Sérgio Guerra era um político amado e odiado. Tinha uma personalidade difícil, compreensível para os poucos amigos que teve. Não assimilada, porém, por uma legião de adversários que fez ao longo da sua exitosa trajetória política. De líder da oposição na Assembleia nos anos 80, quando foi eleito deputado estadual, Guerra chegou rapidamente à cena nacional.
Era diferenciado pela Inteligência rara, raciocínio rápido, excelente frasista. Não era um político de massas, nem de ruas, mas de bastidores. No plano nacional, circulava fácil em todos os segmentos partidários. Era ouvido e respeitado. Arraes, a quem serviu como secretário e líder, tinha uma profunda admiração por ele.
Lula o distinguia entre os adversários. Fernando Henrique o considerava a cabeça pensante do PSDB. José Serra, de temperamento explosivo, tinha Guerra entre os seus conselheiros. No PT, Guerra também transitava fácil no plano nacional. Um dos seus mais fiéis interlocutores era o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante.
Mercadante, aliás, de vez em quando vinha a Pernambuco convidado por Guerra. O encontrei, aliás, em duas ocasiões em Limoeiro, apreciando os cavalos de montaria, uma das grandes paixões de Guerra, depois da política. O ex-deputado era um dos maiores criadores de cavalo de raça do País, premiado expositor nacional e internacional.
Mas não podia se dedicar à sua fazenda e suas criações porque o amor pela política era muito maior. Nos últimos anos, depois de o destino o ter alçado à presidência nacional do PSDB, Guerra era o mais destacado líder entre os tucanos nacionais. No Congresso, não enveredou pela oposição grotesca ao Governo do PT, mas inteligente e corajosa.
No plano estadual, o ex-deputado sonhou em disputar o Governo do Estado em 2006, mas Jarbas preferiu apostar em Mendonça Filho, nascendo daí os primeiros conflitos que os levaram a uma separação irreversível. Na campanha de 2010, quando Jarbas enfrentou Eduardo candidato à reeleição, Guerra foi acusado pelo então aliado de fazer corpo mole.
A derrota de Jarbas provocou uma contenda sem volta. Guerra morreu intrigado de Jarbas. Entre os políticos pernambucanos, o ex-deputado também construiu inimigos ferozes. A ex-deputada Cristina Tavares, respeitadíssima no campo da esquerda, chegou a produzir uma frase que se perpetuou para atacar Sérgio Guerra: “Uma inteligência rara a procura de um caráter”.
Guerra viu também o inferno pela frente quando teve seu nome envolvido no escândalo dos anões, pelo qual políticos manipulavam emendas parlamentes com o objetivo de desviarem o dinheiro através de entidades sociais fantasmas ou com a ajuda de empreiteiras. Guerra foi apenas citado, mas teve que depor e acabou inocentado pela brilhante defesa.
Por mais que tentem macular Guerra, ele, na verdade, era um político brilhante. Muitos temiam enfrentá-lo num debate cara a cara. Seu nome chegou ao escândalo dos anões porque, como congressista, sempre integrou a Comissão de Orçamento, pela qual ajudou Pernambuco. E muito!
Até governadores no campo da oposição, como Joaquim, ajudou a carrear recursos para o Estado, sendo, na era Jarbas, o senador que mais aprovou e conseguiu liberar emendas para o Estado. Guerra não tinha vida pessoal. Nas horas de lazer, seu refúgio era assistir lutas desses modernos boxeadores americanos, tendo ido diversas vezes aos Estados Unidos para isso. E apreciar seus cavalos em sua fazenda, em raros fins de semana em Limoeiro.
Apesar de viver cercado de políticos e correligionários em sua casa, Sérgio Guerra, na realidade, viveu, nos últimos anos, uma grande solidão. Após a separação de Neném Brennand, filha do escultor Francisco Brennand, Guerra construiu uma relação efêmera com Geórgia, com quem teve Serginho, um garoto de seis anos, seu grande xodó.
Guerra tinha uma saúde debilitada. Logo cedo, perdeu um rim. Há cinco anos, retirou parte do intestino, e em seguida tirou dois nódulos na cabeça e um no pulmão. Na véspera da eleição municipal de 2012, um sábado, estive na casa dele para uma entrevista, que acabou não sendo feita.
Já passando mal, Sérgio foi levado às pressas, por Caio Melo, um dos seus fiéis escudeiros, para o Hospital Santa Joana. “Tudo começou ali”, relembra Caio. Na verdade, o ex-deputado não votou no dia seguinte porque ficou três dias internado. De lá, foi direto para São Paulo, onde foram diagnosticados os tumores que roubaram a sua vida.
Escrito por Magno Martins |
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