Na recente eleição para a presidência da Câmara Municipal de Santa Cruz do Capibaribe, o vereador Zeba Climério, do grupo Verde, levou a melhor e se elegeu para comandar o legislativo municipal. Este grupo se apresentou nas disputas de 2020 e 2022 como um colegiado político casto, imaculado, que não pratica a "velha política" do compadrio, da troca de favores e por aí vai. Mas, num parlamento com dezessete vereadores, como é que uma bancada de cinco elege o presidente? Com o "velho" remédio que a "nova política" abomina, mesmo que apenas diante da plateia: com pragmatismo.
Segundo o presidente Zeba, numa entrevista também recente, o ex-prefeito Edson Vieira teria dado sinal verde (que ironia) para descarregar os votos azuis em favor dele, Zeba, e assim impor ao prefeito da ala encarnada, uma derrota política no legislativo. Uma derrota fácil de ser aplicada. Difícil é compreender como a castidade do grupo Verde aceitou o apoio da "velha política" do grupo Azul. Esse "truque" eleitoral, essa sinfonia de guia eleitoral chamada "Nova Política" se dissolve tão logo a perspectiva de poder raia no horizonte. O grupo do empresário Alan Carneiro tinha dois caminhos: manter-se casto e autêntico ou lambuzar-se um pouquinho no mel de uruçu da negociação política com gente que está lá na Câmara Municipal, legitimada pelo voto popular. E é com essa gente que a conversa tem de se dar. E se deu.
Tudo isso para lembrarmos a entrevista de um expoente verde, o empresário Valmir Ribeiro, descartando uma chapa eleitoral Verde-Azul para abreviar a hospedagem do prefeito Fábio Aragão no governo municipal. Aliança com Edson, Alessandra, Joselito?? Nem pensar, é a "velha política". Mais diplomático, também recentemente, o presidente Zeba se pronunciou sobre um entendimento com o grupo do ex-prefeito Edson Vieira. Falou o que se pode falar em público (a negociação sempre se dá nos bastidores, mesmo que no convento verde), disse que os verdes têm de ocupar a cabeça da chapa (compreensível). Uma fala conciliadora, uma fala que não fecha portas, uma fala que reconhece a legitimidade de quem tem voto. Aliás, um "recado" aos azuis: a gente se junta, fica com a cabeça da chapa e vocês na vice com um nome leve, politicamente apresentável ao público e à castidade interna alanista.
A eleição da Câmara Municipal foi um indicativo claro de que os azuis querem conversa e que estão dispostos a ficar com a vice (conclusão minha) e que até cedem uma de suas estrelas, a ex-candidata a vice- governadora Alessandra Vieira, para o mesmo papel no pleito de 2024. Uma aliança estratégica para impedir que o prefeito Fábio conquiste um segundo mandato, objetivo comum dos dois grupos oposicionistas e, considerando os resultados eleitorais de 2020 e 2022, também do eleitorado. Os "Taboquinhas" venceram por um triz, venceram porque a oposição se apresentou dividida. A matemática eleitoral prova isso. E ainda têm uma "pedra no sapato": que rumo José Augusto Maia tomará em 2024?
A equação a ser resolvida pelos atores políticos da oposição, principalmente da oposição verde, é se vão partir novamente, cada um, para um projeto solo, arriscado, facilitando a vida do prefeito, ou se é possível fazer como o presidente Zeba fez, "cedeu os anéis" (negociou com os azuis) para “ficar com os dedos” (o comando estratégico da Câmara Municipal). Diante do público, nenhum constrangimento político e, para a plateia que acompanha a política, uma jogada inteligente para sentar na cadeira que decide a pauta. O famoso empréstimo está aí, para corroborar.
O prefeito de Santa Cruz, claro, torce pela desunião, torce para que 2020 se repita e a "minoria" vença, como foi o caso dele. Eleição sem segundo turno, muitas vezes, o vencedor não tem a maioria do eleitorado. Caso houvesse uma segunda disputa num cenário como o de 2020, o prefeito de Santa Cruz hoje seria o empresário Alan Carneiro porque a maioria não queria eleger Fábio Aragão. A disputa estadual de 2022 mostrou mais uma vez que ele não tem a maioria do eleitorado santacruzense. Se os verdes quiserem briga com os azuis, os vermelhos agradecem e ficam no camarote vendo a troca de "bufetes".
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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