Em recente entrevista a uma emissora de Santa Cruz do Capibaribe, o vice-prefeito Gena Lins fez uma revelação, ouviu “a pergunta mais importante” e disparou um torpedo. A revelação: sentiu-se boicotado pela administração municipal tão logo as urnas confirmaram o bi do prefeito Lero. A pergunta mais importante: “a derrota de Diogo Morais não tirou de você a condição de se apresentar como pré-candidato do grupo Calabar”? (mais ou menos assim). O torpedo: segundo Gena, o orçamento do gabinete do prefeito seria maior do que o orçamento de secretarias e até da Câmara Municipal.
Penso que nessa entrevista o vice-prefeito riscou o chão, demarcou suas “reservas eleitorais”, atravessou o Rubicão, mergulhou num caminho sem volta. Surpreendeu porque até então adotava um tom diplomático como se alimentasse a esperança de ser ungido candidato da situação. Mas, com a companhia de novas lideranças políticas de oposição e, inclusive, de situação, como os vereadores Guilherme Cumaru e Demir, e a necessidade de se afirmar politicamente, Gena precisava se posicionar no quadro da disputa de 2024.
Voltemos a 2016. Todos nos lembramos das missas nas diversas igrejas do município. De um lado o grupo do então vice-prefeito Lero e do outro o grupo do então prefeito Evilásio. Imagine a situação do coração de São Pedro vendo “seus filhos” amuados e “intrigados politicamente”, dividindo, não o pão, mas as antipatias. Gena e Evilásio “cozinharam” a candidatura Lero até os segundos finais do prazo eleitoral.
Pulemos para 2020, momento em que o vice se disse boicotado. Seria finalmente o prefeito Lero dando seu grito de liberdade, depois de passar quatro anos engolindo sapos, aguentando situações para não comprometer sua reeleição? Se sim, o mesmo se deu com Evilásio, que não foi o mesmo a partir do momento em que se reelegeu. Isso não quer dizer que ambos estavam errados. È da política. No caderninho de Lero deve ter ficado registrada a fritura de 2016.
E o último capítulo da novela: nas eleições passadas, o vice-prefeito resolveu apoiar o delegado Lessa para deputado estadual, deixando de lado a candidatura do ex-deputado Diogo Morais. È comum num grupo político a divisão de apoios, fruto de compromissos anteriores. Mas, com a derrota de Diogo por falta de míseros 79 votos, quando o delegado Lessa passou de 2 mil, não tem como não carimbar na testa de Gena a suplência de Diogo. Como falei em ocasiões anteriores, não vem ao caso aqui quem tem ou não razão. Quando os atores políticos se explicarem com clareza, deixaremos de “testar hipóteses”.
Pelo exposto acima e considerando o “risco” que Gena fez no chão eleitoral, certamente não será o candidato Calabar. Se já reclamava de escanteio em 2020, como conseguiria o “sim” do grupo em 2024 e, principalmente, o “sim” de Diogo Morais, que aparentemente continua prestigiado pelo prefeito Lero? E pior, com a revelação do “orçamento secreto” do gabinete do prefeito, com que cara os dois, titular e vice fumariam o cachimbo da paz? Parece difícil.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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