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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Santa Cruz do Capibaribe: sulanca, pujança e folclore político

A grande obsessão do prefeito da lendária Sucupira, Odorico Paraguassu, era, finalmente, inaugurar uma obra iniciada e finalizada no seu mandato: o cemitério da cidade. Conhecido por suas excentricidades, Odorico não conseguia o elemento fundamental para materializar o seu objetivo, um defunto.

Curiosamente, o desejo latente do folclórico gestor era uma garantia de longevidade, já que ninguém “partia dessa para uma melhor”, levando a alma para São Pedro e deixando aqui no plano terrestre a matéria de que o prefeito tanto precisava para descerrar a placa de inauguração do cemitério. O mesmo “azar” não teve o secretário municipal que conseguiu uma relíquia, um orelhão para instalar no parque municipal e permitir aos visitantes um contato telefônico com seus parentes e amigos. nesses difíceis tempos de possibilidades comunicativas instantâneas.


Há quase um ano, mas precisamente dez meses, a prefeitura transferiu os comerciantes de frutas e cereais, da Central de Feiras, às margens da rodovia PE 160, para o antigo Cabana Clube, provisoriamente, enquanto sacava de algum banco, a verba já garantida e dava início à cobertura da obra executada na gestão anterior. 

Um “Novo Tempo” não poderia deixar comerciantes e consumidores sujeitos ao humor daquele que tem as chaves do céu e é responsável por abrir as comportas celestes, liberando as chuvas, às vezes até numa quantidade muito grande, obrigando o diligente prefeito de Santa Cruz a decretar estado de emergência por excesso de pluviosidade.. Os tapumes de zinco cercando a Central de Feiras não permitem mensurar quantos por cento da obra já foram executados, passados mais de 300 dias e, de cobertura mesmo, só a ora azulada, ora nublada abóbada celeste.

Tal fato deveria acanhar até mesmo o prefeito Odorico, mas na terra da confecção não inibiu o anúncio de um novo “terreno na lua”: os estudos para construir uma CEASA em Santa Cruz, a mesma cidade que “degredou” dezenas de pequenos comerciantes para um local inadequado, prometendo compensar-lhes o sacrifício com uma central de feiras coberta. A mesma cidade que está a apenas 60 km de Caruaru, que já tem, há décadas, uma “CEASA”. Fica parecendo que os “estudos” são uma forma de manter uma expectativa na população, promovida justamente por quem prometeu a tão falada cobertura. E, nesse caso, com um agravante, o dinheiro já estava separado e garantido. O da “CEASA” é apenas uma prospecção. Será que representantes da prefeitura teriam coragem de ir lá no Cabana falar da nova maravilha do “Novo Tempo”?

Junte-se a isso o fato de a cidade não realizar uma simples cirurgia de ”extração de unha”, como acusa a oposição, estando o bloco cirúrgico desativado e servindo de “depósito de materiais”. E mesmo assim a turma do prefeito tem a coragem de acusar a oposição de ser contra o tão falado hospital Fernando Aragão. Há dois anos e meio que a prefeitura executa uma reforma no hospital de emergência, a UPA, construído e operado pela mesma oposição chamada de “canalha” pelo prefeito. “Canalhas” que colocaram nas mãos do bom moço os 35 milhões que havia solicitado, de modo provocativo, desde o início do ano, mas não no prazo Crefisa que ele queria e sim no prazo compatível com as possibilidades financeiras da cidade, garantidas pelo “trunfo” que o prefeito mandou para a Câmara, para pressionar os vereadores, o “técnico da Caixa”. 

Meses depois, volta o senhor prefeito com a cuia nas mãos, solicitando mais 25 milhões e novamente apostando no expediente de colocar a população contra os vereadores e nada de negociação exaustiva para se chegar a bom termo, para a população, para o prefeito e para a oposição. Preferiu retirar o projeto de pauta, expediente semelhante em termos de procrastinação ao da judicialização da matéria do hospital. E assim segue sua excelência na sua saga de conseguir a primeira grande obra da gestão, assim como Odorico procurava o primeiro defunto.

Irônico é que o “Novo Tempo” se vale de pessoas e obras do velho tempo para sustentar essa abstração de “novo”. Inaugura, sem constrangimento, obras em vias de conclusão, iniciativas da gestão passada, sem dar os devidos créditos, acanhados que sejam. O prefeito segue o expediente do ”mito” em quem votou, que na maior cara de pau se apoderou da Transposição, como se tivesse feito 5% dela. Apoderou-se do residencial Cruzeiro, da Avenida 29 de Dezembro, etc, etc , onde fez “retoques finais” e elenca nas redes sociais como se fosse obras suas, junto de outros feitos extraordinários como realizar um baile de debutante. 

E o que dizer das pessoas da gestão azul, ou seja, do velho tempo, que o prefeito levou para “caiar” sua administração e apresentá-la como nova? E o que dizer dos vereadores oposicionistas, eleitos com discurso de combate aos taboquinhas, que agora estão lá, no mesmo lado do prefeito, simbolizando o ”novo tempo” e ocupando espaços administrativos, alguns até no mesmo cargo pelo qual foram vítimas da língua do “vereador”, como a esposa do parlamentar Gilson, acusada de “prevaricação”? E o ex-secretário de saúde que aceitou a “sub” da pasta comandada pela irmã do prefeito, a mesma que não utilizou uma emenda de meio milhão de reais, com o argumento de “falta de demanda” para a aquisição de um mamógrafo? 

E seguem uma série de exemplos que estão mais para o folclore político, do que para uma gestão minimamente competente, de uma cidade que é um colosso na produção roupas, estendendo sua prosperidade para toda uma região, que vive e sobrevive desse produto inicialmente chamado de sulanca.e hoje se encontra e vitrines de grandes lojas, com a mesma qualidade das “grifes”, mas com preços acessíveis.

Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.


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