O apertado resultado final da eleição de prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, em 2020, demonstrou claramente que 65% do eleitorado santacruzense não queria a vitória de um candidato Taboquinha. Fosse uma disputa com dois turnos, dificilmente Fábio Aragão seria hoje o prefeito da Terra da Sulanca. Uma soma de fatores deu a ele a cadeira de prefeito da cidade símbolo do pólo de confecções. Assim como Raquel (com o esposo) e Paulo Câmara (com Eduardo Campos), a comoção pela partida trágica do seu pai foi um desses fatores. Antes, porém, o torniquete imposto por Paulo Câmara ao PSB local, sob o comando do então deputado Diogo Morais, foi outro fator decisivo. O próprio Diogo revelou, no início de 2020, que seria o candidato do PSB a prefeito. Posteriormente passou a ser o então vereador Helinho Aragão, também “garantido” pelo PSB. Enquanto isso, por baixo dos panos, Paulo Câmara dava a Eduardo da Fonte a promessa de que os socialistas não teriam candidato. Deixou Diogo falando e Helinho sonhando, enquanto o esperto Da Fonte esfregava as mãos. Finalmente o surgimento de uma terceira candidatura, a dos Verdes, com Alan Carneiro, dividindo o eleitorado anti-Taboquinha, operou o milagre que elegeu o filho do seu Fernando Aragão para o lugar que o veterano vereador tanto almejara.
Ou seja, se Diogo tivesse conseguido bancar a candidatura de Helinho Aragão, o insípido Fábio Aragão seria agora tão somente ex-candidato a prefeito, estando o município sob o comando do empresário Alan Carneiro. Mesmo que uma candidatura Helinho se transformasse num vexame nas urnas, ainda assim tiraria preciosos votos do candidato imposto por Eduardo Da Fonte. Isso mostra o tamanho da dívida de gratidão que o prefeito e seu partido deveriam ter com o PSB e com o filho do ex-deputado Ozeas Morais. Terminada a eleição estadual de 2022, o deputado Eduardo da Fonte está agora, junto com a governadora Raquel Lyra, costurando pesado para que o deputado socialista Rodrigo Novaes não se eleja para conselheiro do TCE, garantindo, consequentemente, a efetivação de Diogo como deputado estadual. Já apareceu na imprensa uma suposta disposição da governadora de abrir a caixa de pandora das nomeações, para garantir a vitória do deputado Joaquim Lyra. Só em se colocar frontalmente contra o candidato do presidente da Assembleia, Raquel já sinaliza o tamanho da disposição e o jogo pesado das articulações.
O resultado final não apontará simplesmente um vencedor e um perdedor. Terá, obviamente, consequências políticas agora e nas eleições de 2026. Haverá certamente um choque entre a governadora e o presidente da Assembleia. Mas deverá ter desdobramentos no âmbito municipal para a disputa do ano que vem. Caso se efetive como deputado estadual, com a vitória de Rodrigo Novais, considerado favorito, Diogo certamente refletirá sobre a atitude do deputado Eduardo Da Fonte e, claro, sobre o bico fechado do prefeito Fábio Aragão. O chefão do PP trabalhando abertamente contra o socialista e o prefeito caladinho, endossando as articulações do seu líder. Aliás, parece ser uma especialidade do prefeito fechar o bico diante de situações que exigem coragem de um gestor. Foi assim na disputa presidencial, não disse em quem votaria, foi assim na troca de golpes entre o vereador Carlinhos e o gerente de turismo do município, Natálio Arruda.
Uma vez investido na condição de deputado estadual efetivo, dono de um gabinete fixo na ALEPE, com a rasteira de Eduardo da Fonte e o silêncio do prefeito Fábio, não poderia o deputado Diogo tomar um novo rumo nas eleições do ano que vem? “Fumaça” já há em grupos de mensagens. O PSB vai trabalhar para reeleger um prefeito que estará no palanque adversário em 2026, fortalecendo Eduardo da Fonte e, consequentemente, Raquel Lyra? Não há como assimilar o movimento do presidente do PP. A eleição de conselheiro do TCE não tem caráter partidário. Joaquim Lira não é do PP, sua eleição não beneficia os progressistas. Pelo apoio que recebeu em 2020, o mais lógico seria pelo menos uma neutralidade de Eduardo da Fonte, já que é o mandato do supostamente aliado Diogo Morais que está em questão.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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