O consagrado ator Ary Fontoura,
de 81 anos, já escreveu dois textos no Facebook, demonstrando decepção e
revolta com o resultado da eleição presidencial de 2014. Na segunda manifestação
do artistas, à véspera do Natal, ele simplesmente pede para Dilma “renunciar ao
PT”, a seu ver um partido estritamente ligado à corrupção e outras mazelas do
Brasil.
Confiram abaixo a carta do ator:
Abaixo
a Carta e Ary Fontoura e trechos da manifestação dos internautas:
Carta
à Presidente da República Federativa do Brasil - Dilma Rousseff:
Meu nome é Ary Fontoura, sou brasileiro, tenho 81 anos, e exerço
o ofício de ator. Acredito que, por também ser uma figura pública, Vossa
Excelência tenha assistido algum dos meus trabalhos, seja no teatro, no cinema,
ou na televisão. Visto que vivemos num país onde a liberdade de expressão é
primazia, venho solicitar, através desta carta, me utilizando desta rede
social, em nome de mais de duzentos milhões de brasileiros, a sua renúncia.
Esforço-me, contudo, em explicar o meu pedido e, antes, permita-me algumas
considerações.
Já vivi o bastante e ao longo de todos esses anos pude ver um
grande número de presidenciáveis que, desde a Proclamação da República, seja
por indicação direta das Forças Armadas, por movimentos revolucionários, por
Golpe Militar, ou por voto direto, governaram este país. Assim como a Senhora,
sobrevivi aos duros Anos de Chumbo e, confesso, fui um admirador dos
companheiros, cujos ideais socialistas lutaram contra o Regime Militar. Mas,
depois de todo esse tempo, ainda aguardo um grande Presidente para o nosso país.
E acrescento que continuaremos sem tê-lo, enquanto houver um "telefone
vermelho" entre Brasília e o Guarujá ou São Bernardo do Campo.
Em 24 de agosto de 1954, o Presidente Getúlio Vargas se matou em
seu quarto com um tiro no peito. Na carta-testamento ele registrou: "Eu
vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada temo. Serenamente dou o
primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na
história", preferindo o suicídio a se submeter à humilhação que os adversários
queriam com a sua renúncia.
Em 1961, o então Presidente Jânio Quadros, alegando "forças
ocultas", renunciou e disse: "Desejei um Brasil para os brasileiros,
afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os
interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos,
inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se
contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração".
No próximo dia 1º, Vossa Excelência subirá a Rampa do Planalto
em direção à governança. No entanto, a subida será solitária, ainda que
partidária e com bases aliadas. Mas saiba que duzentos milhões de brasileiros,
mais uma vez, subirão com a Senhora, na esperança de se desenvolverem como
cidadãos, e de ascenderem coletivamente num país melhor. Por isso, reforço o
meu pedido inicial de "renúncia".
Como chefe maior dessa Nação, como Presidente ou Presidenta,
renuncie à corrupção, aos corruptores, aos corrompíveis, aos corrompidos;
renuncie à roubalheira política, aos escândalos na Petrobras; renuncie à falta
de vergonha e aos salários elevados de muitos parlamentares; renuncie aos altos
cargos tomados por ladrões; renuncie ao silêncio e ao "eu não sabia";
renuncie aos Mensaleiros; renuncie ao apadrinhamento político, aos parasitas,
ao nepotismo; renuncie aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF;
renuncie à falta de planejamento, à economia estagnada; renuncie ao
assistencialismo social eleitoreiro; renuncie à falta de saúde pública, de
educação, de segurança (Unidade de Polícia Pacificadora não é orgulho para
ninguém); renuncie ao desemprego; renuncie à miséria, à pobreza e à fome;
renuncie aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se
necessário, renuncie ao PT.
Dizem que o Natal é uma época de trégua e que em Brasília a
guerra só recomeça depois do Ano Novo. Para entrar na história, porém, não será
necessário ser extremista como Getúlio e Jânio e renunciar a Presidência da
República, mas será necessário não renunciar ao seu país, ao seu povo. Governe
com os opositores, governe com autonomia. Faça o seu Natal ser particularmente
inspirador e se permita que a sua história futura seja coerente com o seu
passado, porque o brasileiro tem o coração cheio de sonhos e alma tomada de esperanças.
Votos de um Feliz Natal!
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