o empenho do Governo de Pernambuco em buscar solução para o desabastecimento de água em Canhotinho, município do Agreste Meridional, situado a 204 quilômetros do Recife.
O agradecimento foi direcionado ao governador Paulo Câmara (PSB) e ao vice-governador Raul Henry (PMDB). Ambos estavam ao lado do ministro no palanque do evento. Araújo lembrou que, embora o Ministério tenha destinado recursos para obras (cerca de R$ 4 milhões), o Governo Estadual dispensou o repasse e assumiu, sozinho, a adutora que vai ligar a barragem de Pau Ferro, em Quipapá (Mata Sul), ao sistema de abastecimento de Canhotinho.
Com a declaração, Araújo pôs pingos nos is e esclareceu de vez, publicamente, um episódio que, nos bastidores, foi compreendida como uma represália do Palácio do Campos das Princesas ao deputado estadual Álvaro Porto (PSD).
Ex-prefeito de Canhotinho, Porto, embora filiado a um partido da base governista, tem se posicionado com independência. Sempre que necessário, faz críticas e cobranças ao Governo do Estado. Em muitas ocasiões, se alinha à oposição no contraponto à bancada governista.
Um dos temas que pautou críticas de Porto ao Governo foi justamente a morosidade da Compesa em iniciar o processo de execução da adutora, uma das bandeiras do seu mandato na Assembleia. "Mesmo depois de o dinheiro ter sido liberado pelo Ministério das Cidades, em outubro, o Estado segurou a obra e só agora decidiu anunciar a adutora, dispensando, inclusive, o repasse federal", diz ele.
O anúncio da adutora foi feito na sexta-feira passada (10.02) pelo governador, durante agenda oficial em Jupi, também no Agreste.
No seu discurso, Bruno Araújo informou que não pôde comparecer a Jupi e se disse satisfeito com o fato de o Governo ter assumido a obra. Ele não deixou de salientar, porém, que desde que maio de 2015, mais de R$ 300 milhões de recursos foram investidos pela pasta de Cidades em Pernambuco - sem incluir o programa Minha Casa Minha Vida.
Ao ressaltar os repasses federais, o ministro endossou o discurso que Álvaro Porto sobre a necessidade de o Governo do Estado reconhecer e tornar públicas as parcerias com o Ministério das Cidades.
No entendimento do deputado, ao anunciar que fará a adutora com recursos exclusivamente estaduais, o governador Paulo Câmara tentou apagar o empenho do seu mandato em viabilizar a obra. Também teve o intuito de desvincular o ministro da adutora. Como sabe, Araújo é citado como potencial concorrente de Câmara na disputa pelo Governo do Estado em 2018.
"A liberação dos recursos federais foi fruto de nossa articulação com o ministro. A população sabe bem que este anúncio feito em Jupi só veio depois de muita pressão do nosso mandato aqui no Estado e da nossa movimentação em Brasília", disse.
Álvaro Porto, que também ocupou lugar no palanque em Paulista, afirma que o ministro, diferentemente dos gestores de Pernambuco, sempre esteve ciente da urgência da obra. "Tanto que assegurou recursos para a execução imediata, ainda em outubro", lembra. Ele recorda ainda que, com o repasse garantido, foi até o presidente da Compesa, Roberto Tavares, para se colocar à disposição para ajudar no que fosse preciso.
"Porém, desde aquela época, a obra foi segurada como um trunfo pelo Palácio. A demora da Compesa em dar início ao processo foi tanta que o ministro decidiu repassar os recursos para a Prefeitura de Canhotinho. Mas a decisão precisaria do aval do Governo do Estado, uma vez que a obra deveria ser tocada em parceria com a Compesa", disse. "Nesse meio tempo, o Palácio escalou Raul Henry para convencer o ministro a não fazer o tal anúncio e evitar o constrangimento. Na conversa, Raul assegurou a Bruno que a obra seria executada. Porém, o governador seguiu a cartilha da mesquinhez, dispensou o dinheiro federal e anunciou a execução com recursos estaduais", completou.
Porto afirma que a origem do dinheiro é o que menos importa nessa história. "O que não se pode deixar de lembrar é que, desde outubro, os recursos do Ministério estavam disponíveis. E que foi o próprio Governo do Estado quem optou por adiar o serviço com o claro objetivo de tirar qualquer vinculação da ação do ministro e do nosso mandato com a obra", frisa.
Ele diz que a população está esperançosa, mas receosa diante da mesma promessa feita por Paulo Câmara há quase um ano. Em março do ano passado, quando esteve em Canhotinho, o governador se comprometeu a fazer estudos para construção de barragens e, a executar, em regime de urgência, a adutora.
"O mesmo povo que aplaudiu o governador e sua equipe lá atrás, não viu resultado algum e está desconfiado. Ninguém esquece que o bonito discurso deu em nada e acabou se convertendo numa mentira", diz. "A população, que não tem nada a ver com os receios e as inseguranças do governador, espera pela obra. Quer o fim das promessas vazias para poder encher caixas-d'água, tomar banho de chuveiro, lavar louça nas suas pias, usar seus banheiros, enfim, levar a vida com dignidade", arremata.
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