A internet, como todo mundo sabe, embora uma ferramenta da modernidade, é um verdadeiro território sem lei, como cidade de faroeste americano.
Nas tais redes sociais, blogs e sites, todo mundo é atacado: o papa, o jogador de futebol, o político, o ator, o cantor ou cantora, e quem se atreve a escrever diariamente e divulga seus textos no mundo digital.
Pelo menos três vezes já fui acusado de etarismo, que é o preconceito contra a idade, as pessoas mais velhas.
Uma já faz algum tempo. Foi na campanha de 2020 em Garanhuns, porque numa matéria citava a idade do candidato Silvino Andrade, que tinha na época, salvo engano, 74 anos.
Uns dois meses atrás elogiei a Xuxa Meneghel, pelo amadurecimento dela, pelo posicionamento que ela tem adotado, nos últimos tempos, no campo político e social.
Cometi, porém, o pecado de dizer que a apresentadora não tem a mesma beleza de quando tinha entre 18 e 20 anos.
Alguns vieram com "quatro pedras na mão" me acusando do tal de etarismo.
Ora, eu não disse que Xuxa era feia, apenas registrei minha opinião pessoal de que ela era linda quando iniciou a carreira e agora, aos 60 anos, não tem a mesma beleza de antes.
Isso não é preconceito, é uma constatação do que o tempo faz com as pessoas. A Xuxa ainda é bonita, sim, mas ninguém me convence de que ela é tão exuberante quanto 20 anos atrás.
Sophia Loren, italiana, já foi uma das morenas mais bonitas do mundo. Agora, aos 86/87 anos você não pode exigir que ela seja a mesma.
Mesma coisa se diga de Brigite Bardot, francesa. Tinha beleza inacreditável. Hoje está irreconhecível.
Jane Fonda, americana, era uma graça. Ainda mantém uma parte da beleza de outrora, porém seria exagero dizer que está do mesmo jeito.
O mesmo acontece com os homens. Cito dois exemplos: Veja uma foto de Robert Redford ou de Tiago Lacerda 20 anos atrás e veja como eles estão hoje.
Até aqui constato isso, pois tenho dois ou três espelhos pela casa. Nunca fui bonito, como esses galãs de cinema, mas lembro que aos 11 anos me achavam um garotinho gracioso e hoje só uma maluca ou maluco vê traços de beleza em mim.
Minha mulher, Tereza, aos 21 anos, quando a conheci, era danada de bonita, magrinha, olhos verdes, me deixava tonto quando a olhava.
Hoje está gordinha, tem rugas, cabelos brancos e ar de preocupação.
Aceito o tempo dela e o meu, não a amo menos porque a idade deixou suas marcas. Acredito que ela também gosta de mim como estou agora.
É que não somos somente corpo, rosto, olhos, bocas, dentes.
Temos alma, pensamentos, desejos, coração, atitudes, e isso, muitas vezes, importa mais do que a beleza física, normalmente atacada pelo que passamos em décadas de vida.
Apesar de ter 66 anos, mãe com 91 anos, completado neste último sábado, continuam me apontando o dedo, criticando, pelo meu etarismo.
Foi que ontem postei no Instagram um vídeo do deputado Izaías Régis dançando todo animado, ao som de uma música de sabor nordestino.
Interpretei como uma jogada de marketing, de quem o assessora, para passar uma imagem de jovialidade, simpatia e de político popular.
Alguns não gostaram, principalmente porque informei que no próximo ano o ex-prefeito vai completar 70 anos.
É etarismo dizer que Roberto Carlos tem 82 anos? Que Chico Buarque chegou aos 80? Tenho preconceito contra mim mesmo porque a cada aniversário informo: estou completando 65, 65, 66...?
Votei em Arraes já sessentão para governador de Pernambuco. Votei em Lula para presidente o ano passado, sabendo que ele estava com 77 anos.
Existem jovens velhos, como se sabe. E velhos jovens.
Alceu Valença escreveu uma vez que está sempre com 18 anos (completou 77) porque não resiste as mudanças, sabe se adaptar ao que vai surgindo.
Agora, o que não se pode é esconder a idade, tentar passar por jovem sem ser, usar de artifícios para não deixar aparecer as marcas que o tempo deixou.
Particularmente gosto dos meus cabelos brancos, das minhas rugas, dos meus olhos às vezes preocupados.
São o que sou agora, porque já vivi seis décadas e meia e Deus me permita que ainda passe um bom tempo por aqui.
Com encantamento pela beleza dos jovens e admirando a sabedoria dos mais velhos.
Termino com uma estrofe da música da chilena Violeta Parra, eternizada nas vozes da argentina Mercedes Sosa e da brasileira Elis Regina.
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo.
*Ilustração: Violeta Parra (Valor Econômico)
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