Sem nenhum consideração política, sem nenhuma diplomacia, sem considerar que se tratava de dois quadros históricos do grupo Taboquinha e seu peso eleitoral refletido nas urnas, sem levar em conta a importância da união que houve em 2020 e, considerando a disputa apertada que venceu contra verdes e azuis e precisando dessa mesma união para 2024, o prefeito Fábio Aragão demitiu, com requintes de humilhação, o advogado Tallys Maia, da direção do PROCON municipal. Segundo o próprio Tallys, não lhe foi permitido sequer passar no órgão para recolher seus objetos pessoais e limpar as gavetas, como normalmente faz quem é substituído num cargo por contingências políticas e pessoais. Foi dispensado via telefone e por um auxiliar do prefeito. Primeiro, chamando-o para uma reunião e, minutos depois, uma nova ligação informando-lhe de que nem essa deferência básica da liturgia política ele iria ter.
Agora, três anos após ser reeleito, finalmente o prefeito Fábio resolveu receber José Augusto Maia para uma conversa sobre 2024. Conversa essa que era uma queixa constante do ex-prefeito e do seu filho Tallys em todas as entrevistas. Pode-se deduzir da demora desse encontro o pouco caso que o prefeito faz da força eleitoral de Zé Augusto ou que a antipatia pessoal embaça sua percepção sobre o perigo de uma candidatura do ex-prefeito no próximo ano. A conferir. Para completar o enredo, segundo a imprensa, o prefeito teria perguntado a Zé Augusto se ele teria interesse em se aproximar politicamente da gestão. Ao receber uma resposta positiva, o prefeito teria arrematado com um “vou pensar”. Nitidamente, o prefeito gostaria de disputar a reeleição sem a companhia da dupla de pai e filho. Desconsidera até o constrangimento que impõe ao vereador Augusto Maia. Vencendo sozinho, Fábio não teria uma segunda dívida política com Zé e ainda o liquidaria politicamente e ficaria quite com Eduardo da Fonte, que certamente pressionou o prefeito a despachar Tallys, depois dos heróicos 8.500 votos amealhados pelo ex-prefeito, “quase empatando” com a super-estrutura de Da Fonte.
Mas o prefeito Fábio deve ter ouvido ponderações dos seus aliados mais próximos e se dignou a conversar com Zé e considerar a possibilidade de integrá-lo politicamente à administração. Por que só agora, depois que o ex-prefeito declarou que será candidato? Receio do potencial eleitoral dele? Receio de que os grupos oposicionistas se fortaleçam? Acontece que a corda já foi bem esticada e a candidatura Zé Augusto saiu das fronteiras de Santa Cruz. Tornou-se uma demanda de Marília Arraes e do Solidariedade, que, segundo o próprio ex-prefeito, garantiram apoio na estrutura da campanha. O que Fábio poderia oferecer para justificar um recuo? Uma secretaria municipal? A direção de um órgão? Uma assessoria em algum gabinete da Alepe? Representar o município em Brasília? Muito pouco para o Zé que saiu das urnas em 2022 e que foi ignorado até agora.
Nas cenas dos próximos capítulos, veremos o valor do recibo que foi passado e assinado no encontro do ex com o atual. Saberemos do tamanho eleitoral do ex-prefeito, na sua própria mensuração e na régua do prefeito. Ao partir para uma candidatura, com os bons governos que fez, elegendo-se e reelegendo-se, fazendo o sucessor e posteriormente se consagrando como deputado federal, Zé Augusto se coloca no mesmo nível dos demais candidatos oposicionistas e é o único que pode defender o governo Lula sem melindrar o eleitorado bolsonarista. Quase metade do eleitorado local votou com o candidato da esquerda. Considerando as declarações de Tallys Maia e do próprio Zé, nas últimas manifestações públicas, a candidatura é fato consumado. Evidente que na política o “sim” de hoje pode ser um “não” amanhã. Como a decisão do ex-prefeito envolve também o destino político dos seus dois filhos, seus passos futuros se tornam dramáticos. E não menos dramática será a compensação política a ser oferecida pelo prefeito. Compensação essa que pode passar pela chapa majoritária. Com um filho na vice e outro na Câmara, Zé Augusto Maia terá como justificar sua desistência e irá apoiar a reeleição do prefeito Fábio devidamente valorizado e sem correr o risco de depois da eleição cair no ostracismo e na chanchada política.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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