KENNEDY ALENCAR
SÃO PAULO
O organograma do governo Bolsonaro é confuso e enfraquece a área social. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, anunciou hoje o mapa ministerial da futura administração, que terá 22 pastas.
Ao acumular gestão de programas e articulação política, Onyx repete o erro de José Dirceu em 2003. A experiência mostra que é difícil exercer bem as duas funções.
A extinção do Ministério do Trabalho, com a divisão de suas tarefas por três pastas, é um retrocesso. Uma parte vai para a Justiça, outra para a Economia e uma terceira para a Cidadania. Uma conquista da Revolução de 30 caiu por terra num momento de fragilidade dos trabalhadores, que sofrem com alto desemprego.
A projeção de 350 deputados como base na Câmara é um chute. Não tem amparo nas negociações reais. Tanto que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, vai se reunir com bancadas partidárias nesta semana para tentar estabelecer pontes.
É baixa a chance de funcionar uma articulação congressual com base em acordos com frentes parlamentares de lobbies conservadores, como a bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia). Aliás, não existe relação com o Congresso sem algum tipo de negociação política.
Colocar a Funai (Fundação Nacional do Índio) sob a batuta do Ministério da Agricultura é outro equívoco. Esse não é um assunto fundiário, mas uma complexa dívida histórica da sociedade brasileira, com questões culturais, sociais e ambientais, entre outras.
Onyx disse que fará a reforma da Previdência com calma. Ora, não há estratégia clara para implementar essa reforma. O governo está perdido nesse tema. Não tem rumo claro. O mercado está refém de uma miragem.
De modo geral, foram dados sinais negativos numa transição mal aproveitada _sobretudo devido ao encolhimento da área social. Ministérios simplesmente sumiram.
Além de discurso de campanha, a prometida redução de ministérios a 15 pastas era uma confissão do despreparo a respeito de temas complicados. Ao ficar com 22 ministérios, Bolsonaro descumpre na largada uma promessa de campanha.
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Caminho errado
A reunião do G-20 na Argentina deixou evidente o desprestígio internacional do país e o risco de uma estratégia externa de alinhamento automático entre Brasília e Washington. EUA e China estabeleceram uma trégua que tende a prejudicar a venda de produtos brasileiros à potência asiática.
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