Nas entrevistas que costuma conceder, diante das perguntas sobre candidatura à prefeitura de Santa Cruz ou aliança com oposicionistas, o ex-prefeito costuma responder com a frase acima, uma espécie de ungüento para lhe socorrer, momentaneamente, das dores do dilema político em que vive e que não chegou nem perto da sua fase mais aguda, quando não terá mais a opção de desconversar politicamente. E o dilema não é só político, mas também familiar, dando contornos dramáticos à decisão que precisará tomar.
Certamente mais dramática do que aquela ocasião em que viu seus dois filhos lutando pela mesma vaga. A política de Santa Cruz do Capibaribe pode ter um pai e um filho de um lado e mais um filho do outro. Como seria a campanha com Zé Augusto e Tales Maia expondo as fragilidades administrativas do prefeito Fábio Aragão e o filho Augusto fazendo o contrário? Em que tom dar-se-ia o combate entre defesa e ataque? E se o nervosismo da campanha romper a blindagem familiar, deixando mais do que os arranhões da campanha passada? Aí é que reside o drama do cuidadoso pai, que, na última entrevista à rádio Filadelfia, deixou bem claro não querer prejudicar a caminhada do filho aliado do prefeito Fábio, cuja agenda ainda não dispensou cinco minutos para uma conversa com quem será decisivo para sua reeleição e que demitiu da gestão, o outro filho de Zé, Tales Maia, da forma humilhante e desrespeitosa como ocorreu.
O ex-prefeito tem a consciência do seu tamanho na próxima eleição. Carrega na bagagem o inédito mandato de deputado federal conquistado por um filho da cidade. Some-se a isso a excelente performance da disputa de 2022, quando, na condição de “Dom Quixote”, amealhou cerca de 8.300 votos, sem recursos, sem apoios, numa campanha solitária e franciscana. Comparemos com os 10.000 votos do poderoso Eduardo Da Fonte, apoiado pela máquina da prefeitura e veremos o valor político da votação de Zé Augusto.
O ex-prefeito não fecha nenhuma porta, ou seja, admite todas as possibilidades, como se aliar a outros grupos oposicionistas, mas é perceptível nas suas falas o tom de ceticismo quando se trata da possibilidade de apoiar a reeleição do atual prefeito. Como dito anteriormente, Fábio nunca dispensou um minuto de atenção a Zé, mesmo vencendo da forma apertada que venceu, com o voto contrário de 65% da população. Tamanho deslize político não se justifica, mesmo que o prefeito fosse o filho da Dona Florinda. Então, resta, como justificativa, aquele sentimento que se abriga no coração, que tem vários nomes, um dos quais, com quatro letras, conforme verbalizou certa vez uma ex-liderança taboquinha. Se houver uma conversa agora, como deseja Toinho do Pará, será por pura conveniência do prefeito e não pelo importância política de José Augusto Maia. O “bom moço”, de salto alto, deve apostar que Augusto seja uma trava para impedir o que pior lhe poderia acontecer na próxima campanha: uma candidatura majoritária do criador do grupo Taboquinha. Rompendo o dilema, Zé não perde nada politicamente, arrisca ser um azarão e, de quebra, desemprega o triunvirato familiar: filho, mãe e irmã.
Gisonaldo Grangeiro, "cearense" de Pernambuco, agrestino do Polo, professor efetivo da Rede Estadual de Educação do Estado do Ceará e da Rede Municipal de Educação de Fortaleza.
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