Da parte do líder maior do grupo Calabar, o prefeito Lero (o cargo de prefeito dá essa responsabilidade), em nenhum momento, nas diversas entrevistas que concedeu, fez qualquer reparo ao direito do ex-prefeito Evilásio ou de qualquer outro integrante do grupo Calabar de lançar-se candidato ao pleito municipal de 2024. Pelo contrário, o prefeito reconheceu-lhes o direito de disputar, declarou ser amigo de todos, inclusive de Evilásio, que assistia à missa de um lado da igreja, com os seus, enquanto Lero estava do outro, nos idos de 2016. Lembremos que lá no finalzinho de 2019 e início de 2020, pintou um clima de chapa perfeita, Lero-Evilásio, para enfrentar o poderoso e tradicional adversário, Jânio Arruda. Mas o ex-prefeito cuidou rapidamente de jogar água no chopp. Depois de ser o “Obama” do Agreste, ser vice de Lero? Nem pensar. Deixou o cavalo passar, selado, e não montou. Agora estaria na condição de “candidato natural”.
Portanto, o choro profuso de Evilásio agora, se dizendo excluído do processo, tem como causa seu próprio orgulho, não a ação de lideranças do grupo Calabar. È natural que um governante, bem avaliado, ao final dos seus dois mandatos, tire um coelho da cartola e o lance como sucessor. Pode parecer egoísmo, mas tal iniciativa também traz grandes riscos. Não só eleitorais como sucessivos. Uma vez eleito, o “poste” pode cravar nas costas do padrinho a faca da traição. Exemplos não faltam. O poderoso Ricardo Coutinho transformou o “anão político” João Azevedo em governador. Coutinho acabou sem mandato e preso e João está junto dos adversários de 2018. Casos não faltam Brasil a fora, para prefeito, governador e até presidente, de desconhecido que parte anão, na pré-campanha, e chega gigante às urnas.
O ex-prefeito Evilásio apresenta como principal credencial, a vitória folgada de 2012, como se isso fosse parâmetro. A Austrália também aplicou a maior goleada do futebol mundial contra... Samoa. Porque, naquela ocasião, “Lazin” disputou contra “Samoa”. Milton sequer podia ostentar um título de vereador, ex-vereador. Foi colocado na disputa apenas por formalidade eleitoral. Aliás, mesmo perdendo como perdeu, Milton terminou ganhando notoriedade. Evilásio, sozinho com seu orgulho PPP, ganharia de goleada, do hoje vereador, presidente do Poder Legislativo e carta importante na disputa do ano que vem? Governou na época das vacas gordas do PT, 2009-2012. Foi reeleito ainda com o país no auge, econômico e político, e contra um candidato circunstancialmente inexpressivo. Mesmo com uma conjuntura favorável, “Obama” teria dado um passeio nas urnas se o adversário fosse Jânio? Obviamente que não.
O prefeito Lero sim, elegeu-se e reelegeu-se heroicamente. Mesmo carregando o “pecado original” (não era da Sede, mas de Pão de Açúcar) Em 2016, enfrentando internamente a dupla Evilásio-Gena, para se consolidar como candidato. Externamente, disputando contra o Pelé do grupo Boca Preta. Foi prefeito justamente quando o golpismo abateu o país, nos levando de volta à condição de república de banana. Crises econômica e política obrigou-o a fazer o feijão com arroz nos primeiros quatro anos de gestão. Não disputou a reeleição contra “Samoa” e sim contra um adversário ex-prefeito, que também bancou e elegeu um neófito em 1992. O que enfraquece Evilásio hoje, a esnobada da possibilidade de ser vice em 2020, é justamente o motivo do seu choro. Lero cumpriu a profecia de José ao contrário, quatro anos de vacas magras, depois quatro anos de vacas relativamente gordas. Evilásio só pegou o filé, disputou a reeleição sem contestação interna e sem corpo mole de importantes lideranças, enfrentando um jogador improvisado no time adversário.
Sendo assim, ninguém deve duvidar da honestidade de Evilásio e, principalmente, ninguém deve negar sua competência e legitimidade de se colocar no pleito, de se oferecer à população para comandar novamente os destinos administrativos da Terra do Café, mas não atribuindo suas dificuldades políticas ao grupo com o qual se recusou a colaborar em 2020. O prefeito Lero está bancando o candidato dele, estreante na política, com o aparente respaldo de lideranças do grupo, com o endosso da bancada de vereadores e confiando no seu prestígio político e no poder de transferência de votos. Diferente do que diz Evilásio, não é o povo que escolhe o candidato. O povo escolhe o governante. O ex-prefeito precisa primeiro ser escolhido candidato por seu partido, o PSDB, cujo expoente, a governadora Raquel, ainda não lhe deu uma simples e simbólica foto pós-vitória de 2022. Eleição é circunstância. Ao ser reeleito em 2012, garantindo mais quatro anos de mandatos, fez movimentos políticos que hoje lhe rendem amargos dividendos. Cozinhou a candidatura de Lero em 2016, desdenhou da vice em 2020, além de não se engajar na campanha daquele ano. Alimentou o fígado, mas sedimentou uma rejeição interna.
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