Diz o ditado popular que “a esperança é a última que morre”, mas o sábio que cunhou essa máxima da tradição oral da humanidade, se tivesse acessado o blog do fofoqueiro de Afogados da Ingazeira, trocaria última por primeira, ou esperança por desesperança. João Campos deve confabular com sua Tábata, à noite, sobre a recente pesquisa eleitoral publicada no espaço virtual do Magno “Malta” Martins sobre o pleito municipal de outubro em Santa Cruz do Capibaribe ou parou em frente ao espelho e indagou: “espelho, espelho meu, existe algum pré-candidato mais favorito do que eu?”. Sim, respondeu o espelho, para espanto e tristeza do Nevado (Nublado, considerando o superávit que prometeu e o déficit que entregou).
Contabilizando os números da pesquisa do
instituto Opinião, o passeio do prefeito Fábio pelas urnas em busca da
reeleição será um voo de passarinho, tranquilo, sem caçadores à espreita, ou se
tiver, armados com uma soca-soca que mais espalha o chumbo do que acerta o
alvo. Não haveria outra expectativa, no grupo do prefeito ou no campo da
oposição, de um resultado que não mostrasse duas coisas: o prefeito como
favorito e à frente nos números, mas não na proporção captada pelo insuspeito
instituto de Campina Grande, em parceria com o conhecido jornalista, cujas
sondagens publicadas em seu blog sempre coincidem com o veredicto das urnas,
com uma pequena margem de erro de 95%. Mas o resultado, como dito acima,
superou até a expectativa em relação à reeleição do filho de Eduardo Campos em
Recife, que muita gente já vê tomando posse no governo do Estado em 2026.
Mas é evidente, tanto para o prefeito
quanto para aqueles que sonham com sua cadeira na rua Grande, que o resultado
da sondagem nem de longe vai se refletir nas urnas na proporção que a pesquisa
captou. No momento, o prefeito treina sozinho na pista e faz o melhor tempo,
mesmo que seu nome fosse Rubinho, Massa, Perez e outros jabutis da velocidade.
Claro que tem o melhor motor, a melhor equipe, o melhor orçamento, mas quando
os outros pilotos entrarem para treinar e para a largada no dia 6 de outubro, o
prefeito vai precisar de estratégias para não deixar que algum potencial dos
carros oposicionistas, ou oposicionista (se aquela peça fincada nas madrugadas
dos grupos de wattsapp for de fato o componente que sugeriu ser) roube-lhe o
lugar mais alto do pódio.
Com tamanho favoritismo, por que o
prefeito teve de engolir o sapão José Augusto Maia, por quem nutre tanto afeto
quanto o dispensado ao vereador Carlinhos da Cohab naquele episodio da entrega
do valioso feudo eleitoral ao vereador Flávio Pontes, a Malhada do Meio?
Molhado no meio das lágrimas ficou o vereador (não necessariamente de derrota,
mas de espanto com a reação do bom moço). Parece muito claro: o filho pródigo
Zé Augusto poderia lhe roubar dezenas de centenas de preciosos votos,
justamente do seu campo eleitoral. Se houver alguma dúvida, tem a candidatura
de Tallys Maia para dissipar. Portanto, acautelou-se o prefeito para não dar
chance ao imponderável e, de quebra, deu a José Augusto Maia o tão desejado
birô numa sala com ar condicionado, com cafezinho, secretária e internet para
assistir ao vivo os dois filhos se aparteando nos discursos da Câmara
Municipal.
Mas um componente alheio à pesquisa
pode fazê-la repetir nas urnas os números que Magno Martins jura serem
confiáveis: a divisão no campo oposicionista. A preço de hoje e considerando a
fraternidade com que os grupos oposicionistas se relacionam, teremos duas
candidaturas: uma do tradicional grupo Azul (hoje seria a ex-deputada
Alessandra Vieira) e outra “hospedada” no grupo Verde, juntando a fome (Robson)
com o medo de comer (Valmir). Dessa forma, quem já é favorito assiste de
camarote à divisão no campo oposicionista. Também houve divisão em 2020, mas
não se tratava de reeleição. Ficou claro ali que 65% do eleitorado não queria
nem o “Passarim”, nem o “Soldadim”. Um detalhe definiu o vencedor. Se houvesse
segundo turno, Alan I estaria no trono.
Os números são muito preliminares e vão
se acomodar quando ficarem mais claras as opções que o eleitorado vai ter para
escolher. O prefeito não carrega desaprovação pessoal ou da sua administração,
mas isso não lhe imuniza de desgastes que certamente virão do forte bombardeio
a que será exposto. Terá, obviamente, os números que considera positivos em sua
gestão, mas o ataque efetivo da oposição e a defesa efetiva do prefeito vão
depender significativamente do trabalho de marketing, aquele que torna mais
importante saber usar a arma do que seu calibre de fogo. E ver-se-á o tamanho
da influência de personagens nacionais como o ex-presidente Jair Bolsonaro, uma
berinjela que estará na mesa da oposição e congelada no freezer da situação.
Um personagem não poderá ser ignorado e
não é apenas por causa da sua conhecida força eleitoral, o deputado Eduardo da
Fonte. Por enquanto hiberna, mas já deixou suas pegadas. Também prometeu para
perto das convenções uma conversa com a imprensa, para passar a limpo o
rompimento das núpcias eleitorais que contraiu
com o então candidato Fábio Aragão em 2020. Além dos esclarecimentos, há
algo que ficará pendente até 5 de agosto: o deputado vai sucumbir à
possibilidade de duas candidaturas da oposição, consolidando assim o
favoritismo do prefeito ou agora que o Verde já era vai enfiar goela abaixo de
Robson uma indigesta melancia branca? Se não cumprir a promessa de dificultar a
vida do prefeito, Da Fonte será tão derrotado quanto os dois pré-candidatos que
vão desafiá-lo. Há disposição do grupo Azul para uma composição, inclusive sem
pré-condições (como Robson dizia: “não serei vice nem da minha mãe”), mas exige
um nome tão viável quanto o da ex-deputada Alessandra. Quem sabe um tertius. Na
cadeia alimentar eleitoral, Robson “jantou” os verdes, mas pode ser degustado
pelo chefão do PP até o dia 5 de agosto.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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