Do jornalista Reinaldo Azevedo:
A investigação do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, avançou. A apuração continua a cargo da Polícia Civil do Rio, mas agora com a fundamental colaboração da Polícia Federal.
A parceria derivou de um entendimento entre o ministro Flávio Dino, da Justiça, e o governador do Rio, Cláudio Castro. Tudo indica que se está no rumo certo para chegar a quem ordenou as execuções.
Quando se trabalha com seriedade, o resultado costuma aparecer. E até alguns papagaios de pirata pegam carona, como fez este inacreditável Sergio Moro, ainda senador — mas creio que não por muito tempo... Vamos ver.
A colaboração das duas polícias e do Ministério Público do Rio resultou na Operação Élpis, com mandados de busca e apreensão e a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões. É o resultado da delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, que conduzia o carro em que estava Ronnie Lessa, que atirou contra Marielle e Anderson.
Queiroz revelou a atuação de uma outra personagem na trama homicida: o ex-policial Edmilson Oliveira da Silva, apelidado "Macalé" — ele próprio assassinado em 2021 —, além da atuação direta de Simões, que já tinha sido preso por obstruir a investigação.
Assim, a delação se torna relevante porque traz novas personagens, o que deve levar àqueles que deram a ordem para Lessa, um matador, fazer o seu "trabalho". Quem acompanha o caso de perto, como Marcelo Freixo, hoje presidente da Embratur, avalia que se está no caminho certo.
Mais de cinco anos depois das mortes, o caso estava, vamos dizer, em banho-maria. Para vocês terem uma ideia, Lessa só foi expulso da PM neste ano. E, ainda assim, em razão de ter se metido com a venda ilegal de armas... Queiroz também contou que o grupo estava determinado a matar Marielle em 2017, mas a ação foi abortada na hora "h". O delator confirmou que ele conduzia o carro e que Lessa deu os tiros com a submetralhadora MP5. Diz ainda que, após o assassinato, o patrimônio do matador teria tido substancial elevação.
PAPAGAIOS DE PIRATA
E que se registre um troço espetacularmente constrangedor. O ainda senador Sergio Moro (União-PR) resolveu tirar uma casquinha do avanço das investigações -- que se deu, insista-se, com a entrada da PF no caso, num acordo entre Dino e Castro.
Fico cá a me perguntar: terá o ex-juiz vindo ao mundo sem senso de limite e sem algumas travas morais que costumam habitar o cérebro da grande maioria das pessoas? Este senhor afirmou que o PT vai "morder a língua" porque a delação vai se revelar um instrumento eficaz para elucidar os crimes. O juiz afastado Marcelo Brettas percorreu o mesmo caminho da farsa. Não me surpreendem. Um deles fundou o "Direito Penal de Curitiba", que é a negação do estado de direito, e o outro sempre teve, digamos, muita musculatura jurídica...
Quem disse que o PT ou críticos da Lava Jato se opõem por princípio à delação premiada? Isso é mentira. Este escriba não tem receio de dizer que não é um grande entusiasta do recurso porque pode ser facilmente desvirtuado. Prefere que se chegue à verdade por meio da investigação e da expertise técnica. Mas o instrumento veio para ficar e ponto. Ocorre que é preciso ser manejado por pessoas responsáveis.
Delação não é prova, como virou moda na Lava Jato de Moro e Deltan Dallagnol. É apenas mais uma forma de se tentar chegar a ela. E não o é por uma razão simples: um sujeito interessado em se safar, especialmente se isso lhe for oferecido no modo chantagem, pode delatar até a santa mãezinha, não é mesmo? A mudança da lei das delações (que, na verdade, dispõe sobre combate a organizações criminosas), feita por intermédio da Lei 13.969, contou com amplo apoio do PT.
A delação de Queiroz, como prevê a lei de forma explícita desde 2019, não foi usada como prova, mas como instrumento de investigação para se chegar à dita-cuja.
Logo, Moro está errado. Não! As barbaridades que ele fez na Lava Jato não estão sendo desculpadas. Aliás, diga-se, tudo indica que, da Missa Macabra, não sabemos ainda nem a metade. Mas saberemos.
*Fonte: Portal UOL
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