A primeira consequência da morte do general iraniano Qassim Suleimani, que ocorreu na madrugada de sexta-feira em Bagdá, saiu do Iraque. O parlamento aprovou, ontem, a autorização para saída das forças militares americanas do país. Suleimani, um dos mais poderosos líderes do país vizinho, foi alvo de um míssil americano em um ataque em território iraquiano sem que o governo local fosse sequer avisado. A decisão, agora, cabe ao premiê Adel Abdul Mahdi. “O que aconteceu foi um assassinato político”, afirmou o chefe de Estado. Os EUA acusam o general de ser responsável por vários ataques a soldados americanos ao longo dos anos. Antes da decisão do parlamento iraquiano, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, rejeitou a ideia de retirada. (Estadão)
Ainda… O Irã anunciou que não vai mais cumprir o acordo nuclear se os EUA não retirarem as sanções impostas ao país. As medidas foram impostas no ano passado, por atribuir aos iranianos o ataque à instalação de petróleo na Arábia Saudita. (Folha)
Como resposta às ameaças de resposta, Trump tuitou. “Que sirva de AVISO”, escreveu usando as capitulares. “Se o Irã atacar americanos, já definimos 52 locais iranianos (representando os 52 reféns mantidos pelo Irã há muitos anos), alguns de nível muito alto & importantes para o Irã & para a cultura iraniana”. (New York Magazine)
As Convenções de Genebra e de Haia proíbem terminantemente a escolha de alvos de relevância cultural e, no país, há sítios arqueológicos que remontam ao Império Persa e até bem antes do surgimento das civilizações.
Seriam um crime de guerra?
O Secretário de Estado Mike Pompeo apareceu nos programas jornalísticos matutinos de domingo das redes NBC, CBS e ABC e, em todas, afirmou que os EUA só escolherão alvos dentro da legalidade. (Time)
Mas… Trump reiterou. “Eles podem matar os nossos, podem torturar os nossos, e nós não podemos tocar em seus sítios culturais? Não funciona assim.” De quebra, ameaçou também os iraquianos. “Temos uma base aérea muito cara, lá, custou bilhões de dólares”, afirmou a jornalistas. “Se eles pedirem para que deixemos o país, vamos impor sanções como nunca viram. Vão fazer com que as sanções ao Irã pareçam mansas.” (Guardian)
Guga Chacra: “É um duro revés para Trump e uma vitória estratégica para o Irã. O objetivo nos últimos meses de Suleimani vinha sendo canalizar o sentimento nacionalista do Iraque contra os americanos para que as tropas fossem expulsas. Conseguiu mesmo após a sua morte. A presença dos 5 mil militares é fundamental para a segurança dos interesses americanos no país e também na região. Sem falar na humilhação de levar adiante uma guerra que custou trilhões de dólares e milhares de vidas americanas para ver seu maior adversário sair vencedor. Caso a expulsão americana realmente se concretize, o Irã naturalmente preencherá o espaço em uma vitória geopolítica. Ainda assim, o regime de Teerã terá problemas, já que o nacionalismo iraquiano também se volta contra os iranianos. Outra tendência é o risco do fortalecimento do Estado Islâmico”. (Globo)
Thomas Friedman, o principal colunista dedicado a política externa nos EUA, qualifica Suleimani como um estrategista ruim. Sob seu comando, o Irã organizou e estruturou uma teia de influência em todo o Oriente Médio, financiando ou mesmo fazendo crescer milícias — em sua maioria xiitas, mas não todas — para favorecer políticos que lhe fossem simpáticos, mas também agravando a instabilidade geral da região. O país dos aiatolás, hoje, tem influência direta nos governos de Líbano, Síria, Iraque e Iêmen. E, para Friedman, o jogo definido pelo general morto foi, em sua eficiência, um desastre. Elevou ao máximo o nível de alerta com o Irã nos países árabes sunitas e em Israel. Por sua vez, estes pressionaram os EUA. Calhou de encontrarem, na Casa Branca, um presidente que estava ansioso para detonar qualquer ação feita pelo governo anterior — o de Barack Obama. O acordo de paz envolvendo energia nuclear com o Irã entrou no Salão Oval e implodiu. Sem amenizar para Trump, Friedman avalia que a agressividade de Suleimani justamente no momento em que o Irã deveria buscar normalização via diplomacia de suas relações, pôs o país no centro do alvo americano. (New York Times)
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